Para o presidente da Iguatemi Empresa de Shopping Centers, Carlos Jereissati Filho, em um “cenário de maior risco, os investimentos são de menor risco”
Com 18 shopping centers e dona do Shopping Iguatemi, o mais antigo do País e que completa em 2016 meio século de funcionamento, a Iguatemi Empresa de Shopping Centers está otimista com a mudança do cenário político, mas continua cautelosa com os investimentos. No primeiro quadrimestre deste ano, por exemplo, o fluxo de pessoas nos shoppings da empresa caiu 1,59%. Carlos Jereissati Filho, presidente da empresa, diz que, com as recentes mudanças, “o País passou a ter um norte”. Mesmo assim, a cautela domina. “Em um cenário de maior risco, os investimentos são de menor risco”, ressalta.
Nesse sentido, a empresa pretende manter a política adotada nos últimos tempos. Apostar em expansões dos shoppings consolidados, como as que ocorrerram recentemente com empreendimentos em Campinas (SP) e Porto Alegre (RS), e em outlets, cujo investimento chega ser um terço do que é gasto para erguer um novo shopping.
Atualmente, a empresa tem três projetos de outlet. Um deles, o localizado em Tijucas, em Santa Catarina, com inauguração prevista para 2017 e que absorveu R$ 147,1 milhões. Os outros dois outlets estão em fase de terraplenagem. Um deles será em Belo Horizonte (MG) e o outro em Curitiba (PR), com aberturas programadas para 2018 e 2019, respectivamente. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.
O que explica o sucesso de 50 anos do Shopping Iguatemi em meio a maior crise do varejo?
O segredo é ter uma ideia, ter um conceito, uma estratégia clara de ser não o maior, mas o melhor, e trabalhar para constantemente evoluir e produzir essa diferenciação concreta para as pessoas. Como fazer um ambiente melhor, como fazer um ambiente onde as pessoas se sintam melhor do que em outros lugares. O Iguatemi consegue muito isso. Como trazer um conteúdo que é único, que você só encontra aqui. Das 300 lojas, quase 100 lojas você só encontra no Iguatemi. Ser capaz de manter a excelência operacional, tudo funcionando, a qualidade do espaço. Quando você pega todos esses atributos e trabalha eles com disciplina ao longo desses anos todos, acho que você tem uma marca que evolui e é capaz de entregar o que o cliente está sempre querendo comprar.
Quanto vocês investem por ano em porcentual do faturamento no próprio shopping?
É difícil precisar um número de investimento. Mas sempre houve um reinvestimento da ordem de 2% a 4% do faturamento.
Dos 18 shoppings do grupo, o shopping Iguatemi é o mais importante?
Ele é o mais importante empreendimento de shopping center do Brasil em receita por metro quadrado. É 30% a 40% maior do que qualquer outro.
Quanto representa da receita do grupo?
Não divulgamos esse número. Já foi mais importante, hoje é menos importante porque hoje temos 18 empreendimentos. Mas o shopping Iguatemi ainda é uma parcela importante do faturamento do grupo. Mas do que isso: ele é a alma do negócio para manter viva a marca. É onde você pode experimentar coisas, introduzir coisas novas. O Iguatemi permite isso. Por isso, tornou-se uma referência. Todo mundo vem aqui, não importa de qual Estado brasileiro, vem ver o que a gente fez para ver se vale a pena fazer igual.
Vocês sentiram a crise que afetou especialmente o varejo?
Todo mundo sentiu a crise, é inevitável.
Tem algum número que mostre esse impacto?
A venda das mesmas lojas, que já teve crescimento de dois dígitos, vem caindo. Divulgamos no último trimestre uma taxa de 2%. Isso mostra que mesmo o segmento de média e alta renda, que tem muito mais resiliência que os demais segmentos, também foi afetado pela crise. Quando uma economia encolhe 4% num ano e praticamente 4% no ano seguinte não tem como ficar imune. Mas, obviamente, muito menos do o resto do Brasil. Por isso, que o Iguatemi consegue ter esse algo a mais.
Com qual horizonte vocês estão trabalhando para o ambiente do varejo e dos investimentos?
Acho que pelo menos hoje o Brasil tem um norte. O País estava sem norte, uma enorme falta de confiança, uma constante briga política. Hoje o País tem uma norte e os investidores nacionais ou de fora entendem uma linguagem de austeridade. Não existe gastar mais do que se ganha. Isso é sinônimo de um problema futuro. E o Brasil vinha demonstrando isso. Agora, na medida que a autoridade pública reconheça e trabalhe para diminuir a trajetória de dívida pública e a economia privada deslanche, tenho certeza de que num curto espaço de tempo novos investimentos virão.
Vocês têm muitos empreendedores estrangeiros no shopping Iguatemi. Foi sentida uma mudança de humor? Marcas quem estava pensando em vir para o País colocaram um pé atrás?
Pelo contrário. Marcas que nos últimos seis meses estavam muito assustadas com o Brasil, hoje não estão. Houve um movimento na direção correta. Não só de estrangeiros. Há um sentimento por parte de qualquer pessoa que trabalhe ou investe de que é preciso colocar ordem na casa. Se colocarem de fato ordem na casa, o Brasil tem muita chance de voltar a crescer. É isso que todo mundo espera. É o crescimento que traz emprego, renda nova.
E as perspectivas de futuro, o grupo está mais focado em outlet e menos em shopping?
Temos várias estratégias de crescimento. Obviamente estamos voltados para investimentos de menor risco, que seriam expansão de shoppings existentes e aquisição, que foram os focos dos últimos tempos Alguns exemplos foram a compra do shopping Pátio Higienópolis e as expansões em nossos shoppings em Porto Alegre (RS) e Campinas (SP). Em cenário de maior risco o investimento se retrai e quando ocorre é de forma menos arriscada. Esse é o cenário que a gente projeta pelo menos para um futuro próximo, na medida em que as decisões do governo forem sendo tomadas para estabilizar o crescimento de dívida, redução de juros. O investimento é em função dessas coisas, não é do desejo de ninguém. O investimento é matemático.
Vocês vão focar mais em outlet?
A gente já vinha com investimento nessa área e vamos continuar. São investimentos menores em relação a um shopping em volume de recursos, cerca de um terço do valor praticamente. Esses investimentos vão seguir, é claro que num passo mais cuidadoso.
Dentro dessa estratégia de ser mais cuidadoso, o caminho seria a expansão de shoppings existentes e outlets?
Em um cenário de maior risco, os investimentos são de menor risco.
Qual será a próxima novidade do shopping Iguatemi?
Pode ter certeza que 2017 está desenhado: teremos novas operações, novo conteúdo. O Iguatemi nunca vai parar, sempre vai ter duas a três novidades por ano. Essa é a nossa filosofia e a maneira como trabalhamos.