Meio tortos, meio gordos, meio magros. Dez tipos de frutas, verduras e legumes fora do padrão visual habitual foram rebatizados de “únicos”, e são vendidos com descontos a partir de 30%, em uma experiência piloto que começou na última sexta (27/10) no Carrefour, em São Paulo.
São dez itens – abobrinha italiana, batata, berinjela, beterraba, cebola, cenoura, chuchu, laranja, maçã, pepino e tomate– vendidos mais baratos todas as sextas, em dois supermercados da rede, um no bairro de Pinheiros e outro na Estrada do Pêssego. As unidades foram escolhidas por atenderem consumidores de perfis de renda bem diferentes.
O aproveitamento de alimentos “feios” começou em pequenos armazéns alternativos mundo afora ainda na década de 1990, junto com as ideias do consumo consciente.
Nos últimos anos, atingiu também grandes distribuidores de alimentos, eles mesmos responsáveis por padrões restritivos de cor, calibre, tamanho e formato que agora se dispõem a flexibilizar, em nome do combate ao desperdício.
“A perda de alimentos no Brasil, em toda a cadeia, é fenomenal”, diz Paulo Pianez, diretor de Sustentabilidade do Carrefour. “Começa na inabilidade dos produtores, enfrenta perdas no transporte e na armazenagem, atinge os supermercados e por fim a casa dos consumidores”, descreve. “O varejo faz parte do desperdício dessa chaga que assola o País”, observa.
Trazidos das zonas de cultivo, os produtos, quando rejeitados pelos grandes compradores, têm dois caminhos possíveis: ou são vendidos para entrepostos com menos restrições ou são descartados, segundo Pianez.
Colocar agora nas prateleiras as mercadorias vetadas pelos controles dos próprios supermercados exige movimento interno e negociação com os fornecedores. “Temos conversado com os produtores, indicando que foi aberto um novo canal para escoar a produção, desde que atendidos os critérios de qualidade, e os itens embalados em porções de 1 kg”, explica.
Internamente, foi criada uma classe específica nos controles de aceitação de produtos: o que não era aceito antes, agora é destinado a esse novo tipo de venda. “No ponto de venda, procuramos separar os produtos de maneira convidativa e evitar o tom pejorativo”. Daí a ideia de “únicos”. “Perfeitos por dentro, diferentes por fora”, diz.
A empresa não tem um cronograma fechado de expansão da iniciativa para as demais lojas da rede. Tudo depende das negociações locais com os fornecedores, para que se estabeleçam novos fluxos. Nas lojas, segundo Pianez, as adaptações são simples e o sistema já está organizado.
Pianez também não arrisca prever em que medida a iniciativa reduzirá as perdas de produtos na empresa. “Sabemos que existe o desperdício, mas não quantificamos, porque o que é rejeitado não entra na contabilidade”, afirma.
“Mas sabemos que era significativo, tanto é que virou uma nova linha de produtos.”
O lançamento da linha “Únicos” vai integrar uma plataforma digital contra o desperdício e um app, que indicará ofertas locais e preços dos fora de padrão. “Queremos ampliar a comunicação com o consumidor, com dicas sobre manipulação dos alimentos, reaproveitamento”. “Como o Carrefour é o maior distribuidor de alimentos hoje no Brasil, essas ações, quando ampliadas no nivel nacional, terão força no combate ao desperdício no país”, diz.
Fonte: Supermercado Moderno