Em abril de 2016, o comércio no Aeroporto de Guarulhos enfrentava sua pior queda desde 2014. O GRU Airport assumiu a operação, antes a cargo da Infraero, em 2013. O céu de brigadeiro pré-Copa do Mundo havia se transformado num cenário tempestuoso de crise econômica e diminuição de público, o que resultou no fechamento de diversos estabelecimentos. O restaurante Arabia, por exemplo, viu seu faturamento mensal cair de 460 000 para 350 000 reais e decidiu encerrar suas atividades por lá. Dos cerca de 300 espaços disponíveis, 25% ficaram sem locatários. A temporada de forte turbulência nos negócios, porém, foi revertida em pouco mais de um ano. O local apresenta hoje ocupação inédita de 95% das lojas. “Abrimos mais de quinze pontos de venda nos últimos doze meses e temos outros dez para lançar em 2018”, afirma Mônica Lamas, diretora comercial da GRU Airport. “A previsão é atender até 38 milhões de possíveis clientes até dezembro.”
O impulso inicial que atraiu as marcas foi a primeira leve alta do número de passageiros depois de dois anos de baixa. Em 2016, o movimento ficou na casa dos 3 milhões de pessoas por mês. Até setembro, ou seja, antes do boom das viagens de fim de ano, a média subiu para 3,3 milhões. Os executivos da GRU também alteraram a estratégia e foram atrás de grupos detentores de marcas mais populares. Miraram o SouthRock, que comanda o Gendai e o TGI Fridays, e o Retail Services, responsável pelo 365 Deli e pelo Bar Bleriot. Outra mudança ocorreu na negociação com os inquilinos mais antigos. Antes resistente a qualquer revisão nos contratos, a administradora passou a ser mais flexível com os lojistas.
A livraria Saraiva, desde 2013 por lá, ficava praticamente escondida em uma praça de alimentação. Em setembro, a marca ganhou um ponto nobre na área de embarque do Terminal 2, com uma fachada extensa e 173 metros quadrados. “Aproveitamos esse momento de revitalização e negociamos o ponto com maior visibilidade”, explica Avelino Nogueira, diretor de operações da Saraiva. Distante poucos metros dali, um corredor ganhou, em menos de um ano, cinco operações: Sestini, O Boticário, Imaginarium, Farmais e Puket. Em fase avançada de obras, o restaurante Cortés, churrascaria da rede Ráscal, que atua no Terminal 3, promete inaugurar sua grelha em novembro. “Os passageiros, principalmente os internacionais, apreciam muito a carne brasileira. Por isso resolvemos apostar nesse modelo”, afirma Rodrigo Testa, diretor do grupo.
Responsável por 66% dos negócios no local, a Dufry, com sede na Suíça, ocupa 7 500 dos 37 000 metros quadrados disponíveis para o varejo. Além de um novo quiosque da Dior, marcas brasileiras como Loungerie, Reserva, Vivara e Quem disse, Berenice? ganharam espaço na área administrada pela empresa. Entre os passageiros, principalmente os mais recorrentes, o aumento do mix de lojas foi notado e comemorado.O advogado Eduardo Maciel, de 36 anos, do Recife, viaja quase semanalmente para cá. “Tive três voos atrasados no último mês e consegui aproveitar bastante essas novidades”, comenta. “Acho bacana dispor de opções dentro da ala de embarque aqui. Em outras cidades só tem pão de queijo e café.”
Outra guinada está prevista para o começo de 2018, quando o acesso ao aeroporto, distante 30 quilômetros da capital, deve ser facilitado pela Linha 13-Jade. A CPTM promete para março do ano que vem a oferta de três tipos de viagem. Uma delas será a Airport-Express, que levará os usuários da estação Luz para Cumbica, em um trajeto de 35 minutos. A previsão é que, a cada dia, 120 000 usuários utilizem a nova linha. “Nosso público deve aumentar consideravelmente, e estamos preparados para isso”, afirma Mônica Lamas.
Fonte: Veja