O Mercado Livre fará dos serviços financeiros seu carro-chefe de crescimento no Brasil a partir de 2019, à medida que multiplica a oferta de produtos próprios, como crédito, transferências de recursos e contas salário, disse o vice-presidente de operações da empresa, Stelleo Tolda.
O plano mostra a rápida movimentação do maior portal de comércio eletrônico da América Latina, com sede na Argentina e operações em 18 países, para aproveitar a onda de desintermediação bancária em curso no Brasil, com incentivo do Banco Central, que pavimentou a entrada no mercado de centenas de fintechs no país.
O Mercado Pago tem sido o vetor financeiro do Mercado Livre, em especial no mercado pagamentos eletrônicos, em parceria com pequenos bancos locais.
Após ter obtido uma licença do BC brasileiro para atuar como instituição financeira, o grupo já se movimenta para multiplicar a oferta de serviços como crédito pessoal, contas salário e serviços de transferência de recursos com boletos e DOC/TED. Esse movimento vai se espraiar para a seção de classificados do portal, especialmente nas transações envolvendo compra e venda de veículos e de imóveis.
“Hoje nossas receitas com esse segmento são concentradas nos anúncios. Agora vamos passar a ter um canal para que os compradores possam pagar um sinal por meio do próprio Mercado Pago”, disse Tolda.
Mais adiante, a companhia deve ampliar também as ofertas de antecipação de recursos para lojistas, segmento que tem um potencial gigantesco, disse ele.
Em outra frente, o Mercado Pago vem fazendo parcerias com varejistas, dentro e fora do comércio eletrônico, para uso de sua solução de pagamentos por meio de QR Code. Na prática, isso elimina a necessidade do modelo tradicional de pagamentos por meio de cartões de débito e de crédito, que envolve adquirentes, bandeiras como Visa e Mastercard e bancos.
No terceiro trimestre do ano passado, o volume de dinheiro transacionado via Mercado Pago em todos os mercados em que opera foi de US$ 4,6 bilhões (R$ 17,5 bilhões), aumento anual de 24,1% em dólares.
Para Tolda, o modelo de pagamentos chamado de três partes, em que as transações financeiras entre pessoas e empresas envolve apenas um intermediário, deve ganhar tração no país à medida que progride a regulamentação pelo BC nos próximos meses do pagamento instantâneo, sistema que deve funcionar de forma ininterrupta e com custo muito inferior ao de DOCs e TEDs.
No terceiro trimestre do ano passado, mais da metade das transações feitas por meio do Mercado Pago já aconteceu fora do ambiente do Mercado Livre. No fim de setembro, a conta de pagamentos do Mercado Pago superou 1 milhão de usuários ativos.
A partir de 2019, com a multiplicação de produtos próprios, a maior parte do volume financeiro também deve ser obtida fora do ambiente do portal, disse Tulio Oliveira, diretor do Mercado Pago no Brasil.
Embora preveja que o Mercado Livre seguirá crescendo acima da média do mercado no comércio eletrônico em 2019 –no terceiro trimestre o avanço no país foi de 25% ano a ano –, os planos para o Mercado Pago são bem mais ambiciosos.
“Qualquer crescimento abaixo de três dígitos para o Mercado Pago é insatisfatório”, disse Tolda.
AMAZON E O FEIJÃO
Tolda admitiu que a concorrência no comércio eletrônico vai crescer no Brasil após a norte-americana Amazon ter iniciado na véspera vendas diretas de 11 categorias de produtos a partir do seu novo centro de distribuição em Cajamar (SP).
Na bolsa paulista, ações de empresas como Lojas Americanas, B2W e Magazine Luiza estiveram entre as líderes de perdas após o anúncio da Amazon.
Mas o vice-presidente do Mercado Livre avaliou que a repercussão no mercado de notícias envolvendo a expansão da Amazon no país pode ser exagerada, uma vez que o Brasil é um mercado com características próprias, incluindo desafios de logística, do setor de meios de pagamentos e de relacionamento com fornecedores, o que não é superado rapidamente.
Por isso, diz, a Amazon deve ter dificuldades para repetir aqui o rápido crescimento que teve no México, mercado do qual o Mercado Livre é líder.
“A Amazon vai ter que comer muito feijão antes de ser relevante aqui”, disse Tolda. “Prevejo dificuldades para eles ganharem escala.”
Fonte: Folha de S. Paulo