Quem olha apenas o crescimento do setor pelo critério que considera todas as lojas (inauguradas no ano e as que já existiam) pode ter a falsa impressão de que o ano não foi difícil. Afinal, o faturamento apresentou alta de 3,1%, já descontada a inflação média de 2016, que foi de 8,77% calculada pelo IPCA. Com isso, a receita anual atingiu R$ 428,1 bilhões. É o que aponta o 46º Ranking de SM , levantamento realizado com mais de 300 empresas de todo o País.
O aumento nas vendas foi puxado pelo atacarejo, que cresceu 14,1% em 2016 devido à forte expansão. Em contrapartida, as vendas em mesmas lojas tiveram queda real de 1,3%, o que indica que o setor enfrentou dificuldades – embora bem menos do que outros segmentos da economia. Boa parte delas está associada à conjuntura negativa, que levou à queda do consumo. No entanto, para conter o recuo, os supermercadistas tomaram decisões que também acabaram prejudicando as vendas. Entre elas, redução de compras, o que afetou o abastecimento das prateleiras, e um sortimento com excessivo número de itens, o que reduziu o espaço de versões de maior giro.
Consumo das famílias recua
Com o aumento do desemprego, que saltou de 9% para 12% em 2016, a renda média real do brasileiro caiu 4%, conforme dados da Tendências Consultoria. De quebra, a inflação média no varejo alimentar foi maior do que a média do IPCA, alcançando 9,4%. “Esses dois fatores contribuíram para queda mais acentuada do poder aquisitivo e obrigou o brasileiro a um novo ajuste no padrão de compras, que já vinha caindo desde 2015”, afirma João Morais, economista da consultoria. O resultado, segundo ele, foi a queda no tíquete médio de compra. “As pessoas intensificaram a troca de marcas, a busca por mais promoções e a migração para novos canais de compras para economizar”. Esse comportamento é comprovado por pesquisa da consultoria Nielsen, realizada em 2016. O estudo mostra que 52% dos lares foram impactados pela crise por estarem endividados ou terem algum familiar desempregado. Nesse grupo, o trade down foi mais acentuado. Em bebidas não alcoólicas, por exemplo, o consumidor migrou para marcas mais baratas em 75% das categorias. Já nos domicílios em situação mais favorável, a migração para itens de preço mais baixo ocorreu em 50% das categorias.
Ruptura teve picos durante o ano
A dificuldade de caixa também causou impacto negativo nas vendas do setor. Como é comum entre várias empresas, os compradores costumam queimar suas verbas em negociações com descontos e acabam precisando de recursos suplementares. Mas esses recursos minguaram com a crise, e a consequência foi reduzir as compras junto aos fornecedores. Muitos empresários também reduziram por medo de encalhe. O resultado foi índices altos de ruptura em diversos momentos. Embora a taxa tenha fechado em 9,36% no final de 2016, em sete dos 12 meses ela ficou acima desse patamar. Em janeiro atingiu 13%. Heloisa Callegaro, sócia da McKinsey, lembra de casos em que, para economizar, o varejista comprou similar mais barato do item de maior procura. Muitas vezes, porém, esse item não correspondeu ao desejo do consumidor e ficou na prateleira. Tais decisões criaram um ciclo vicioso: sem o giro da mercadoria, o varejista não refez o caixa para voltar a comprar, o que elevou a ruptura e reduziu as vendas. Para Bruno de Oliveira, sócio da Falconi Consultores de Resultados, faltou também agilidade para reagir à crise, uma vez que ações para estancar a queda nas vendas só começaram a ser tomadas em meados de 2015, com a crise já instalada. “Isso acontece porque faltam métricas para identificar e combater rapidamente as ineficiências”, explica. “Continuamos encontrando empresas que compram, precificam e expõem incorretamente.” Segundo o especialista, o setor precisa se aprofundar na análise dos dados gerenciais. Até agora, a maioria ainda recorre às mesmas táticas, que nem sempre geram aumento de vendas.
É o que aponta o 46º Ranking de SM, levantamento realizado com mais de 300 empresas de todo o País.
Fonte: Supermercado Moderno