Tendências se consolidam nos próximos três anos, segundo estudo da Hyper Island. Cocriação, globalização cultural e formação de bolhas digitais são algumas delas
A internet pode ser um tanto contraditória. Ao mesmo tempo em que rompe fronteiras e une pessoas, facilita a formação de bolhas que mantêm os indivíduos somente entre iguais. As marcas precisam estar cientes dos bônus e ônus dos algoritmos e do meio digital quando usarem as plataformas para se comunicar e relacionar com os consumidores. Depois das tendências apontadas pela Hyper Island na tecnologia, os comportamentos dos consumidores em um cenário em que mundo real e virtual se confundem são descritos na terceira reportagem que teve o estudo Changes Of Tomorrow (mudanças do futuro, em tradução livre) como fonte.
1. Cocriação: um desejo social
A cocriação é inerente à internet – um ambiente que tem como finalidade primeira facilitar a comunicação entre pessoas -, mas essa união de esforços chega agora a um nível histórico. O comportamento é favorecido pelo amadurecimento da web: a banda larga cresceu e há 3,2 milhões de pessoas online. Houve ainda um incremento no número e na capacidade das ferramentas disponíveis para auxiliar a cocriação.
As manifestações de junho de 2013 demonstraram o poder de ação de um trabalho conjunto iniciado na internet e como seus efeitos podem extrapolar o mundo virtual. Há ainda inúmeros grupos no Facebook, que unem indivíduos com interesses semelhantes, gerando inúmeros frutos fora da web. As redes sociais não são as únicas ferramentas disponíveis para a cocriação. Há ainda Wikipedia, GiftHub, HitRECord, Dropbox.
O comportamento demonstra como as pessoas estão predispostas a dedicarem parte de seu tempo a projetos colaborativos, esforço que pode e deve ser aproveitado pelas empresas. A grande vantagem de proporcionar essa abertura dos processos criativos para o público como um todo é contar com opiniões, conhecimentos e habilidades muito mais diversos do que aqueles disponíveis em um time de profissionais.
2. Relacionamento online
À medida que a vida social das pessoas é transportada para a internet, relacionamentos 100% digitais passam a se tornar comuns. A capacidade de manter amizades distantes geograficamente também cresce de modo significativo. Como resultado, eventualmente, as fronteiras entre o online e o off-line tendem a desaparecer. Passa a haver apenas uma realidade, com o mundo virtual como parte dela. Até quando fará sentido pensarmos em internautas? As pessoas já trocam mensagens quando estão há poucos metros de distância; ao mesmo tempo que jogam vídeo game com desconhecidos que vivem do outro lado do globo.
Algumas barreiras, entretanto, ainda não foram transpostas – e talvez nunca sejam. Apenas 8% dos adolescentes e 5% dos adultos norte-americanos conheceram namorados pela internet. Ainda assim, esses pares românticos se mantêm em contato, em grande parte do tempo, pela web, em seu dia a dia. Já em relação a amizades, o ambiente virtual mostra-se perfeito. Os relacionamentos estritamente online já não são mais, de forma alguma, estranhos.
3. Cultura globalizada
A internet conseguiu enfim eliminar fronteiras ao colocar grande parte da população mundial conectada. O novo cenário exigiu um maior entendimento e respeito às diferenças, mas o processo de transformação ainda não terminou. No futuro ainda mais globalizado, a informação circula livremente, hierarquias emergem e se dissipam e inovadoras subculturas surgem e desaparecem ao passo da moda.
A tendência, segundo a Hyper Island, é de que a ideia de Estado-Nação sofra uma erosão, na medida em que as diferenças entre as culturas e os países se tornam menos relevantes do que as similaridades. As pessoas, os profissionais e as marcas devem então se questionar em que ponto estão nesse espectro que vai do nacionalista ao globalizado. Estão abraçando as ideias de livre ir e vir, culturas fluidas e cooperação internacional, ou estão mais ligados à identidade local, conexões regionais e às singularidades de cada país.
4. Economia social
A crise financeira internacional de sete anos atrás serviu para derrubar a crença na estabilidade e para motivar as pessoas a buscarem modelos econômicos mais democráticos, de acordo com análise da Hyper Island. Os serviços que surgiram com a missão de revolucionar a indústria bancária são um exemplo. Crowdfunding e crowd equity são alguns dos exemplos desse movimento conduzido por plataformas digitais para aproximar investidores a empresas ou projetos, deixando de lado estruturas tradicionais de investimento. Muitas corporações ainda subjugam essas ferramentas – mas não deveriam.
5. Bolhas digitais
Com o crescimento da web semântica – que atribui significados aos conteúdos publicados na web de modo que possam ser identificados pelo computador -, os produtos e serviços diariamente usados estão se tornando mais inteligentes. Assim, pouco a pouco, os consumidores aceitam que partes do controle da tomada de decisão passem para o digital, tornando a vida mais fácil. O computador já oferece para cada indivíduo aquilo que está dentro dos interesses dele, sejam objetos, conteúdo ou pessoas.
A lógica é bem conveniente, mas também tem um lado obscuro. Hoje, é mais fácil acabar encapsulado dentro de uma bolha. São os algoritmos que apontam as opções de lugares onde se comer, se hospedar, pessoas para se relacionar e o que ler, como apontou o especialista Eli Pariser, em 2011. Desde então, os filtros usados pelas redes sociais e plataformas como AirBnB, Amazon e Netflix tornaram-se ainda mais sofisticados. As empresas devem olhar para dentro de seus próprios quadros para promover a comunicação entre os profissionais e os times, já que as bolhas costumam estar reproduzidas em ambiente corporativo também.