A tendência dos supermercados com um conceito premium chegou para ficar — e até mesmo grandes redes varejistas começaram a investir fortemente neste formato. São lojas com uma variedade maior de produtos nacionais e importados, prateleiras mais baixas e atendimento personalizado – não é difícil encontrar um sommelier de prontidão para recomendar o vinho perfeito para o jantar.
É o que especialistas chamam de “experiência de compra”, um costume que começou a tomar forma há pelo menos quatro anos e se intensificou a partir de 2018, com a retomada da economia pós-crise. Uma pesquisa divulgada no mês passado pela Nielsen Consultoria, feita a pedido da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), apontou que os consumidores estão em busca de produtos das linhas premium das marcas voltadas à saudabilidade, com preferência para lojas menores de fácil acesso aos produtos.
Este movimento significou um crescimento de 3,5% na preferência dos clientes nos últimos dois anos, sendo 1,2% no apanhado de janeiro a novembro de 2019. Para se ter uma ideia, os hipermercados já amargaram uma retração de 5,5% nas vendas apenas neste ano, o que tem mudado as estratégias de bandeiras como Pão de Açúcar, Super Muffato, Festval e mais recentemente a paranaense Condor.
“Existe uma mudança grande de alimentação acontecendo no mundo que está chegando ao Brasil, com uma consciência em busca de alimentos de maior qualidade e o hábito de cozinhá-los em casa. Com a massificação destes produtos, os custos também estão se tornando mais acessíveis, principalmente para as classes C e C+”, explica Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo.
‘Gourmetização’
Empresário do ramo supermercadista há 45 anos, Pedro Joanir Zonta, presidente do Condor, diz que esta é uma das principais revoluções do setor, com uma mudança considerável de hábitos do consumidor. Conhecido pela forte atuação junto às classes C, D e E, ele viu que precisava repensar o modelo de negócios da rede, e inaugurou nesta semana a primeira loja premium em uma capital.
“Já acompanhava essa tendência desde antes da crise econômica de 2016, com a abertura de lojas diferenciadas em São Paulo e Minas Gerais. Depois veio a recessão, e agora as pessoas estão voltando a comprar e a consumir, mas querendo ambientes mais práticos e com maior variedade de produtos”, explica o empresário que transformou uma das primeiras lojas do Condor em Curitiba, no bairro do Ahú, neste formato gourmet.
A remodelação da loja para este novo formato custou R$ 3 milhões, com a instalação do novo mobiliário e a substituição de produtos, retirando toda a parte de bazar. A ideia de Zonta é abrir pelo menos mais três unidades semelhantes em Curitiba — a princípio em novos pontos, não substituindo operações que já existem.
“Diferente da loja do Ahú, as outras unidades do Condor não comportam este formato gourmet. Este conceito é aplicável somente a mercados menores, não tem como pegarmos uma estrutura de cinco mil metros quadrados e transformarmos nisso. Então a ideia é construir novas lojas, mas ainda são apenas planos”, conta.
A nova loja da rede é a segunda no formato gourmet. A primeira foi aberta em julho na cidade de Ponta Grossa (a 116 quilômetros de Curitiba) como um teste para a aceitação do público.
Mix nacional e importado
A nova loja gourmet do Condor tem mais de 13 mil itens nacionais e importados, alguns deles disponíveis apenas na unidade. Entre os produtos exclusivos estão alguns dos mais de 700 rótulos de vinhos disponíveis na adega, com importações próprias de vinícolas da Europa e América do Sul, como o italiano Appassionante (R$ 56,90) ou o espanhol Antaño (R$ 38,90). Outra exclusividade desta loja é a linha de cortes de Angus a partir de R$ 15,92 o quilo.
Na parte de panificadora e confeitaria, a massa dos pães fermenta naturalmente de 18 a 40 horas, e custa em torno de 20% a mais do que os preparos comuns. Há variedades como italiano, baguete com nozes e australiano a partir de R$ 6 a unidade. E os bolos são preparados com ingredientes da linha Nestlé Professional a R$ 47,50 o quilo.
Além da nova loja do Condor, as outras bandeiras presentes em Curitiba já somam sete unidades gourmets, principalmente em bairros de classe média-alta e uma operação em shopping center.
Fonte: Gazeta do Povo