Livreiros reunidos na 26ª Convenção Nacional de Livrarias, realizada pela Associação Nacional de Livrarias (ANL) na última quarta-feira, em São Paulo, debateram o futuro do livro. “Está claro para mim que a gente precisa olhar para o presente. Se a gente conseguir ter clareza do que está acontecendo hoje, esse futuro vai ficar muito mais claro”, pontuou Marcos Pedri, da Livrarias Curitiba. Pedri dividiu o palco com Benjamin Magalhães, da Livraria da Travessa, e Marcus Teles, da Leitura, na mesa Pensar e criar a livraria do futuro.
Teles traçou dois cenários para o futuro das livrarias. O primeiro deles, se as coisas continuarem como estão, sem a regulamentação do mercado, Teles prevê aumento na concentração do mercado em poucas redes, aumento dos descontos das editoras e, em consequência disso, o fechamento das livrarias.
No outro cenário, com a Lei do Preço Fixo, que tramita no Congresso Nacional, aprovada, ou uma auto-regulamentação do mercado, Teles prevê mais competitividade para as livrarias físicas. Sem citar o grande bicho papão das livrarias, a Amazon, Teles decretou: “ganhar da turma da internet não é fácil não”.
Se Marcus Teles poupou o nome da Amazon, seu companheiro de mesa Benjamim Magalhães soltou o verbo. “A Amazon não é a favor do comércio. A Amazon não quer relacionamento com ninguém. Quer que a festa do play seja só deles”, destilou. E foi além e alfinetou também os editores. “Para pensar na livraria do futuro, tem que pensar no mercado como um todo. O relacionamento com os editores deveria ser um relacionamento de marido e mulher: com algumas brigas de vez em quando, mas com fidelidade. Mas o que a gente vê é que as editoras, para pagarem suas contas, ultrapassam as livrarias. A gente ainda olha muito desconfiados um para o outro. Temos que parar com isso. Editores e livreiros precisam se unir para pensar no mercado e criar uma política. Só assim a gente vai conseguir acabar com essa força bruta que não quer negociar, que é a Amazon”, comentou.
Crise
O assunto crise foi recorrente durante a convenção. Já na primeira mesa do evento, a jornalista e escritora Miriam Leitão fez um painel das crises brasileiras, dando ênfase ao momento atual e às perspectivas de futuro. Ela acredita que o pior da crise já passou e que, já para os próximos meses, deverá haver uma melhora nesse cenário de crise.
A crise levou a Travessa a diminuir em 20% o seu quadro de funcionários no ano passado e pisar no freio dos seus planos de expansão. “Em tempos de intenso nevoeiro, a gente leva o barco bem devagar”, disse Benjamin Magalhães.
Marcus Teles, mais otimista, acredita que a crise ensina a ter coragem. Mesmo abrindo novas lojas todos os anos, a estratégia da Livraria da Leitura é não ter medo de fechar as que não apresentam resultados positivos. “A crise nos ensina a economizar e a fechar lojas. Não vamos segurar lojas deficitárias. Manter uma empresa lucrativa nesse período é muito difícil”, disse. “Estamos fechando lojas que estão sem lucrar há dois anos. Estamos aproveitando a crise para isso”, comentou. [Clique aqui para ver os planos da Leitura para o resto de 2016 e para o ano que vem].