Data abre oportunidades para empresas que empregam tecnologia contra falsificações, roubos de identidade e variações malandras de preços
Oito anos depois da sua primeira edição no Brasil, a Black Friday ainda não se livrou completamente do apelido que ganhou logo na estreia: “Black Fraude”. Ainda são comuns relatos de consumidores frustrados com falsas promoções e aumentos de preço antes da data. Nesse cenário surgiram startups para caçar fraudes e ajudar o consumidor a encontrar ofertas confiáveis.
Os problemas da Black Friday podem ser vistos numa enquete realizada pelo ReclameAqui, site que reúne reclamações sobre empresas. Ela mostrou que 29,3% das pessoas já encontraram produtos cujos preços aumentaram antes do evento, 16,3% viram frete alto ou acima do normal e 9,7% tiveram contato com sites, lojas e redes sociais falsas, tentando enganar os clientes. A pesquisa teve 7,9 mil respostas.
O ReclameAqui também ouviu 2,9 mil pessoas sobre a Black Friday de 2018: 30,34% não consideram os descontos do evento atrativos. O motivo? Desses, 53,53% não acreditam mais nos descontos apresentados pelas empresas e 20,45% afirmaram ter tido problemas com edições passadas da Black Friday.
Uma startup que tem trabalhado para ajudar a encontrar descontos reais durante a Black Friday é a Promobit. Ela oferece uma plataforma de compartilhamento de descontos.
Isso significa que lá as pessoas se ajudam para compartilhar opiniões sobre produtos e serviços, além de ter um serviço de curadoria feito pela equipe da empresa. Ela foi criada em 2014 de olho na própria Black Friday por Fabio Carneiro e Raphael Pawlik. Hoje, tem 560 mil membros que se ajudam pelo melhor preço.
“Na Black Friday, queremos ajudar o cliente a não cair em golpes de sites de Phishing, (que coletam dados de usuário sem que ele perceba o golpe), em e-commerces amadores e em lojas que tenham um péssimo atendimento ou serviço”, diz Carneiro.
Outra startup importante do setor é o Zoom. Ele acompanha a “jornada” do preço e mostram a evolução do desconto. A startup, que tem 30 milhões de acessos mensais, não nasceu por conta da Black Friday, mas vê o seu papel potencializado durante o período. “É preciso entender que nem tudo sofre queda de preços na Black Friday. É preciso acompanhar, fazer comparativos e compreender objetivos da sua compra”, diz Thiago Flores, diretor executivo do Zoom.
Ajuda aos lojistas
Não são apenas os consumidores que sofrem na Black Friday. Lojistas e operadoras de cartão de crédito também têm seus desafios. Assim, startups de identificação e de prevenção de falsificações ganharam corpo no mercado e ajudaram a diminuir a força e a quantidade de cartões clonados e de identidades falsas durante o evento.
Na Black Friday de 2017, que gerou faturamento de R$ 2,1 bilhões no e-commerce, a startup de prevenção de fraudes para lojistas Konduto analisou 736 mil compras, de acordo com dados da própria empresa. Dessas, apenas 1,94% eram fraudes, numa redução de 45,81% em relação ao mesmo evento de compras de 2016. É uma queda impactante, já que o tíquete médio das compras fraudadas fica em média de R$ 570.
“As empresas de cartão de crédito deixaram um buraco no mercado para validação e identificação de fraudes”, disse o cofundador da Konduto, Tom Canabarro. “Startups, no entanto, enxergaram uma possibilidade ali e passaram a entregar bons serviços. Hoje, lojas e empresas estão mais atentas, mais integradas com as soluções e reduzindo os prejuízos.”
A startup criada por Canabarro, junto de outras duas pessoas, firmou contrato com grandes varejistas, como a Livraria Cultura, a Decathlon e a Morena Rosa e outros 200 clientes, e recebeu R$ 2,5 milhões em investimentos.
Seu serviço tem se tornado indispensável nas transações virtuais. Por meio de um algoritmo, o sistema identifica informações da pessoa que está realizando a compra, como navegação imediatamente anterior à finalização do processo e comparação de idade com o nível econômico do cartão. O processo dura só 0,09 segundo. Caso fique alguma dúvida, uma equipe humana analisa o processo.
“Estamos num momento difícil pra identificação de fraudes, já que as informações do cliente são bem protegidas pela Lei de Dados. Ao mesmo tempo, jovens de 20 e 25 anos não gostam de atender o telefone. Se é número desconhecido, já recusam a chamada. Fica difícil checar a compra de maneira direta”, diz o empreendedor.
Mais tecnologia
Outra startup que caça fraudes para lojistas é a idWall, criada após Lincoln Ando e Raphael Melo saírem do Banco Original e identificarem problemas de falsificações. A empresa hoje conta com 100 clientes, como iFood e GuiaBolso, e investimento de US$ 4,5 milhões. Além da identificação de fraudes bancárias, a empresa também faz checagem de documentos. Para isso, o cliente envia uma foto do documento de identidade e um software captura e digitaliza todos os dados. Em alguns casos, o sistema ainda pede uma “prova de vida”, em que a pessoa precisa tirar uma selfie e depois sorrir.
“Daqui pra frente, vamos ver mais utilização de biometria nos processos de checkout; processos de pagamento mais ágeis, usando QR Code; e uma maior penetração no mercado de soluções de machine learning (técnica de inteligência artificial)”, diz Lincoln Ando ao Estado.
Fonte: Estadão