A tecnologia mudou a forma como pedimos comida: tudo agora é por aplicativo. Essa mudança acabou levando à transformação do modelo de negócios dos restaurantes. Para atender à demanda e aumentar o faturamento, as empresas investem em cozinhas e centros de distribuição dedicados exclusivamente ao delivery, o que ainda se reflete na geração de vagas formais.
No Greyhound, restaurante especializado em sanduíches fundado por Marcos Beaklini em meados do ano passado, a aposta no delivery é total. A casa, no Centro do Rio, não tem área para clientes. São 11 funcionários, seis dos quais encarregados apenas das entregas, em parceria com aplicativos. São cerca de cem pedidos por dia.
— O espaço exclusivo para entrega me permitiu ter um custo bem menor do que se eu tivesse optado por um modelo tradicional de loja — conta Beaklini.
A rede de pizzaria Mamma Jamma, por sua vez, redirecionou sua estratégia. Em uma de suas quatro lojas, o espaço de atendimento aos clientes foi reduzido para ampliar o espaço da cozinha dedicado às entregas. O delivery já responde por 35% do faturamento.
— Já temos um projeto pronto para abrir uma cozinha central para delivery. Estamos vendo a chegada de novas empresas de aplicativos, que começam a criar concorrência — diz Marcelo Poltronieri, sócio fundador da rede.
É o caso da Rappi, que vem crescendo 30% ao mês e fazendo frente aos rivais iFood e UberEats. A plataforma está em 15 cidades do Brasil e tem mais de 50 mil entregadores em toda a América Latina. O cofundador Ricardo Bechara diz que a estratégia é selar parceria com redes de diferentes portes:
— O setor vem crescendo porque as empresas não precisam investir em tecnologia. Basta ter um bom produto para entregar.
O iFood tem, em 483 cidades, mais de 55 mil restaurantes cadastrados — base que, segundo a empresa, cresce “três dígitos há oito anos”. Mas não revela a fatia dos que só atendem por aplicativo.
Esse canal é visto como saída para a crise. É o caso do Vip Sushi, rede de comida japonesa da capital paulista. Enfrentando dificuldades, duas unidades de rodízio decidiram apostar no delivery. Em quatro meses, as vendas on-line já estavam iguais às do salão.
Contratação cresce
O empresário Renan Toledo decidiu, em 2015, encerrar o atendimento em mesas e focar no delivery via aplicativos — a outra opção era fechar as duas unidades, o que significaria perder um investimento de R$ 350 mil.
O cardápio se adaptou à tela do celular. Em vez de combinados complexos, sushi a R$ 1, que pode ser somado a outros itens, como sashimis. O resultado: o faturamento mensal passou de uma média de R$ 35 mil, em 2015, para R$ 380 mil. Toledo faz planos:
— Devo abrir mais duas unidades até o começo de 2020. Planejo franquear o negócio, mas a essência continuará a mesma: vender comida japonesa por delivery.
Andreas Blazoudakis, um dos fundadores do iFood, deixou o aplicativo e montou a Delivery Center no início do ano passado. São centros de distribuição que usam os espaços vazios dos shopping para entregas. O sistema detecta a localização do cliente e direciona o pedido para o shopping mais próximo. Já são 16 centros, dos quais 11 no Rio, com 40 motoboys contratados. A meta é chegar a 200 centros no país, em um investimento de R$ 400 milhões.
— As vendas dos shoppings pela internet subiram 17% — diz Blazoudakis.
Segundo Antonio Moreira Leite, presidente do Grupo Trigo — dono do Spoleto, presente em shoppings —, o delivery já responde por 20% da receita. Já a rede de churrasco na pedra Billy The Grill criou um projeto de franquia só para entregas, além de ter um aplicativo próprio.
Nem os supermercados estão de fora. A rede Super Prix, que já usa o Rappi, investiu em uma plataforma específica e contratou funcionários para atender à demanda.
Segundo dados do economista Fabio Bentes, chefe interino da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), entre 2008 e 2018, só no Estado do Rio, o número de motoboys saltou 74%, para 5.085.
Fonte: O Globo