A Renner vai investir R$ 600 milhões, em três anos, em seu terceiro centro de distribuição no país, que será construído em Cabreúva, no interior de São Paulo. O empreendimento, de 150 mil m2, dobrará a capacidade de armazenamento da varejista de moda e deve entrar em operação em 2022. Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da rede, Laurence Gomes, os recursos virão da geração de caixa da companhia.
O contrato para construção do armazém foi fechado no meio do ano com um fundo operado pelo Kinea. O projeto é feito pelo parceiro, com as especificações determinadas pela varejista, que depois pagará aluguel pelo uso do imóvel. A operação será totalmente automatizada, tendo como referência um centro de distribuição da concorrente espanhola Zara na Holanda.
O complexo estará preparado para atender a operação multicanal da Renner, disse o executivo, integrando sua rede de lojas físicas ao comércio eletrônico. Após a inauguração, o centro de distribuição em Santa Catarina será dedicado à região Sul do país e às operações no Uruguai e na Argentina. Um outro armazém já funciona no Rio de Janeiro.
No terceiro trimestre deste ano, a varejista registrou crescimento de 8,3% nas vendas “mesmas lojas”, que considera as unidades abertas há mais de 12 meses. Há um ano, o indicador havia crescido 6,9%. “O avanço foi bem acima da inflação. As vendas da Renner ficaram acima dos indicadores de vendas no varejo em todos os meses do trimestre”, afirmou.
Gomes ressaltou que a varejista encerrou setembro com estoque “enxuto”, apenas 2,8% maior quando comparado com o mesmo período de 2018. “Isso possibilitou iniciarmos o quarto trimestre com o estoque bem ajustado.”
Segundo ele, as temperaturas mais baixas em julho favoreceram a venda de roupas mais pesadas, deixando as lojas bem preparadas para a entrada da nova coleção.
Neste quarto trimestre, o clima não tem contribuído tanto. Em algumas regiões, acrescentou Gomes, a temperatura não subiu como o esperado, principalmente no Sul e no Sudeste. “Mesmo assim, a coleção está sendo bem aceita [pelo consumidor]. O varejo de moda precisa ter flexibilidade em relação ao clima. As operações estão com nível de produtividade satisfatório”, disse.
Questionado sobre os efeitos da liberação, a partir de setembro, de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) sobre a demanda, o executivo afirmou que a Renner ainda “não sentiu efeito algum”. “Acreditamos que o efeito não será relevante, mas torcemos que a confiança do consumidor vai melhorar. Teremos um cenário mais favorável. As perspectivas para o quarto trimestre são boas.”
De julho a setembro, a Renner elevou em 14,5% sua receita operacional líquida, para R$ 2,2 bilhões. Já o lucro líquido caiu 2,6%, para R$ 189,3 milhões. É o segundo trimestre consecutivo de recuo na última linha do balanço. Assim como nos três meses anteriores, houve impacto de itens não recorrentes, como a adoção da norma contábil IFRS 16, que trata do arrendamento mercantil. Houve também alta na provisão do programa de participação nos resultados, de R$ 14,3 milhões, além de um ganho de R$ 17,4 milhões, há um ano, com decisão judicial sobre a dedução fiscal do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).
Sem considerar a adoção do IFRS 16, o lucro líquido da varejista teria sido de R$ 196,9 milhões, aumento de 1,4%. Excluindo o efeito da dedução fiscal do PAT e os itens não recorrentes que interferiram no resultado operacional, a última linha do balanço teria crescido 24,6%, segundo a companhia.
No quarto trimestre, a Renner pretende acelerar a expansão de suas lojas no exterior. Gomes disse que serão abertas as quatro primeiras unidades na Argentina em dezembro, e outras duas no Uruguai, onde a operação começou em 2017 e funcionam sete pontos de venda.
“As lojas argentinas estão quase prontas. Já estamos exportando os produtos”, afirmou. Sobre a crise econômica e as eleições presidenciais, o diretor afirmou que acompanha os desdobramentos da eleição e primeiras medidas [do governo eleito]”.
O executivo ressaltou que a varejista já sabia do risco de um governo mais a esquerda voltar ao poder. “A decisão da empresa de investir na Argentina é de longo prazo e tem como base o grande mercado consumidor que, na nossa opinião, não é bem atendido.”
Fonte: Valor Econômico