A varejista de material de construção BR Home Centers, dona das redes Casa Show e TendTudo, teve ontem aceito o seu pedido de recuperação judicial pela 4a Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Controlada pela gestora brasileira Leblon Equities e pela família Aguinaga, a empresa, que chegou a ter 26 lojas no país, soma hoje 14 pontos e tem faturado 60% da sua receita anual, apurou o Valor.
As dívidas totais atingem R$ 253,6 milhões, sendo 90% com fornecedores. O prejuízo do primeiro semestre atingiu entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões, segundo duas fontes. Há nove unidades da Casa Show e cinco TendTudo na Bahia, no Rio de Janeiro e interior de São Paulo. A empresa foi criada em 2010.
No pedido encaminhado à Justiça no dia 13, a companhia menciona fatores macroeconômicos como responsáveis pela crise que enfrenta, mas fontes dizem que determinadas ações tomadas pela empresa também não tiverbam o impacto esperado.
“Diante da retração econômica e consequente desemprego e queda do poder aquisitivo, as [redes] se viram em dificuldades e acabaram por optar pela alternativa legal da recuperação judicial”, informa no processo.
Há fatos recentes que explicam melhor o contexto em torno da decisão da rede. Em 2017, quando a receita líquida subiu 5%, atingindo R$ 720 milhões, a empresa conseguiu gerar maior fluxo de caixa e estendeu prazos de pagamentos a fornecedores, liberando mais recursos para reduzir alavancagem junto aos bancos. No ano seguinte, houve piora nas vendas — a receita caiu 12% em 2018 —, e a empresa passou a focar a operação num conjunto de produtos responsáveis por 85% do faturamento.
Vendas e margens, porém, não reagiram, passou a haver atrasos em pagamentos a fabricantes e a ruptura nas lojas (falta de mercadorias) chegou a 40% no ano passado, apurou o Valor. O prejuízo de 2018 alcançou R$ 33 milhões, ante o lucro de R$ 71 mil em 2017.
Em março, já mais pressionada por bancos e fornecedores, a empresa contratou Enéas Pestana, da Enéas Pestana & Associados e ex-CEO do GPA, para a presidência. Um novo projeto começou a ser costurado, com um plano focado numa espécie de modelo de consignação. Testes foram feitos, com apoio da indústria, mas Pestana deixou o grupo no fim de agosto, após discordâncias sobre a condução do negócio.
A saída ocorreu forma consensual. Por meio de fundo, a Leblon tem 50% da companhia e a família Aguinaga , outros 50%. A família Sendas, que fundou a Casa Show, é acionista indireta.
Há outro fator mencionado pela empresa, em seu pedido na Justiça, que teria acelerado a crise na rede. A companhia menciona que o Banco Safra decidiu bloquear os recebíveis “em valor equivalente a 100% do saldo do seu crédito”. Isso gerou um bloqueio de R$ 4 milhões (R$ 1,6 milhão eram recebíveis futuros). “A Justiça determinou [ao deferir a recuperação] a liberação de 70% dos créditos sujeitos à cessão fiduciária [recebíveis dos bancos] para preservar a empresa. Há uma boa expectativa de que haverá acordo com os credores”, diz a advogada da companhia Juliana Bumachar, da Bumachar Advogados. A Alvarez & Marsal será a administradora judicial. O plano de recuperação será apresentado em juízo em 60 dias.
Da dívida de R$ 253 milhões, credores como grandes fornecedores e bancos, somam R$ 239 milhões. Os trabalhistas representam R$ 8,6 milhões e pequenas e médias empresas, R$ 5,9 milhões.
Neste ano, a companhia buscou recursos com investidores, parte deles sócios da empresa por meio do fundo gerido pela Leblon, mas não houve demanda. A empresária Lily Safra seria uma das investidoras atuais. A empresa não confirma. Também buscou-se novos investidores, mas a estratégia também não avançou.
A família Aguinaga defendia o pedido de recuperação judicial frente às pressões de bancos e fornecedores, segundo fontes. Mesmo com o plano sendo desenhado para uma retomada nas vendas, a posição da família de seguir pela recuperação judicial teve peso na decisão final, disse fonte.
Fonte: Valor Econômico