Aos 38 anos, o carioca Rony Meisler já conquistou um espaço respeitável na galeria dos grandes empreendedores do País. A grife Reserva, criada por ele ao lado do amigo e sócio Fernando Sigal, está há 13 temporadas com avanços consecutivos no lucro líquido e deve registrar um faturamento de R$ 400 milhões este ano. O segredo para o desempenho notável foi seguir as dicas do pai, Luiz Meisler, vice-presidente da Oracle para América Latina: dar um passo de cada vez. Assim, largou o cargo de engenheiro de produção da consultoria Accenture para enveredar no empreendedorismo. Com apenas R$ 6 mil em mãos, Rony Meisler e Sigal resolveram apostar todas as fichas em desenvolver uma estratégia de expansão com lojistas multimarcas, em vez de inaugurar lojas desde o início. “Foi uma decisão estratégica e a melhor que nós tomamos na nossa história”, diz Meisler. Os anos se passaram e a empresa se tornou uma gigante. Hoje, são mais de 2 mil funcionários e 120 pontos de venda espalhados pelo Brasil, com atuação diversificada, mas sempre voltada às classes A e B.
A intenção de Meisler é atender a todas as tribos. Além da bandeira principal, que já tem 90 unidades – 30 delas são franquias –, também há a Reserva Mini, lançada em 2010, que é voltada ao público infantil; a Eva, que atende o público feminino desde 2012; a Ahlma, criada em 2017 e voltada a jovens de 18 a 24 anos; e a Oficina, lançada em 2018, em parceria com uma startup de Minas Gerais, que faz camisas sociais sob medida. Todas elas devem passar por um momento de expansão mais acelerada nos próximos anos. “Abrimos a primeira loja da Oficina em São Paulo. Estamos em expansão nacional”, diz Meisler. “Na primeira semana de dezembro, também vamos inaugurar uma unidade da Eva na Rua Oscar Freire”. A intenção do empreendedor é inaugurar de 5 a 10 lojas das duas bandeiras por ano até 2022. Outra rede que deve retomar a expansão nos próximos anos é a Reserva Mini, que passou por um momento de reformulação e hoje tem uma equipe de profissionais que se dedicam exclusivamente à sua gestão, marketing e desenvolvimento de produtos.“Nós passamos esses dois últimos anos montando essa operação. Agora, vamos voar, porque a Reserva Mini tem uma venda por metro quadrado fabulosa”, afirma.
Todo esse guarda-chuva que foi se formando nos últimos anos passou a ter um nome recentemente: TechStyle. Soa como ‘textile’ (têxtil, em inglês), mas há menção ao ‘tech’, de tecnologia. Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a diversificação dentro do mesmo público-alvo é algo crucial para o sucesso do grupo, mas essa expansão tem de ser cuidadosa. “Toda diversificação traz complexidades, mas é correta no caso da Reserva. Apesar de ser uma potência e ter construído uma boa força de marca, a empresa tem um potencial limitado em relação a concorrentes como Renner, C&A e Riachuelo”, afirma.
Segundo Meisler, a Reserva respira inovação. Mas toda essa infraestrutura tecnológica ainda não é vista pelos clientes. Para agilizar processos, a empresa desenvolveu um sistema de WMS (Warehouse Management System) próprio, que permite gerenciar o estoque de forma mais ágil. Assim, a marca consegue trabalhar os produtos nos estoques de cada loja, de acordo com a tendência de vendas, minimizando os riscos. “Nós temos uma visão logística muito disruptiva para o Brasil”, diz Meisler. Outra ação que demonstra o esforço tecnológico da grife é o Reservado, uma caixa de produtos selecionados por meio de inteligência artificial, com entrega em domicílio. O cliente experimenta com calma e escolhe o que quer. No momento da retirada, o motoboy cobra as compras no cartão de crédito e recolhe os itens que não foram escolhidos. “Esse programa já representa 27% da venda de todas as lojas”, afirma Meisler. São mais de 800 mil clientes ativos no Reservado em todo o Brasil.
Agora, o desafio é outro. Meisler mapeia uma expansão internacional, que será iniciada pelos Estados Unidos. Para o futuro, a empresa pretende realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) para captar recursos para investimentos em inovação. “O nosso consumidor está entrando na Bolsa. Ele sempre nos privilegiou”, diz Meisler. O empreendedor ainda afirma que a empresa sofre assédio de fundos de investimento, mas não cai em tentação. “O assédio sempre aconteceu, mas não faz muito sentido para nós. Hoje, o negócio anda com as próprias pernas”, afirma. Atualmente, a Joá Investimentos, do apresentador Luciano Huck, detém 10% do grupo e a gestora de recursos carioca Dynamo detém pouco mais de 20%. Esses são sinais de que o pica-pau, mascote da empresa, quer voar mais alto.
Fonte: IstoÉ Dinheiro