Cerca de 51 homens e mulheres usando becas e capelos reluzentes, azuis e amarelos, caminharam pelo Walmart para receber certificados em um palanque montado no departamento de jardinagem da loja. Um homem de kilt, tocando gaita de foles, liderava a marcha dos diplomados.
Para Roy Walts, essa foi a primeira vez que ele se formou em qualquer coisa. Walts deixou os estudos na nona série, depois que seu pai morreu de câncer e a mulher dele ordenou que o adolescente saísse da casa. Aos 15 anos, vivia em uma caixa de coleta de roupas do Exército da Salvação. Certo Natal, comeu cookies encontrados em uma caçamba de lixo.
Assim, quando Walts, 53, subiu ao palanque naquela manhã de abril, diante do prefeito local, do gerente regional da Walmart para o interior do Estado de Nova York, e de seu filho, que havia virado a noite trabalhando, repondo mercadorias nos freezers da loja, ele sentia um friozinho na barriga. “Tinha certeza de que tropeçaria ao subir para o palanque”, relembrou Walts, gerente do departamento automotivo da loja.
Walts se formou pela Walmart Academy, um dos maiores programas de treinamento mantidos por empregadores nos Estados Unidos. Desde março de 2016, o Walmart ofereceu treinamento a mais de 150 mil de seus gerentes e supervisores de lojas, ensinando coisas como técnicas de promoção e motivação de funcionários, em cursos de algumas semanas de duração.
Cerca de 380 mil funcionários de nível básico participaram de um programa de treinamento separado, chamado Pathways. A maioria desses trabalhadores recebe um aumento de salário de US$ 1 por hora ao completar o curso.
Empresas norte-americanas gastam cerca de US$ 170 bilhões (cerca de R$ 535 bilhões) ao ano em programas formais de treinamento de trabalhadores, mas a maioria desses programas beneficia funcionários com diplomas de ensino superior.
O Walmart investiu US$ 2,7 bilhões em treinamento e aumento de salários para 1,2 milhão de seus trabalhadores, nos dois últimos anos – um investimento que reflete as pressões que a companhia enfrenta no setor de varejo.
Combatendo a Amazon em busca de vendas, o Walmart está tentando fazer de suas lojas lugares mais agradáveis para compras. Isso requer uma força de trabalho bem treinada, com senso de propósito e de valor pessoal – qualidades que pode ser difícil fomentar nos trabalhadores de salário mais baixo.
Mas não se sabe se todo esse treinamento está ensinando aos trabalhadores competências valiosas que podem facilitar sua ascensão à classe média ou se isso simplesmente os torna melhores empregados para o Walmart.
E mesmo com mais capacitação, muitos trabalhadores de varejo jamais serão capazes de atingir salários comparáveis aos que operários um dia ganharam em cidades como Fulton, um centro industrial decadente perto de Syracuse. “Será muito difícil substituir o que perdemos”, disse Ronald Woodward, prefeito de Fulton. “Empregos de varejo não se comparam aos industriais”.
Pesquisa
Em um estudo bancado pelo Walmart, pesquisadores da Coalizão Nacional de Capacitação Profissional, uma organização sem fins lucrativos que promove o investimento em treinamento, constataram que 60% dos trabalhadores do varejo não são proficientes em leitura e 70% deles têm dificuldades para lidar com números.
O programa Pathways trata de algumas dessas questões ao ensinar “matemática de varejo”, ou as capacidades básicas de aritmética de que um trabalhador precisaria para trabalhar em um caixa ou como repositor de produtos.
A academia se destina a supervisores e gerentes de departamento, mais experientes. Estudando em salas de aula montadas em 150 lojas Walmart espalhadas pelos Estados Unidos, os empregados aprendem como calcular lucro e prejuízo, e a dirigir seus departamentos como se fossem pequenas empresas.
Os gerentes também são ensinados a conhecer melhor seus subordinados e a compreender a vida caseira deles.
O Walmart no passado era visto como um pária vindo da porção rural dos Estados Unidos, e algumas pessoas – especialmente aquelas que não fazem compras lá – o criticavam como responsável pela destruição de empresas locais, ao vender produtos baratos fabricados na China. Agora, o Walmart está se redefinindo como uma companhia cujo foco são seus trabalhadores e o destino das pequenas cidades e de algumas cidades maiores que enfrentam crises.
“As becas e capelos, o simbolismo, não são coisas triviais”, disse Anthony Carnevale, diretor do Centro para a Educação e a Força de Trabalho da Universidade de Georgetown. “Eles estão tentando criar nos funcionários o sentimento de ‘nós somos a loja’. Estão tentando fazer do Walmart parte das pequenas cidades norte-americanas. E isso é ruim? Não”.
Outros pesquisadores dizem que o que muitos trabalhadores do Walmart necessitam não é treinamento, mas salários mais altos. Os programas de treinamento, afirmam, são úteis para melhorar o desempenho e conquistar a lealdade dos empregados, mas salários mais altos beneficiariam mais os trabalhadores.
Fonte: Supermercado Moderno