Quando é parabenizado por amigos após o anúncio de que a Amazon teve bons ganhos trimestrais, Jeff Bezos é categórico. “Eu digo ‘Obrigado, mas esse trimestre foi feito há três anos’. Eu estou trabalhando agora em um que vai acontecer em 2021”. A mentalidade pode soar como falsa modéstia para alguns, mas é tratada com naturalidade pelo fundador da gigante de e-commerce. Bezos diz que raramente é “puxado pelo presente” quando está planejando suas próximas empreitadas – algo que condiz com muitos dos feitos realizados pela empresa que atingiu o valor histórico de US$ 1 trilhão em valor de mercado.
A inconfidência foi feita em uma reportagem da revista Forbes. Nela, o empresário compartilha alguma das práticas que incorporou à empresa para estimular ideias e projetos disruptivos – e alguns de seus focos para o futuro.
Um dos pontos fundamentais para o crescimento estrondoso da Amazon foi o que se poderia chamar, no mínimo, de versatilidade. A empresa começou como uma loja online de livros, mas não se contentou com esse posto. Hoje, vende quase tudo o que se pode imaginar e ainda está presente em nichos que variam desde os assistentes virtuais – com a Alexa e as linhas Echo – até os meios de pagamento – com o Amazon Pay. Além disso, ela também acertou ao unir suas diferentes especialidades em alguns produtos. A Amazon Go, sua rede de supermercados sem caixa, é um dos principais exemplos.
Agora, segundo a reportagem, Bezos está “jogando” em ao menos outros quatro mercados: saúde, entretenimento, eletrônicos de consumo e publicidade. Mas seus planos para cada uma delas não são exibidos e descritos aos quatro ventos – ao menos não antes que isso se torne interessante. Em suas raras entrevistas, diz o texto, Bezos costuma valorizar a “dissimulação” e a prática de fingir desinteresse por temas que estão florescendo. “Eu nunca pensei na Amazon dessa maneira”, respondeu, certa vez, sobre a possibilidade de a Amazon se tornar uma companhia de dados.
Dentro da empresa, o empresário diz adotar como palavra mais importante o “sim”. “Digamos que um executivo júnior tenha uma nova ideia que queira tentar”, exemplifica à reportagem. “Ele têm que convencer seu chefe, o chefe de seu chefe, o chefe do chefe de seu chefe e assim por diante. Qualquer ‘não’ nessa cadeia pode matar a ideia toda”. Por isso, ele diz ter estruturado a Amazon em torno do que ele chama de “vários caminhos para o sim”, principalmente quando se tratam de “portas para dois caminhos” – decisões que muitas vezes são baseadas em melhorias incrementais e que podem ser revertidas caso se mostrem insensatas.
Quando se tratam de ideias maiores – e mais verticais –, ele diz se basear em três pilares básicos: originalidade, escala e retorno financeiro. Neste último caso, aliás, os parâmetros são exigentes: o retorno sobre o investimento deve ser digno do Vale do Silício.
Entre os mercados em que Bezos está jogando, o de cuidados com a saúde é digno de destaque. A reportagem aponta que trata-se da maior indústria dos Estados Unidos – e uma de suas mais ineficientes. No último ano, Bezos se uniu ao investidor Warren Buffett e o CEO da JPMorgan Chase, Jamie Dimon, para desenvolver um projeto sem fins lucrativos para dar cuidados de saúde melhores e mais acessíveis aos seus funcionários. Juntos, os três empregam 1,2 milhão de pessoas. Bezos também tem apostado em aprender mais sobre publicidade – quem melhor do que a Amazon, afinal, para saber o que seus consumidores compraram ou deixaram de comprar?
O Prime, por fim, é dos mais importantes. Além de estimular a compra – oferecendo frete grátis e outras facilidades em troca de uma assinatura –, o serviço também sustenta a estratégia de “carne e osso” – ou “tijolos e cimento” – da empresa, possibilitando, por exemplo, que ela passe a entregar alimentos que não poderiam ser armazenados, não fosse a entrega ágil oferecida. Trata-se do sistema nervoso da empresa, conectando tudo o que ela tem a oferecer e possibilitando a expansão a uma infinidade de mercados.
“Eu tenho ideias. Poderíamos sentar aqui com uma ideia e eu poderia preencher este quadro branco em uma hora com 100 ideias”, diz Bezos à reportagem. “Se eu tenho uma semana sem reuniões de brainstorming, eu me queixo para o meu escritório: ‘Venha, pessoal, ajude-me aqui”.
Fonte: Época Negócios