Em recuperação extrajudicial há seis meses e com uma dívida de R$ 1,16 bilhão, a varejista Leader fechou o ano passado com queda de 16% no faturamento, para R$ 1,08 bilhão. O prejuízo, que ainda está sendo auditado, foi expressivo. Mas, depois de dois anos seguidos com fluxo de caixa negativo, esta conta virou para o campo positivo, em R$ 55,8 milhões.
Presidente e sócio da Leader, André Peixoto conta que ainda recebe fornecedores desconfiados sobre o risco de “quebra” da empresa. E responde com um sorriso: “Vamos ficar muito vivos este ano e a boa notícia é que viramos o resultado”, disse Peixoto ao Valor, pouco antes de participar de evento com vendedores e fornecedores no Rio de Janeiro.
Por virada nos resultados, o executivo refere-se à geração de caixa da empresa em 2018, uma das referências sobre a capacidade de pagamento de dívidas. Em 2016, essa conta havia sido negativa em R$ 210,8 milhões e em 2017, em R$ 21,6 milhões.
Essa reversão foi possível com a redução dos estoques e cortes de despesas com tecnologia e pessoal nos últimos anos. O número de lojas também ficou menor: de 170 em 2015 para as atuais 104. Desta forma, as despesas totais da rede encolheram, de R$ 600 milhões em 2016 para R$ 370 milhões no fechamento do ano passado.
Como outras histórias empresariais, a crise da Leader foi gestada numa época de bonança. Fundada nos anos 50 no interior do Estado do Rio, a empresa viveu rápida expansão de 2012 a 2014 sob controle do BTG Pactual, que queria transformá-la numa gigante de vendas. Com a crise, o plano não decolou. Endividada, a empresa foi comprada em 2016 pelo fundo Legion, de Fábio Carvalho, conhecido pela reestruturação da Casa & Vídeo e recente aquisição da Abril.
Desde então, as dívidas de Leader foram renegociadas e linhas de crédito restabelecidas com fornecedores. Mas, mesmo com o ajuste, a empresa apresentou prejuízo “bastante negativo” em 2018, nas palavras do executivo. Os valores precisos não foram informados, mas ele reconheceu que seria algo “mais para R$ 100 milhões do que para R$ 10 milhões”.
Apesar do prejuízo, Peixoto diz que o número não tira seu sono. “A mágica de recuperar uma empresa é escolher as batalhas. A minha é o caixa. Hoje, minha preocupação é saber quanto vai ter no caixa no dia seguinte”, diz o executivo. “Talvez um dia eu tenha felicidade de olhar o resultado, hoje tenho zero preocupação com isso.”
A Leader, afinal, ainda é uma empresa muito endividada. Somente com fornecedores, a dívida chega a R$ 160 milhões, com prazo de cinco anos para pagamento. Outros R$ 500 milhões referem-se a impostos (com nove anos para pagamento) e R$ 500 milhões com bancos (cinco anos para pagar). Quando a Leader foi comprada, em 2016, o endividamento era de R$ 1,6 bilhão.
Por isso, a geração de caixa segue seu grande desafio. “O fluxo de caixa é um desafio nosso para os próximos dois anos. Precisamos gerar uma quantidade que pague a dívida fiscal e de fornecedores. E todos os anos isso foi feito com capital de giro”, disse ele, acrescentando que a geração de caixa precisa chegar a R$ 120 milhões neste ano para pagar dívidas.
Mesmo com expansão limitada por sua situação financeira, a rede aposta que a melhora da economia do Rio e novas linhas de produtos vão elevar seu faturamento para R$ 1,19 bilhão em 2019, 10% a mais do que no ano passado. Se confirmado, o resultado vai reverter parte da queda da receita no ano passado, que foi afetada pela redução do nível dos estoques.
Peixoto diz que boa parte desse crescimento virá das vendas de eletroportáteis – produtos como fritadeira elétrica e mixer – e linhas de cosméticos na rede. Também vão contribuir novas parcerias iniciadas no ano passado com fabricantes de bolsas e acessórios para espaços compartilhados nas lojas.
“O ano também deve ser melhor para a economia do Rio de Janeiro. Vemos a recuperação do setor de petróleo e da economia nacional, o que deve puxar a economia do Estado do Rio”, disse o executivo. A Leader está presente em nove Estados, mas 60% de suas lojas e 70% da receita são concentradas no Rio.
A previsão é de inaugurar apenas três unidades neste ano, que vão ficar na região metropolitana do Rio, ao custo total de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões. “Uma loja nova demora de três a quatro anos para ‘rodar’ bem e o caixa não comporta isso. Só vamos abrir essas lojas porque sei que vão rodar bem rapidamente. São pontos que já temos base de Cartões Leader.”
Fonte: Valor Econômico