A retomada das vendas do varejo no Brasil terá um efeito amplificado nos lucros das empresas em razão de ajustes adotados pelas companhias para enfrentarem o cenário difícil dos últimos anos, avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra.
“Com a crise, muitas empresas ficaram mais enxutas, tomaram decisões difíceis, fecharam lojas, abortaram projetos ruins, entre outras medidas (buscando eficiência operacional)”, disse ele, explicando que isso se refletirá em lucros crescendo mais do que as vendas quando estas reagirem.
Um exemplo de medidas de gestão está o Grupo Pão de Açúcar (SA:PCAR4), maior varejista do país, que apenas no segundo trimestre deste ano fechou 22 lojas e abriu 9.
“O impacto da retomada vai ser maior no resultado do que na venda”, avalia Terra, acrescentando que o setor de eletrodomésticos será o mais beneficiado, uma vez que tende a ser o que apresenta as maiores oscilações também nos períodos negativos.
O presidente da SBVC, uma entidade sem fins lucrativos e com atuação complementar às demais do varejo, aguarda começo da retomada no setor como um todo a partir do quarto trimestre, mas destaca que o ritmo dessa recuperação ainda é uma incógnita, uma vez que depende de outras variáveis, particularmente crédito.
Na visão de Terra, se a recente melhora da confiança continuar e houver uma retomada do crédito, o setor poderá reagir mesmo com o desemprego e a renda ainda não acompanhando o movimento. Ele argumenta que as pessoas empregadas que deixaram de comprar afetaram mais do que aqueles que não têm emprego.
Segundo ele, o resultado das vendas da Black Friday neste ano deve ser melhor do que em 2015, com o varejo apostando fortemente em promoções, mas com os números também influenciados pelo aumento da popularidade em si da data e pelo crescimento do comércio eletrônico como um todo. A Black Friday está marcada para a última sexta-feira de novembro.
Apesar de esperar também um desempenho melhor para as vendas no Natal, principalmente por causa da base de comparação fraca de 2015, Terra alertou sobre o risco dos números da Black Friday criarem uma falsa expectativa como ocorreu no ano passado.
“O ideal é olhar o conjunto das duas datas e eu acredito que o conjunto será melhor “, afirmou.
Em relação aos estoques do varejo para o fim do ano, Terra observa uma preparação conservadora, mas as redes de varejo estão preparando planos alternativos no caso de uma demanda acima do esperado. “Eles estão preparados para uma demanda pé no chão, sem risco de super estocagem, mas preparados para correr atrás cada um do seu jeito se precisar.”
No segmento de varejo de moda, o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX), afirmou na semana passada à Reuters que a maior parte das empresas está trabalhando com um cenário igual ao de 2015, quando as vendas de fim de ano não foram fortes.