Maior nome global do setor ótico, a italiana Luxottica surpreendeu o mercado há duas semanas. Líder na fabricação de armações e responsável pelos óculos de grifes como Ray-Ban, Giorgio Armani e Prada, a empresa anunciou uma fusão com a francesa Essilor, principal produtora mundial de lentes. O acordo criou uma gigante com valor de mercado de € 46,3 bilhões, com receita superior a € 15 bilhões. Agora, a empresa que construiu uma presença direta em todas as etapas da cadeia, voltou a surpreender. Na segunda-feira 23, a Luxottica anunciou a aquisição da Óticas Carol, principal varejista nacional do setor, com uma receita de R$ 813 milhões em 2016.
O acordo fechado por € 110 milhões (R$ 366 milhões) envolveu a compra de 100% das ações da rede, que seguirá sob o comando do CEO Ronaldo Pereira, que detinha 12% da operação. Os 88% restantes pertenciam ao grupo britânico 3i e aos fundos americanos Neuberger Berman e Siguler Gutt. “Agora, temos condições de desenvolver a marca não só no Brasil, mas no mundo”, disse Pereira, à DINHEIRO. “Estamos dando um passo para completar nosso modelo vertical e integrado de negócios”, afirmou Leonardo Del Vecchio, fundador e CEO da Luxottica, em comunicado sobre o acordo.
Com a transação, a Luxottica incorpora 950 lojas e um laboratório de produção de lentes, instalado em Barueri. Até então, a atuação direta no varejo era o único elo da cadeia no qual a empresa tinha uma presença tímida no País. Sua presença estava restrita às cem lojas da rede Sunglass Hut, de óculos de sol. Desde 2011, o grupo mantém uma fábrica e um centro de distribuição em Campinas, frutos da compra da Tecnol, em 2011. “Chegamos a flertar nesse período”, diz Pereira. A negociação, porém, ganhou fôlego há um ano, com a aproximação do momento de saída dos fundos investidores da empresa.
A aquisição ainda está sujeita à aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Mas para especialistas ouvidos pela DINHEIRO, mesmo com a nova estrutura da Luxottica no Brasil, há pouco risco de concentração, especialmente pela dinâmica local do varejo do setor, extremamente pulverizado. “Em países como Estados Unidos e México, as principais cadeias representam mais de 40% das vendas”, diz Guilherme Machado, analista da consultoria Euromonitor. “No Brasil, as três maiores redes representam menos de 10%.”
Líder do setor, a Óticas Carol tem uma fatia de 3,6% do total de 26 mil unidades no País, segundo a Associação Brasileira de Indústria Óptica (Abióptica). “A Luxottica não sobrevive no Brasil apenas com essa rede própria”, afirma Bento Alcoforado, presidente da Abióptica. “É impossível escoar toda a sua produção sem as óticas independentes, onde está o grosso da distribuição.” Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese, ressalta que o grupo tem um modelo consolidado de convivência entre canais próprios e de parceiros. “Seria um tiro no pé abandonar essa estratégia.” Questionado sobre os impactos do acordo, Ronaldo Pereira ressalta que a Óticas Carol tambén trabalha com parceiros e que concentrar as estratégias nas marcas do grupo é inviável.
Em 2017, a Óticas Carol projeta uma receita de R$ 918 milhões e 175 novas lojas. “Ainda dependemos da aprovação do Cade, mas podemos ampliar esses números”, diz Pereira. O executivo enxerga possíveis ganhos com o acordo, em frentes como a integração dos estoques e a maior velocidade na entrega de produtos e serviços. A expansão para a América Latina e o sul dos Estados Unidos, um sonho antigo do executivo, e a criação de um canal de e-commerce são outras frentes que devem ganhar força, a princípio, a partir de 2018. “Agora, temos um parceiro que nos permite ter uma visão de longo prazo.”
Fonte: IstoÉ Dinheiro