A diretora de RI do Grupo Pão de Açúcar, Daniela Sabbag, conversou com o InfoMoney para explicar algumas das preocupações do mercado com a companhia
O último ano não foi nada fácil para as companhias varejistas da Bolsa, fortemente afetadas pela crise econômica que assola o Brasil. Mas uma empresa em especial, acabou tendo muito mais motivos para se preocupar e viu suas ações, que um dia foram cotadas acima de R$ 100, caírem para R$ 40 durante 2015. O Pão de Açúcar, apesar de manter bons esforços em sua governança, elevou a desconfiança do investidor, e acabou “punido” na Bolsa.
Após a divulgação dos resultados do quarto trimestre e do acumulado de 2015, a diretora de Relação com investidores do Grupo Pão de Açúcar, Daniela Sabbag, conversou com o InfoMoney para explicar algumas das preocupações dos analistas e dos investidores em relação aos números apresentados. Além disso, ela destacou os planos do grupo para este ano e comentou ainda os recentes problemas envolvendo o controlado da companhia, o francês Casino.
Para se ter uma ideia, nos últimos 12 meses, as ações acumulam perdas de 51%. Por outro lado, 2016 começou como um bom ano para o grupo, que tenta esboçar uma reação no mercado, com seus papéis subindo 13,09% no acumulado deste ano, e voltando para o nível dos R$ 50. Confira a entrevista:
InfoMoney: Alguns analistas, avaliando o resultado do 4º trimestre, mostraram uma grande preocupação com a queda de vendas mesma loja no segmento de hipermercados. Em geral, especialistas não estão vendo uma recuperação da empresa no curto prazo. Como vocês avaliam isso?
Daniela Sabbag: Antes de falar especificamente sobre o segmento de hipermercados, acho importante comentar sobre a estrutura multiformato do GPA. Não temos uma visão unilateral do negócio e a beleza do GPA está, justamente, em sua pluralidade. Temos uma Companhia multinegócios: temos o Extra, com super e hipermercados; temos o formato Premium com o Pão de Açúcar; temos o Assaí, no atacado de autosserviço; o negócio de Proximidade, com as lojas do Minuto Pão de Açúcar e Minimercado Extra. Além disso, temos os nossos negócios de eletro, com a Via Varejo, e a Cnova, no e-commerce.
Mantivemos a rentabilidade todos os nossos negócios de alimentos, com manutenção ou ganhos de share, e tivemos muito sucesso nesta nossa estratégia – destaque para o crescimento e ganho de share com o Assaí. Alcançamos o break even com as lojas de proximidade e estamos há 25 períodos consecutivos ganhando share com o Pão de Açúcar com uma margem elevada. O Supermercado Extra não perde share e está mais rentável e na Via Varejo mantivemos nossa competitividade, com posição de caixa que é importante diferencial versus concorrência – o maior da história da companhia.
Agora, especificamente falando sobre o Extra Hiper, é fato que o modelo perdeu share e ficou aquém dos nossos objetivos no último ano. No entanto, vale ressaltar que, a despeito das vendas desafiadoras, temos uma rentabilidade acima de 6% para o segmento e isso certamente não é a realidade dos outras players. No entanto, temos convicção de que é um modelo que ainda devemos manter e que ainda colheremos os frutos de todo o trabalho de modernização das lojas que fizemos ao longo de 2015.
Encerramos 2015 com a reforma de 62 lojas, sendo 35 hipermercados e 27 supermercados, com foco na competitividade de preços, principalmente, para os itens básicos da alimentação. Até o momento, as unidades modernizadas têm apresentado aumento de 6-7 pontos no faturamento após reforma e representam 25% das vendas da bandeira.
Para 2016, a nossa expectativa será superar estas mudanças de comportamento com novas iniciativas e dinâmicas comerciais que nos diferenciem dos demais competidores. O Extra dará continuidade ao trabalho de reposicionamento dos perecíveis com melhor sortimento e qualidade. Seguiremos também com a modernização de ativos para sempre melhorar a qualidade do serviço oferecido ao nosso cliente e focaremos na manutenção da rentabilidade através de ganhos de produtividade e eficiência.
IM: Outro ponto destacado como “culpado” pelos números do fim de ano foi a política agressiva de preços adotada pela companhia. Vocês concordam que isso prejudicou? Essa estratégia será mantida?
Daniela: Alguns fatores contribuíram para um margem bruta menor: a maior participação de Assaí que opera com margem menor no segmento alimentar, enquanto no Multivarejo houve uma queda de margem no ano, mas nada que seja preocupante, e isso significou apenas 50 bps, o que é esperado, dado o contexto macroeconômico e os investimentos em competitividade no decorrer do ano.
No segmento de não alimentos, a margem menor de Via Varejo reflete uma nova dinâmica comercial que começou a mudar a partir do 3º trimestre e trouxe uma venda melhor já no 4º trimestre. Além disso, essa política mais agressiva de preços em algumas bandeiras do Grupo tem sido financiada pela eficiência, ou seja, pelos planos de otimização de despesas. Em 2016, seguiremos com foco total em ganhos de share, sem que esse plano impacte a nossa rentabilidade.
IM: Outra análise é de que os recentes problemas envolvendo a Cnova se mostraram de grande impacto para o resultado geral do grupo. O que tem sido feito para mitigar estes efeitos?
Daniela: Falamos bastante sobre CNova na última divulgação dos resultados. As investigações ainda estão em curso e a Companhia já divulgou os resultados preliminares deste processo. As perdas para a companhia ficaram dentro do que havia sido estimado inicialmente, R$ 177 milhões, que já foram baixados nos resultados do quarto trimestre de 2015.
Mesmo diante de um cenário desfavorável, 2015 foi um ano de crescimento de GMV e de aumento da participação do marketplace para a Cnova e do crescimento do Click and Collect, que já abrange todas as lojas da Via Varejo (Casas Bahia e Pontofrio) em 2016. Além disso, desde meados de fevereiro estamos com um time novo, liderado pelo Flávio Dias, CEO que possui uma larga experiência de ecommerce no Brasil. As prioridades da Cnova são: melhorar os níveis de ruptura de produtos, melhoria de prazo de entregas e foco em melhoria dos resultados, com maior equilíbrio entre margem e vendas.
IM: Do lado positivo, alguns analistas apontaram para a manutenção de um caixa robusto do GPA mesmo diante de um momento muito complicado da economia. O que tem sido feito para conseguir esta manutenção?
Daniela: A estratégia de cash management adotada pela Companhia permitiu o encerramento do ano com um caixa robusto mesmo diante da desaceleração macroeconômica. A Companhia vem apresentando nos últimos anos redução contínua no nível de alavancagem, com o objetivo de reforçar ainda mais a sua capacidade financeira.
Mesmo em um ano com ambiente macroeconômico desfavorável e desafiador, reduzimos a dívida bruta, otimizamos nossos processos, investimos em redução de custos e eficiência operacional e continuidade da evolução de capital de giro em função da melhor gestão de fornecedores e controle do nível de estoques. Dessa forma, encerramos o ano com um patamar de reservas de aproximadamente R$ 11,0 bilhões e estável quando comparado a 2014.
IM: Em geral, como vocês avaliam o balanço de 2015? Quais os principais pontos positivos e negativos dos resultados?
Daniela: Como todos sabem, o ano de 2015 não foi fácil para nenhum setor brasileiro, face ao momento de turbulência econômica que enfrentamos. Todos sofreram com resultados menos expressivos. A desaceleração é do mercado e, claramente, o varejo é impactado por essa realidade e alguns modelos ainda mais, como é o caso dos bens semiduráveis eletroeletrônicos, por exemplo.
Por outro lado, no segmento alimentar alcançamos importantes crescimentos, acima da inflação no caso do Cash & Carry, ganho ou manutenção de share na maioria dos nossos formatos, e rentabilidade em linha com nossos objetivos. É um segmento mais resiliente e hoje estamos entre as empresas com melhor rentabilidade na América Latina.
O desafio do Hiper continua, mas estamos mais fortalecidos e com um plano de ação que atua em diversas frentes para recuperar nossa performance durante 2016.
IM: E para o futuro? O que tem sido feito para melhorar os números da companhia e quais são as estratégias para este ano?
Daniela: O foco da Companhia em 2016 continuará sendo manutenção da competitividade, com objetivo de continuidade de ganhos market share através do aumento da produtividade e eficiência operacional, além da expansão dos formatos de maior retorno. Seguiremos com nosso plano de longo prazo para o Grupo, com resiliência, solidez financeira e excelente posição de caixa que, em tempos de crise, são duas alavancas fundamentais para assegurar a nossa posição. Estamos com foco absoluto em ganhar market share sem, no entanto, comprometer a rentabilidade.
Estamos confiantes e podemos afirmar que o ano já começou melhor do que 2015. Estamos colhendo os primeiros resultados dos ajustes que fizemos no ano passado e temos certeza de que estamos no caminho certo.
IM: Por fim, gostaria que comentassem sobre a pressão vinda do exterior, envolvendo o controlador da companhia. Temos visto o mercado muito preocupado com os problemas do Casino no exterior e investidores têm até medo de que o grupo francês possa usar o GPA para conseguir alguma ajuda. Como vocês trabalham este cenário, que mistura números ruins, algumas boas análises e um mercado que pune a companhia na Bolsa por causa de fatores externos?
Daniela: O Casino é uma empresa que, em poucos anos, saiu de 5 bilhões de euros em faturamento para cerca de 50 bilhões de euros. É uma companhia global, com presença na Europa, América Latina e Ásia. No momento, está focado em não perder o grau de investimento [o que aconteceu após a entrevista]. E está seguindo o seu plano para esse objetivo.
No ano passado, o Grupo fechou uma operação com o Éxito que representou uma injeção no caixa do Casino. Este ano, o Grupo anunciou a venda da operação tailandesa do Big C por 3,1 bilhões de euros. Com isso, o endividamento da companhia já teve expressiva redução. Com relação ao caixa do GPA, podemos afirmar que este recurso é voltado exclusivamente para a nossa operação local, principalmente destinado para os investimentos.