A crise que afetou o varejo de farmácias neste ano acelerou o volume de promoções no setor, tornando mais acirrada a competição entre as redes. A rentabilidade tem sido afetada, não apenas pela guerra de preços, como pelos maiores gastos com propaganda para tentar trazer mais clientes para as lojas, mostram os últimos balanços das redes.
Na noite de quarta-feira, a Extrafarma, o braço de farmácias da Ultrapar Participações, informou que houve aumento nos gastos com publicidade de abril a junho, e, em parte, por causa disso, caiu o valor do Ebtida, o lucro antes dos juros, impostos, amortização e depreciação. O indicador foi negativo em R$ 7 milhões, versus montante de R$ 9 milhões um ano atrás.
Dois grupos de varejo de farmácias, Raia Drogasil (RD) e Nissei, informaram nos últimos dias que tiveram que reduzir preços de medicamentos em certas regiões para defender participação de mercado.
Ações comerciais mais agressivas, criadas para proteger a própria venda, também têm sido implementadas pela rede Pague Menos, líder no Nordeste. Em maio, a companhia informou em relatório de resultados que teve queda nas vendas em lojas com mais de um ano de operação de janeiro a março. Isso ocorreu por causa de políticas mais agressivas em preços, definidas para “se proteger de novos entrantes” nas áreas onde atua, afirma a empresa.
“Nós estamos vivendo o que os Estados Unidos viveram 20 anos atrás, quando as grandes redes, como Duane Reade e CVS, foram entrando no mercado uma das outras e isso mexeu com todo o setor”, disse o presidente executivo da Abrafarma, associação do setor, Sergio Mena Barreto.
Queda
Dados da entidade antecipados ao Valor mostram que houve uma queda na margem de lucro líquido de suas associadas em 2017, assim como na margem Ebitda. A expectativa é que neste ano o setor venha a registrar nova queda nessas taxas. “Estamos considerando que esses índices muito provavelmente devem voltar a cair neste ano. O setor vive uma crise tardia, que já afetou o varejo em geral, e tem afetado as farmácias neste ano”, disse Mena Barreto.
Segundo ele, o setor apurou uma margem de lucro líquida de 2,6% no ano passado contra 2,76% em 2016 e 0,79% de 2015. A margem Ebitda, de 7,37% em 2016, caiu para 6,73% em 2017.
A Abrafarma também antecipou ao Valor dados de vendas do primeiro semestre de 2018. As 24 redes de farmácias e drogarias associadas movimentaram R$ 22,78 bilhões de janeiro a junho, alta 7,54% sobre 2017. O índice está acima da média prevista para o varejo em geral no período, mas abaixo do histórico recente do setor, com expansão entre 10% e 15% em anos anteriores.
“Decidimos manter a estimativa de alta de 9% no ano, mesmo com a expansão menor de janeiro a junho, porque acreditamos que o segundo semestre pode ser um pouco mais forte em vendas”, afirmou Mena Barreto.
Saídas
Nesse cenário, as varejistas têm buscado outras formas de rentabilizar o negócio mais rapidamente. Cobranças de serviços antes gratuitos começaram a ser testadas. Políticas de descontos, muito comuns no setor, têm sido mais atreladas ao volume comprado pelo cliente, como forma de elevar a venda da loja.
A Pague Menos criou um programa serviços batizado Clinic Farma e quem se inscreve nele recebe orientação sobre diabetes, hipertensão, risco cardiovascular, asma e obesidade. O consumidor pode ainda receber um atendimento mais especializado, a depender do tratamento que faz. A empresa passou a cobrar a partir de R$ 3 em algumas áreas localizadas para quem se inscreve e recebe determinados serviços.
A Raia criou no ano passado o programa “Sua Droga Raia” que, entre outras ações, dá descontos maiores para medicamentos de uso contínuo, caso o cliente compre os produtos na rede.
Em ambos os casos, na Raia e na Pague Menos, o cliente autoriza a empresa a compartilhar as suas informações com empresas de pesquisa, consultorias e outros, bem como empresas de mídia social como Facebook e Twitter, para uma “experiência mais completa” dos serviços oferecidos pelas lojas. A Pague Menos menciona que a identidade é preservada.
Fonte: Panorama Farmacêutico