É possível dizer que a Chilli Beans foi a primeira grande empresa brasileira a conseguir lucrar, de fato, ao vender óculos escuros por aqui. E tudo começou com o seu fundador, o empresário Caito Maia, trazendo peças do exterior para vender aos amigos para custear o seu sonho de virar um rockstar. A sua banda “Las Ticas Tienen Fuego” não foi muito popular – muito pelo contrário.
O fracasso dos palcos, no entanto, foi fundamental para o sucesso do crescimento da Chilli Beans. Isso porque o estilo jovem e desprendido da banda de Maia foi trazido para o DNA da marca – inclusive para o modelo de gestão. O empresário não acredita no modelo de liderança inspirado na bronca ou gritaria. Ele quer inspirar a sua equipe na base da conversa e da responsabilidade, fazendo-os empreender na sua própria empresa.
Na entrevista a seguir, o fundador da Chilli Beans fala sobre os avanços em gestão, o conflito de gerações e até mesmo o motivo dele querer estar na tela dos cinemas: um filme sobre a história da Chilli Beans está sendo negociado.
NOVAREJO – Como você enxerga a liderança da atualidade?
Caito Maia – Existem algumas coisas que estão vindo bem à tona nos últimos tempos. Democratização, ouvir a equipe, colocar o seu time para falar, inclusão, não se colocar como inatingível e atitudes afins. Isso, no entanto, não é novidade para mim: eu construí a Chilli Beans desta maneira. Esta é a essência da marca. Existem pessoas que trabalham comigo há mais de 15 anos que sei que colocariam o corpo a frente de um tiro pela empresa. Eu só estou onde estou por conta dessas pessoas. Elas me ajudaram a fazer isso e sempre foi assim. Tentei criar um ambiente participativo, colocar todo mundo no mesmo ambiente e decidimos juntos. Existe uma abertura grande para decisões e ideias.
NOVAREJO – E qual é o papel do CEO nessa abertura?
Caito Maia – Quando você faz parte de uma célula e eu te dou a oportunidade de empreender dentro da minha empresa, a pessoa vai se sentir ultra participativa e envolvida com a companhia. Resumindo: o CEO tem que ter essa atitude de abertura.
NOVAREJO – Na sua opinião, a forma de trabalhar hoje é diferente de antigamente?
Caito Maia – Com certeza. Antigamente, nossos pais e avós odiavam os locais que eles trabalhavam. Eles eram humilhados, mas faziam aquilo porque tinham que sustentar as famílias. Essa geração de hoje, porém, não se submete mais a isso. A geração nova não está nem aí para hierarquia. Eles querem ganhar dinheiro, mas querem se sentir respeitados. Se você não respeitá-los, eles viram as costas e vão embora.
NOVAREJO – Poderia dar algum exemplo?
Caito Maia – Tem coisas muito diferentes acontecendo. Imagina um chefe gritando com um funcionário mais jovem? Ele pode virar e falar para o superior: “se meu pai não grita comigo, não é você quem vai gritar.” Eu, por exemplo, nunca bati no meu filho. Mudou o tratamento entre as pessoas. O CEO do futuro é colaborativo e ele é inteligente ao ponto de ter a sensibilidade de usar essas pessoas boas ao redor dele para fazer o negócio crescer.
Eu até fico preocupado com essa palavra de CEO, pois eu acho que ela vai mudar no futuro. Eu, por exemplo, odeio ser chamado de CEO. Eu não sou um corpo sozinho no topo da pirâmide. Eu trabalho junto com todas as pessoas ali. Então, até a nomenclatura eu questionaria.
NOVAREJO – Nas suas conversas com outros CEOs, o sr. enxerga essa mudança de pensamento neles?
Caito Maia – Não percebo mudanças. É difícil esperar essas mudanças de pessoas que já eram presidentes na época de 2000, 1990. A cabeça é diferente. O que me entristece, na verdade, é ver pessoas dessa geração agindo como senhores feudais. Agindo como o chefe da matilha. Isso é algo que não pode existir mais. Só é possível ganhar o jogo estimulando a vontade dentro da sua equipe.
NOVAREJO – Vai sair um filme seu sobre gestão e você negocia uma série da Netflix. Qual é a sua intenção?
Caito Maia – Ainda não está nada fechado, mas queremos mostrar a história da Chilli Beans. Quero inspirar novos líderes. Existe uma grande carência de mercado dessas histórias. Depois que comecei a participar do Shark Tank (reality show de empreendedorismo) muitas pessoas começaram a falar comigo o quanto eu era próximo das pessoas. A ideia, então, vai ser contar a história da marca e envolver as pessoas de uma outra forma. Mostrar que um brasileiro conseguiu fazer uma história do nada e que todos podem fazer isso.
NOVAREJO – Você quer continuar passando essa ideia de um líder próximo?
Caito Maia – Minha intenção não é essa. Eu quero passar uma mensagem do que acontece – e você não consegue passar essa mensagem se não for algo verdadeiro. Logo, é uma consequência do que pode acontecer com o filme, mas não o objetivo final. As pessoas irão assistir e vão tirar as próprias conclusões.
Fonte: Novarejo