Um país cada vez mais velho, com mulheres mais fortes e homens mais vaidosos. Em comum, o medo de endividar-se além da conta, a vontade de trabalhar e fazer compras perto de casa, e de dar aos filhos uma educação de melhor qualidade. Este é o Brasil dos próximos anos projetado pela consultoria Tendere, especializada em traçar estratégias para produtos de consumo.
Patricia Sant’Anna, fundadora e CEO da Tendere, diz que as análises feitas por sua equipe de pesquisadores mostram que o impacto da recessão de quase três anos nos hábitos de consumo foi de tal monta que os brasileiros das classes B e C passaram a gastar como os das classes D e E. “Só gastam o que sobrou. Estão mais cautelosos e menos deslumbrados”, diz ela, que comanda um grupo de 23 profissionais, entre economistas, antropólogos, geógrafos e historiadores.
O “lado bom da crise” fez o brasileiro prestar mais atenção na administração do dinheiro, questionar mais os bancos, exigir mais dos produtos que consome. “O acesso à internet também ajuda a que todos tenham mais informação”, diz Patricia. Também cresce a parcela de pessoas que quer simplificar a vida – morar em casas menores, ir a pé para o trabalho e fazer compras perto de casa.
Nesse futuro, não tão distante, a tecnologia fica cada vez mais perto e “entra um pouco mais na vida”, diz a CEO da Tendere. “A tecnologia vai grudando no corpo”. Ela se refere aos ‘wearables’, equipamentos como relógios, óculos e roupas dotados de tecnologia capaz de medir frequência arterial ou proteger do sol, entre outras coisas.
Nesse cenário, a estratégia de grandes varejistas de moda que apostam em coleções descartáveis também tende a mudar. No mercado do fast-fashion, “já há grandes empresas pensando em mudar a estratégia. Isso deve ocorrer em 10, 15 anos”, diz Patricia. Uma roupa mais duradoura, com tecido de melhor qualidade, ganharia mais espaço no guarda-roupa.
Depois de uma recessão que fez o PIB recuar 9% no ano passado, em relação a 2015, deixando, até agora, 12 milhões de pessoas sem emprego, Patricia diz que a produção industrial deve voltar aos níveis de 2014 somente em 2020. “O volume vai voltar, mas a qualidade dos produtos terá que ser superior. O consumidor está exigindo mais qualidade”.
Patricia, que tem a empresa sediada em Campinas (SP), está ampliando os negócios para cidades como Florianópolis, João Pessoa, Limeira (SP) e Piracicaba (SP). Ela já conseguiu, em regime semelhante ao de uma franquia, profissionais na Austrália, que abastecem a Tendere com informações sobre a Ásia. Também estão nos planos Colômbia, Chile ou Peru e África do Sul, onde as empresas têm olhado com interesse para o mercado brasileiro, diz Patricia.
Fonte: Supermercado Moderno