Muito popular no Brasil no início dos anos 2000, as lojas de R$ 1,99 voltaram a crescer durante a crise econômica. Com um novo formato e abarcando uma variedade maior dos produtos, essas lojas se mantêm cheias e usam descontos agressivos para garantir faturamento com volume.
Para conseguir oferecer ao público uma ampla variedade de produtos e garantir descontos que ultrapassem os 70%, o especialista em varejo e doutor em dinâmica do comércio popular pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Sérgio Boin, conta que o caminho foi longo.
“Enquanto a economia ia bem, as lojas de R$ 1,99 eram recheadas, basicamente, com produtos importados da China, mas com a crise e a variação cambial, essas lojas começaram a procurar formas de se abastecer no mercado interno”, detalha ele.
E foi com a chegada da crise econômica que a indústria – que já registrava ociosidade na linha de produção – também procurou novos canais de venda. “A partir de 2014 já havia mais espaço para negociar. Produtos perto do prazo de validade e que não seriam mais enviados ao grande varejo começaram a ser distribuídos entre lojas menores, que aproveitavam o custo reduzido do produto para oferecer descontos agressivos.
O problema dessa negociação, no entanto, é que a varejista fica à mercê do estoque da indústria, então é difícil compor um mix estável, tornando as mudanças de produtos nas gôndolas constante.
“Esse modelo de negócio une dois fatores decisivos para a compra: o impulso [por ter que comprar antes que acabe] e os preços que não passam de R$ 10”, completa.
Essa sensação de urgência foi reportada pelo empresário Carlos Macedo, dono da loja Pegue Mais, que fica na Vila Galvão, em Guarulhos.
“Quando conseguimos comprar produtos congelados e oferecer por menos de R$ 5 o estoque acaba em algumas horas. Até quem não precisava do item compra para aproveitar.”
De acordo com ele, além da parceria com grandes indústrias, a compra de produtos em leilões também são constantes. “Isso [de comprar em certames] é mais arriscado, porque nem sempre a mercadoria tem saída, mas ainda aproveitamos oportunidade quando são de produtos de baixo valor agregado”, detalha.
Além de alimentos, brinquedos e utilidades domésticas, o empresário também tem apostado em produtos de limpeza, higiene e beleza. “Somos um mercadinho de bairro, mas com preços melhores”, crava.
Também empresário do ramo, César Longo já teve duas unidades de lojas de R$ 1,99, e agora se volta para o mercado de primeira necessidade. “Temos uma unidade na região do Piraporinha, em Diadema, e uma na Vila Luzita, em Santo André. Nós abrimos de sábado e domingo e o movimento é muito alto”, comemora.
Entre as estratégias do empresário para garantir margem é não aceitar pagamentos em cartões. “Uma compra média na loja fica em torno de R$ 35 com o cliente comprando cerca de seis produtos. Falamos de pessoas que muitas vezes nem têm cartão de banco, então não sentimos muitas desistências de compra por isso.”
Depois de abrir uma franquia da rede supermercadista Dia%, Ana Luiza Almeida percebeu que o desconto é a chave do negócio. No mercado, a espanhola Dia% é considerada uma empresa de “Soft Discount” e os resultados têm se mostrado bastante positivos.
“O Dia% tem uma operação consolidada no Brasil e consegue preços melhores por investir em marca própria e tem operações enxutas”, disse Boin. Depois de se desfazer da franquia do Dia%, Ana Luiza resolveu empreender com ajuda do marido e dos pais, hoje a empresária é dona de uma loja que tem mais de 500 m² de área de vendas.
“O crescimento que tivemos em dois anos foi muito maior que em nossa projeção mais otimista. Acredito que a venda de produtos de primeira necessidade com fortes descontos salvou meu negócio”, disse.
Hoje a empresária já pensa em abrir uma nova unidade, também na cidade de Osasco. “Se comprarmos os produtos para abastecer duas unidades, vou conseguir preços ainda melhores”, antecipa ela, que também não aceita cartão de crédito nas lojas.
Fonte: DCI