Alta de 118% no número de marcas brasileiras operando fora do Brasil é pouco frente ao potencial tupiniquim; compilar dados e usar e-commerce podem ser porta de entrada para novos mercados
A transformação digital e fomento à cultura de dados dentro do setor de franquias têm puxado o interesse de redes de diversos segmentos a iniciar uma empreitada internacional. Entre 2010 e 2018, o número de marcas brasileiras com presença no exterior foi de 45 para 142, alta de 118%.
Os dados, que fazem parte de uma pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF), apontam também que, entre 2010 até o momento, os destaques foram setores como informática, hotelaria e serviços (+300%); casa e construção (+280%); alimentação (+100%); e moda (+89%). Entre os países mais procurados estão Estados Unidos (46), Paraguai e Portugal (34), Bolívia (19), Colômbia (17) e Argentina (15).
De acordo com o sócio-diretor da consultoria empresarial BTR, Eduardo Terra, a possibilidade de expansão de negócios deve ser guiada pela capacidade do empresário em aperfeiçoar as plataformas de vendas online para outros países, mais conhecidas como e-commerce cross-border. “Há uma pressão global para que o Brasil eleve a oferta de plataformas deste tipo para o mundo. Pode ser um termômetro de demanda de consumidores estrangeiros por produtos brasileiros, com a possibilidade [do empresário] manter um centro de distribuição ou até abrir uma filial em outro país, se necessário”, declarou Terra.
Segundo uma pesquisa da Ebit/Nielsen, as vendas realizadas pelos comércios eletrônicos cross-border no Brasil somaram mais de R$ 12 bilhões. Esse número equivale a 20% de todo o e-commerce brasileiro. “Sabemos o tamanho do desafio para o setor de franquias para implementar essa transformação digital, mas é uma oportunidade de enxergar a concorrência e encarar as novas dinâmicas de mercado”, afirmou Terra.
Em perspectiva com o raciocínio de Terra, a diretora de franquias da rede Bibi Calçados, Andrea Kohlrausch, afirmou que o processo de transformação digital da empresa vem ocorrendo de forma orgânica e que as ações, recentemente implementadas no território nacional, podem ser aplicadas nas lojas na Bolívia e no Peru. “Já está disponível, por exemplo, a utilização da ferramenta de prateleira infinita para os nossos franqueados. Esse recurso fez, inclusive, com que o nível de engajamento dos vendedores aumentasse por meio das vendas do e-commerce”, afirmou ela, ressaltando o fato de que a plataforma está crescendo “dois dígitos” e representa 2,5% do faturamento bruto do negócio.
De acordo com a executiva, pelo fato da empresa já ter alguns parceiros estratégicos em alguns países e exportar para 70 países, a análise de dados do mercado e do perfil do consumidor local foi mais assertiva e possibilitou reformulações pontuais no portfólio.
“Logísticamente é mais fácil entrar pela América Latina. Hoje temos 3 unidades em Lima, no Peru e agora vamos abrir a primeira na Bolívia”, disse Andrea, lembrando o fato de que existe um departamento dedicado apenas às questões digitais do negócio.
De acordo com o estudo da ABF, aspectos como o investimento em canais virtuais, mídias digitais e estabelecimento de parcerias locais são determinantes no processo de êxito da expansão internacional.
Para o fundador da consultoria empresarial Varese Retail, Alberto Serrentino, tanto em um processo de expansão internacional ou nacional da marca, conhecer o perfil do consumidor local por meio da análise de dados é indispensável. “No caso do modelo de franchising, esse processo se mostra mais desafiador ainda, tendo em vista que os dados gerados dentro dessa cadeia são compartilhados para várias peças desse ecossistema.”
De acordo com ele, a possibilidade do negócio se adaptar a outros mercados só existe caso o toda a cadeia do franchising trabalhar em conjunto para absorver e interpretar as informações dos clientes, seja por meio de compras em aplicativos ou plataformas online.
Com 170 unidades no exterior, outra rede de franquias que têm investido na análise de dados é a iGUI, especializada no comércio de piscinas. “Após realizarmos a pesquisa do mercado local, caso haja necessidade, nós adaptamos o portfólio do negócio. Todos os nossos franqueados, em conjunto com o nosso escritório central, fazem ações nas redes sociais”, afirmou a diretora internacional da marca, Juliana Prado, destacando que tais mídias também desempenham papel de captação de possíveis franqueados.
Fonte: DCI