Quando a Amazon comprou a rede americana de supermercados Whole Foods no ano passado, investidores entraram em pânico e se livraram de ações de rivais como Kroger, Sprouts Farmers Market e até Walmart, temendo que a gigante do e-commerce conseguisse abalar mais um setor. Essa preocupação foi diminuindo ao passo que investidores e analistas reconheceram que levará anos para a Amazon se colocar entre as grandes em um setor que movimenta US$ 800 bilhões nos EUA. Enquanto esse dia não chega, cadeias tradicionais de supermercados vão muito bem, obrigado.
Ainda assim, há sinais de que o famoso Efeito Amazon está ajudando a Whole Foods, que vinha perdendo espaço à medida que alimentos orgânicos, foco da rede, deixaram de ser nicho e se popularizaram. Em mais de 100 locais, a Whole Foods passou a atrair no último ano compradores que antes frequentavam lojas de concorrentes mais barateiras como Trader Joe’s, Walgreen e Dollar Tree Stores, de acordo com a Sense360, companhia de Los Angeles que acompanha dados de localização de milhões de usuários de smartphones.
Os dados, que cobrem unidades da Whole Foods que ficam a até 1,6 quilômetro de distância de lojas concorrentes, mostram que, ao oferecer descontos, a Amazon consegue atrair clientes leais de seu serviço Prime para lojas físicas. No entanto, a Whole Foods precisa de mais lojas para estar perto de um número maior de consumidores.
Para o presidente da Sense360, Eli Portnoy, redes de supermercados com presença nacional ainda não estão sofrendo, mas a Amazon está se fortalecendo em “nível micro”. “Estamos no estágio muito inicial e essas coisas levam tempo”, ele disse. “Essas conclusões mostram que haverá impacto.”
A Amazon, sediada em Seattle, geralmente não realiza mudanças imediatamente após aquisições e até o momento pouco foi feito com a Whole Foods. A companhia colocou armários nas lojas, onde as pessoas pegam encomendas feitas pela internet. A Amazon oferece entrega em 24 cidades dos EUA por meio do serviço Prime Now.
Walmart e Kroger oferecem serviço em milhares de locais. A Kroger inclusive tem um projeto-piloto no Arizona com carros autônomos fazendo entregas.Mas a Amazon tem progredido, aumentando o número de consumidores frequentes das lojas Whole Foods. Os descontos e incentivos em cartões são focados nos milhões assinantes do serviço Prime, que pagam anuidades ou mensalidades por postagem subsidiada e outros benefícios.
Em fevereiro, a Amazon passou a oferecer aos assinantes Prime devolução de 5 por cento dos gastos na Whole Foods feitos com cartões Visa da marca Amazon. Em junho, lançou promoções apenas para assinantes Prime, incluindo reduções de 25 por cento no preço de frutas secas, além de descontos nas compras de salmão selvagem, cerejas orgânicas e centenas de outros produtos.
“Existe um enorme segmento da população que ama promoções”, disse Kurt Jetta, presidente da firma de pesquisas de bens de consumo Tabs Analytics. “É só oferecer uma promoção que eles aparecem.” Mesmo assim, vai demorar para a Whole Foods (alimentos inteiros, em inglês) reverter a imagem de loja cara que rendeu o trocadilho “Whole Paycheck” (salário inteiro).
A Whole Foods é uma rede urbana voltada para um nicho do mercado e com apenas 470 lojas, que raramente estão nas mesmas áreas geográficas dos EUA das mais de 4.000 lojas Walmart e quase 2.800 lojas Kroger, que geralmente ficam distantes das grandes cidades.