Medo de demissões, pressão maior por resultados e dificuldades para driblar as turbulências do mercado e atingir metas. Períodos de crise econômica se manifestam de muitas formas na dinâmica de trabalho. Um estudo de professores da Cingapura adiciona mais um elemento a esse cenário: a falta de colaboração entre funcionários.
Professores da escola de negócio Insead e da Universidade de Administração da Cingapura observaram, por meio de uma série de experimentos realizados com profissionais de diversos países, que durante períodos de dificuldade econômica profissionais costumam adotar uma postura mais defensiva e considerar que ajudar colegas pode ameaçar seu próprio lugar dentro da empresa.
Os autores definem essa postura como a percepção de que o sucesso de alguns necessariamente implica na perda de outros. Um dos estudos usou dados de quase 60 mil pessoas de 51 países, com respostas coletadas ao longo de 17 anos, e apontou que essa visão de sucesso aparece com mais frequência durante períodos de crise econômica.
Em outros experimentos, realizados com quase 500 profissionais americanos, a exposição à notícias sobre a fragilidade da economia levou os participantes a serem menos cooperativos com seus pares. Em todos os casos, os pesquisadores criaram situações em que oferecer ajuda não traria nenhum prejuízo ou custo aos participantes.
Outro estudo, realizado com cerca de 100 freelancers de 47 países, contratou os profissionais para um trabalho e, durante o período, convidou-os a compartilhar dicas a um estagiário da área. Aqueles baseados em países com a economia debilitada acabaram oferecendo a ajuda com menor frequência e, quando o fizeram, foram mais breves em suas respostas.
Os autores reforçam que inúmeros estudos apontam que a colaboração e a boa vontade para ajudar colegas no trabalho geram benefícios para a empresa e resultam em melhoras no desempenho – algo ainda mais desejado durante um período de crise. “A maior parte dos ambientes de trabalho dependem da colaboração”, escreve Nina Sirola, uma das autoras e pesquisadora do Insead, em um artigo da “Harvard Business Review”. “Por exemplo, um funcionário pode ajudar um colega que esteve ausente a se atualizar no trabalho, ou ajustar sua agenda para acomodar as necessidades do outro. Considerando os benefícios organizacionais de funcionários ajudarem uns aos outros, é importante que essa ajuda não diminua durante períodos de dificuldade econômica.”
A professora destaca que o resultado pode ser uma “profecia autorrealizável”, com a crise econômica modificando o comportamento dos funcionários que, por sua vez, acabam por produzir menos e prejudicar a situação financeira da empresa. “Esforços dos gestores para motivar a cooperação no ambiente de trabalho durante crises econômicas podem tornar as organizações mais resilientes a elas”, diz.
Fonte: Supermercado Moderno