Presidente da CVC, maior agência de viagens do Brasil, Luiz Eduardo Falco, 53, diz que o país levará cinco anos para retomar o patamar em que estava antes de sua crise econômica atual.
Segundo ele, os problemas brasileiros e as soluções que devem ser implementadas pelo governo de Michel Temer, presidente interino, são de fácil entendimento, mas de difícil execução. Isso mesmo tendo Henrique Meirelles na Fazenda, a quem o executivo se referiu como maior economista do mundo.
Leia entrevista que Falco concedeu à Folha, por telefone.
Folha – Qual sua visão sobre o futuro da economia brasileira, levando em conta a troca de governo?
Luiz Eduardo Falco – Os diagnósticos para o Brasil não são tão complexos assim. A execução é que é complicada, por depender da política. As pessoas falam em medidas duras. Eu não acho que sejam duras, mas que são as necessárias.
A gente trabalha com dois cenários. Se conseguirmos superar o desafio que vem pela frente, teremos uma recuperação de talvez 0,5%, 0,8% em 2017. O outro cenário é o de não conseguirmos executar o plano, ou fazer isso parcialmente, o que levaria a uma queda de 2%, 2,5% do PIB.
Quanto tempo vai levar até a recuperação do país?
Já vi muita crise no Brasil e todas elas demoraram dez anos para acabar. O Brasil está mais maduro, acho que pode demorar só cinco agora.
Isso porque superar uma crise não é só voltar a ter crescimento positivo. Se caímos de 100 para 95 e depois para 92, subir 1 em 2017 significa chegar em 93. Mas sair da crise é voltar para 100. Ela não termina quando você começa a sair do ponto baixo, e sim quando você volta para onde estava.
Quais as mudanças mais urgentes?
Em primeiro lugar um ajuste no custeio do governo. Em casa você não pode gastar mais do que você recebe, é uma questão de economia doméstica.
Sem dúvida nenhuma outras reformas, como a da Previdência, são muito importantes em um médio prazo. Não se pode justificar que, em um país como o Brasil, ainda a ser construído, a idade média para a aposentadoria seja de 55 anos. É muito difícil defender isso, quando, nos países construídos, as pessoas se aposentam mais tarde do que aqui.
E a reforma política é importante, para sairmos desse ciclo que a Lava Jato acabou externando.
Também é importante dar uma simplificada na confusão que é a questão tributária, rever a questão dos Estados e Municípios, que estão quebrados. Se o cara fizer isso, ganha medalha olímpica. Mas passar isso no Congresso não é fácil.
O sr. é otimista em relação ao futuro?
Trabalho de 12 a 14 horas por dia, sou animado para caramba, estou na ponta do varejo. Nunca deixei de ser otimista. Mas o Brasil é o que é. Se observar decisões passadas vê que com frequência são feitas más escolhas e a conta chega mais tarde.
Na questão da Previdência, por exemplo, o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez uma reforma em que poderia ter estabelecido 65 anos como idade mínima de uma maneira escalonada que, caso fosse feita, hoje já estaríamos com ela em vigor. O governo não topou, achou que deveria ser feita de uma vez só, perdeu e estamos de volta com o problema.
Esse problemas que estão aí já tiveram chances de serem enfrentados, mas o Brasil não o fez. Novamente podemos ou não fazer isso.
Qual a situação do turismo em meio a crise?
Ele corre um pouco por fora disso aí. As famílias, nas classes alta, média e baixa, tem a viagem incorporada em seu consumo. Claro que não existe bom pagador sem dinheiro, mas viagem já é um dos três primeiros desejos do brasileiro.
E turismo é andar 100 quilômetros e dormir fora de sua casa. Você pode ir na Praia Grande (SP) e isso é turismo ou ficar no hotel mais chique de Paris que também é turismo. Quando começa a faltar dinheiro, as pessoas readequam. Quem ia para os Estados Unidos vai para o Caribe, quem ia para o Caribe vai para o Nordeste, quem ia para o Nordeste vai para a Praia Grande, mas não deixam de sair.
O trabalho da CVC é adequar o produto que o cara pode comprar ao tamanho do bolso que ele tem.
Mas não são feitos sacrifícios financeiros, com parcelamentos longos e promoções, por exemplo?
Nossa empresa tem mil lojas e cresce todo ano. Temos 20 mil consumidores conversando com a gente todo dia, temos o pulso do mercado, sabemos onde aperta o sapato do cara, como ajustar o orçamento com mais uma ou duas prestações.
Claro que a empresa não é filantrópica, temos que buscar o lucro, mas temos o pulso do mercado. Então não chamo isso de esforço, digo que é esse o nosso negócio.
Desde 2015, a CVC comprou a Submarino Viagens e contratou Alipio Camanzano, presidente da Decolar. Haverá mudanças no modo como trabalham a internet?
Nossa estratégia é multicanal. Se você for em uma empresa que só trabalha com internet, ela vai dizer que a internet é o futuro. Se for em uma que só tem agências, dirá que loja é o futuro.
A gente não está muito preocupado com onde o cliente vai comprar. Queremos entender o comportamento do consumidor em cada canal para dar a ele ofertas específicas.
Por exemplo, você pode entrar na internet e comprar um pacote para viagem ao Rio de Janeiro, afinal de contas, é logo ali, vai para uma praia que já viu, o risco é baixo.
Agora, você não vai fazer uma festa com a família em Punta Cana comprando pela internet. Você quer alguém para te ajudar, para entender o costume do lugar. Precisa de um caminhão de informação que te levaria 2 meses de pesquisa na internet e, mesmo assim, faria 80% do que um profissional faria em dois minutos. São modos diferentes de consumo em canais diferentes.
Como vão lidar com a guerra de preços e a baixa rentabilidade característica do comércio virtual?
Quando olhamos as empresas que são puramente de internet, vemos que elas estão queimando caixa sem parar. Isso não é sustentável. A gente não precisa fazer isso. Queremos atender o cliente ganhando dinheiro.
Tem um equívoco no Brasil de pensar que a loja é cara porque exige que se pague aluguel e vendedor. Mas, na internet, você tem que comprar tráfego, tem que pagar o Google para levar clientes ao site. E ele é a maior empresa da internet, o negócio deles é tudo para eles e nada para vocês.
Quando olho o custo de atrair cliente em uma loja física e na interne, vejo que é bem similar. Não existe essa história de que loja virtual é mais barata.
Agora, eles têm a estratégia de crescer, crescer e crescer e depois fazer uma abertura de capital e passar o mico para alguém, alguns vão dar certo, outros não e essa é a vida. Nós não estamos nesse jogo.