Artur Grynbaum, sócio e presidente do Grupo Boticário, uma das principais companhias de cosméticos do país, costuma se definir como um otimista – “como todo varejista”, diz. Mas mesmo ele muda o tom quando fala do cenário atual. “2016 está sendo um ano muito difícil”, afirma. No primeiro trimestre, o grupo registrou queda de vendas em volume e a receita ficou praticamente empatada com a dos três primeiros meses de 2015.
“Há um receio de consumir. Até quem poderia não está comprando. A crise está muito próxima das pessoas”, afirma o empresário, lembrando pesquisa deste mês da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) que aponta que 76,3% dos brasileiros conhecem alguém que perdeu o emprego nos últimos seis meses.
Ele espera que um eventual governo de Michel Temer tome as medidas necessárias para destravar a economia, mas sabe que nenhuma ação terá efeito imediato e projeta uma recuperação efetiva a partir de 2018.
No curto prazo, Grynbaum conta com o Dia das Mães e o Dia dos Namorados, em maio e junho, para melhorar os números. “Vamos buscar resultado no financeiro [em receita]. Em volume será difícil recuperar.”
Para o ano como um todo, ele projeta crescimento de um dígito no faturamento, mas num patamar menor que a variação do ano passado. Em 2015, a receita nominal subiu 8,8%, para cerca de R$ 10 bilhões. O valor corresponde à venda de produtos do grupo ao consumidor em todos os seus canais de distribuição – varejo físico, on-line ou por catálogo. A companhia é dona das marcas Boticário, Quem disse Berenice, Eudora e The Beauty Box, com cerca de 4 mil lojas no país, a maioria franquias.
Apesar da desaceleração em relação ao crescimento de dois dígitos que vinha registrando nos últimos anos, o grupo conseguiu um ligeiro aumento na sua participação de mercado, de 10,3% em 2014 para 10,9% em 2015, segundo dados da Euromonitor. O Boticário é a terceira companhia no ranking de vendas de produtos de higiene e beleza no país. A líder é a multinacional Unilever (de marcas como Dove e Seda), com 12,2%. Em seguida vem a Natura que teve uma leve redução de sua fatia, de 11,3% para 11,1% no ano passado, mas manteve a segunda posição.
Grynbaum considera o desempenho da companhia no ano passado positivo, principalmente considerando que o mercado de produtos de beleza apresentou queda real de 8% – a primeira em 23 anos, segundo a Abihpec, associação do setor. Foram abertas 75 lojas do Grupo Boticário, bem menos que as 120 inauguradas em 2014, mas mais do que a empresa chegou a prever no início de 2015.
“Os custos de ocupação [imobiliária] começaram a ter um choque de realidade”, diz o empresário. Com isso, surgiram oportunidades interessantes de pontos tanto para a companhia como para sua rede de franqueados. Para este ano, a expectativa é abrir de 35 a 50 lojas. Ele calcula que o número final fique mais próximo de 50, justamente pela redução nos custos dos aluguéis em decorrência da crise.
Apesar do cenário, o grupo não diminuiu investimentos em lançamentos e em marketing. “Tirar investimentos de comunicação e produto é como tirar gasolina do táxi. Não tem como rodar”, afirma Grynbaum. Em 2015 foram lançados 1,3 mil produtos – mesmo patamar previsto para este ano.
A companhia intensificou a comunicação com franqueados e revendedoras (as linhas Eudora e Boticário têm também venda por catálogo). “Fizemos vários encontros e fóruns para aproximar mais nossos parceiros de negócio da estratégia da empresa. Isso dá segurança”, diz o empresário. E que mensagem é transmitida nessas ocasiões? “Que não vamos parar. O momento é difícil e precisamos estar focados na gestão do negócio e na gestão das equipes”.