Vintage Shop, localizado em Bauru, segue tendência do mercado e investe na ambientação, atendimento e comunicação
Esqueça aquela imagem de roupas amontoadas e cheiro de mofo. Quando o cliente entra no brechó Vintage Shop a imagem é de uma loja butique, com trajes organizados, que até deixa uma dúvida se as peças são usadas mesmo. O negócio, localizado em Bauru, segue a tendência de profissionalização dos brechós e faz parte de um mercado que tende a crescer com a crise, quando as pessoas buscam produtos mais baratos diante do aumento de endividamento, inflação e desemprego.
Aliado a isso, os brasileiros têm perdido o preconceito de comprar em brechós e buscam cada vez mais opções de consumo sustentável. São essas situações que contribuem para o avanço do mercado. Em janeiro de 2013, dados do Sebrae mostravam 10,8 mil micro e pequenas empresas que comercializavam produtos usados. Em 2015, esse número subiu para 13,2 mil negócios, um aumento de 22,2%.
A empresária Michelle Svicero entrou pela primeira vez em um brechó quando tinha 15 anos. A atração pelo conceito foi tanta que ela até desistiu de estudar veterinária e seguiu para o lado da moda, onde se profissionalizou. “Eu fiquei enlouquecida com o acesso a peças de outras décadas. Eu me apaixonei pela parte histórica e pela parte da sustentabilidade, de fazer o reuso das peças”, conta Michelle, que nasceu nos Estados Unidos. “Lá é muito comum o consumo de peças seminovas. As pessoas fazem as vendas de garagem”, completa.
A primeira experiência de Michelle com moda foi quando criou um blog onde postava os looks feitos apenas com peças de brechó. O interesse das leitoras pelo assunto motivou a transformação do hobby em negócio. O e-commerce entrou no ar quando a empresária tinha 17 anos. Hoje, com 22, ela comanda o Vintage Shop by MiSvicero, um espaço com 250 metros quadrados inaugurado no fim de 2015. Anteriormente, o negócio estava instalado em um lugar com um quinto do tamanho. “Em Bauru não tinha um brechó com um ambiente legal. Quis fazer um lugar aconchegante, bonito, como se fosse uma butique”, diz.
A transformação do negócio contou com a ajuda do namorado e sócio João Augusto Barreto de Sampaio Alves, o Guto. Enquanto Michelle cuida da parte de criação e consultoria do brechó, Guto contribui com os conhecimentos na parte de administração e marketing. O negócio ganhou uma nova logomarca, reestruturação no nome e direcionamento do público-alvo. O resultado? Entre 2014 e 2015, o faturamento cresceu 700%. Michelle explica que os conhecimentos em moda fazem toda a diferença no negócio. As peças são selecionadas uma a uma e ela presta um atendimento personalizado – uma espécie de consultoria de moda para as clientes. No início, Michelle precisava garimpar as peças em diversos brechós. Hoje, ela compra tudo das clientes. “Além de elas comprarem as peças, elas também trazem para vender”, diz.
O e-commerce deixou de ser utilizado. As vendas ocorrem apenas na loja. Fazer toda uma produção para vender uma peça na internet não compensava o esforço. Hoje o ambiente online funciona como vitrine do Vintage Shop. O perfil no Facebook conta com 15 mil seguidoras que interagem diariamente com a empresária.
PONTOS FORTES
O consultor do Sebrae-SP Hugo Hoch destaca como um dos pontos fortes da marca a comunicação via Facebook. “Todos os posts fazem sucesso. As peças não parecem usadas ou desgastadas. É feita uma produção e existe uma interação com as usuárias. Eles conseguem gerar um bom conteúdo”, afirma. “Além de entender muito bem o uso do Facebook, a empresa tem uma profunda compreensão do cliente”, analisa Hoch. O casal procurou a ajuda do Sebrae-SP e fez diversos cursos para aprender sobre finanças, fluxo de caixa e marketing. “A questão da formação de preço foi muito importante para termos noção do mercado real. Achávamos que uma blusa poderia ser vendida por R$ 20, mas com os cálculos descobrimos que o preço correto seria R$ 25 para cobrir todos os custos, por exemplo”, conta Guto.
CRISE
A parte da comunicação é destacada por Guto como um dos fatores que contribuíram para a empresa se destacar na crise. No início, as pessoas mais velhas não entendiam a proposta da loja. Foi preciso começar um trabalho de aproximação com as clientes e um posicionamento da Michelle mais à frente da loja e nas redes sociais. “Em vez de as pessoas conversarem com o nome de uma empresa, elas conversam com uma pessoa. Isso traz proximidade, conseguimos acolher melhor. Respondemos todas as clientes como se fosse uma conversa habitual, não como se estivesse fechando um negócio”, explica Guto.
Mesmo com todas as ações, o brechó não ficou imune à crise. O negócio registrou queda no tíquete médio. Se antes a cliente costumava gastar R$ 200, hoje desembolsa R$ 80. Mas a redução foi compensada com o aumento do número de clientes na loja. “Unir a parte criativa, de conhecimento de moda, com os conhecimentos de gestão é extremamente importante para a empresa prosperar em momentos de crise”, afirma o consultor do Sebrae-SP.