No coração da capital de uma nação fundada sobre ideais de igualdade social, o braço comercial das forças armadas de Cuba transformou uma velha galeria comercial em um templo do capitalismo.
O “La Manzana de Gómez” se converteu em um fenômeno sociocultural desde sua inauguração, há poucas semanas, com a chegada das primeiras lojas, de marcas como L’Occitane, Mont Blanc y Lacoste.
Os cubanos de idade mais avançada parecem ficar assombrados ao ver artigos que custam mais do que vão ganhar em toda a sua vida. Adolescentes e jóvens posam para fotos, que publicam no Facebook, em frente às vitrines das lojas, fazendo gestos de vitória.
O “La Manzana” tem cinco andares e fica perto do Prado, o boulevard que divide o coração do setor colonial da cidade.
Nos andares superiores será inaugurado em junho um hotel de cinco estrelas de propriedade da agência de turismo dos militares, chamada Gaviota, administrada pela cadeia de luxo suíça Kempinski. O hotel se apresenta como o primeiro verdadeiramente cinco estrelas da ilha e as lojas de marcas luxuosas do shopping parecem reforçar essa imagem.
Nas galerias do térreo, há lojas de marcas de luxo internacionais e negócios cubanos menos conhecidos, mas que oferecem artigos caros ao alcance de uma pequena, mas crescente, classe média alta cubana.
O hotel está recebendo bons comentários, mas muitos turistas dizem que o shopping é repulsivo. “Foi uma grande decepção”, diz Jeannie Goldstein, que trabalha com marketing esportivo em Chicago e fez sua primeira visita a Cuba. “Vim aqui para fugir dessas coisas. Isso é uma manifestação de riqueza e de valores americanos”, acrescenta.
As vendedoras da loja da L’Occitane en Provence ganham um salário de US$ 12,50 por mês. Na loja, um frasco de perfume custa US$ 95,20 e um creme facial rejuvenecedor sai por US$ 162,40. A poucas portas de distância uma câmera Canon EOS custa US$ 7.542 e um relógio Bulgari, US$ 10.200.
Com a economia em recessão e dívidas em torno da ajuda petroleira que Cuba recebe da Venezuela, o governo da ilha parece lutar entre a necessidade de reformas orientadas a uma economia de mercado e o temor de que as desigualdades sociais gerem surtos de insatisfação e pedidos de mudança social.
Fonte: G1