Com um custo de ocupação baixo e potencial grande de consumo, cidades do interior voltam a ser a bola da vez para grandes redes de franquias. Marcas como Chilli Beans, Domino’s Pizza e Rei do Mate afirmam que a maior parte das próximas aberturas de lojas, algo entre 70% e 80% do total, será em municípios fora dos maiores centros urbanos.
O processo de interiorização da operação ocorre por certa saturação das metrópoles, já bem ocupadas, mas também por uma mudança do perfil de consumo das cidades menores e um impulso da crise. No momento de crescimento da economia, explica o diretor de franquias do Rei do Mate, João Baptista Silva Jr., o estímulo para explorar outros mercados era menor, uma vez que as grandes capitais apresentavam crescimentos expressivos. “Quando veio a recessão, o interior tornou-se mais atrativo – em razão também do bom desempenho do agronegócio nesses locais.”
O cenário, somado à facilidade em encontrar pontos com um custo de ocupação baixo e uma boa lucratividade, tem levado muitas redes de franquias a focar a expansão da marca no interior dos estados brasileiros. O presidente da Chilli Beans, Caito Maia, afirma que a empresa, que possui hoje 805 lojas, pretende chegar a 1.100 nos próximos anos e que o foco principal serão as cidades fora dos grandes centros. “Das unidades que vamos abrir, 80% estarão em municípios do interior”, diz.
O movimento é uma realidade em todo o setor. Estudo divulgado recentemente pela Associação Brasileira de Franchising (ABF) mostra que, no estado de São Paulo, as cidades do interior têm crescido a um ritmo maior, em número de unidades, do que a capital. Municípios como Jundiaí, São José dos Campos e Piracicaba apresentaram, no primeiro semestre deste ano, uma expansão acima da média do mercado, de 15%, 13% e 12%, respectivamente, e superior também ao avanço de São Paulo, de 9% no mesmo período (veja mais no gráfico).
Os dados, na visão do presidente da entidade, Altino Cristofoletti Jr., confirmam o avanço da interiorização, que deve ocorrer de forma semelhante em outros estados do Brasil. O dirigente destaca custos de operação inferiores, bom desempenho da agricultura nesses locais e menor concorrência – em comparação aos grandes centros – como fatores que explicam o interesse das redes.
Por esses e outros motivos, a Domino’s Pizza, hoje com 200 lojas em operação, pretende ampliar sua atuação no interior de todo o País. Presidente do Grupo Trigo, holding que controla a marca no Brasil, Antonio Moreira Leite diz que a empresa enxerga um potencial de mais 600 operações da rede de pizzarias e que cerca de 70% das aberturas serão em cidades do interior. Ele cita, além de São Paulo e do Rio de Janeiro, estados como Salvador, Rio Grande do Sul e Paraná.
José Carlos Semenzato, presidente de uma das maiores holdings de franquias do setor, a SMZTO, também vê na interiorização o principal caminho para a expansão de suas marcas. De acordo com ele, o grupo está no momento com uma estratégia forte de expansão no interior para a marca Espaço Laser. “Já fechamos as cidades com mais de 100 mil habitantes e estamos no processo de entrar em mais 300 ou 400 cidades com menos de 100 mil”, diz.
Na holding, que detém além da Espaço Laser outras oito marcas de franquias, a participação das unidades do interior no faturamento global gira em torno de 30%. A perspectiva, no entanto, é um crescimento expressivo nos próximos anos, atingindo uma fatia de 50% do total. Um dos fatores que o executivo destaca é a maior lucratividade das unidades localizadas em cidades interioranas. “Estamos montando OdontoCompany no interior do País, em cidades com 40 mil habitantes e, em alguns casos, elas dão mais retorno para o franqueado que as cidades grandes.”
Margem de lucro maior
A maior lucratividade para o franqueado é resultado de um custo operacional muito baixo, em comparação aos grandes centros, e um faturamento que, mesmo inferior, acaba gerando um bom retorno na ponta. A perspectiva de uma margem de lucro maior foi citada por todos os executivos. Caito Maia, da Chilli Beans, exemplificou a situação: “Em algumas lojas [do interior] o aluguel é de R$ 2 mil, e o faturamento chega a R$ 70 mil. O retorno é excelente”, diz.
Para Moreira Leite, da Domino’s Pizza, a relação não é uma verdade absoluta, mas ocorre na maioria dos casos. “De fato há no interior uma estrutura de custos muito baixa e isso confere, potencialmente, um resultado maior para a loja”, afirma.
“Temos um franqueado na rede que acabou de assinar uma unidade de 200 metros quadrados no interior com um contrato de custo de ocupação de R$ 3 mil por mês. Você jamais encontraria uma oportunidade dessa nas capitais”, conclui.
Daqui para frente, a tendência é que o processo de interiorização continue ganhando força no setor, uma vez que sem a estratégia dificilmente as redes seguirão avançando com taxas elevadas. O diretor do Rei do Mate, Silva Jr., resume de forma enfática: “A manutenção do crescimento do negócio depende do fortalecimento da expansão para o interior do Brasil.”
Fonte: DCI