03/11/2015 às 05h00
Por Tatiane Bortolozi | De São Paulo
A multinacional de beleza Coty comprou a divisão de cosméticos da Hypermarcas por R$ 3,8 bilhões e é a nova dona de marcas como Risqué, Monange, Biocolor e Cenoura & Bronze no Brasil. A transação vai zerar a dívida líquida da brasileira e direcionar seu foco inteiramente ao setor farmacêutico. A compradora de origem francesa poderá estabelecer uma estrutura de produção e distribuição para integrar o negócio local e as marcas de beleza adquiridas da americana Procter & Gamble (P&G). O negócio de cosméticos da Hypermarcas gerou receita líquida de R$ 977,5 milhões em 2014, o equivalente a 20% das vendas totais no período. A aquisição ainda precisa passar por autoridades reguladoras da concorrência e deve ser fechada até o fim de março. Os recursos serão usados principalmente na redução do endividamento da Hypermarcas. Com a transação, a dívida líquida de R$ 3,86 bilhões ao fim de setembro será reduzida a zero, disse o presidente Claudio Bergamo ao Valor. A Coty ficará com a fábrica de cosméticos da Hypermarcas em Senador Canedo (GO) e também vai alugar 40% de um depósito da brasileira na mesma cidade. Nicolas Kischer, presidente de consumo da Hypermarcas, vai assumir o comando da Coty no país, afirmou Bergamo. “Esperamos que a força das marcas, a impressionante equipe de liderança e a robusta infraestrutura [da Hypermarcas] melhorem a posição competitiva da Coty e complementem bastante nossa fusão com o negócio de beleza da P&G”, disse o presidente interino e presidente do conselho da Coty, Bart Becht, em comunicado. A Coty anunciou em julho a aquisição de 43 marcas de beleza da P&G, como as colorações de cabelo Wella, Koleston e Soft Color, por US$ 12,5 bilhões. Porém, era necessário investir em instalações de produção, distribuição e comerciais, em particular em categorias em que a companhia tem pouca experiência, como tinturas, para não perder espaço competitivo. A Coty é dona de licenças de perfumes como Calvin Klein, Chloé e Marc Jacobs, de luxo& 894; e Playboy e Adidas, mais acessíveis. A empresa também comercializa a linha de maquiagem Rimmel e os esmaltes Sally Hansen e OPI. A Coty iniciou suas atividades na América Latina por meio de uma joint venture com a Frajo, distribuidora do grupo Boticário, em 2013. Em 2012, havia tentado adquirir a Avon com um lance de US$ 10 bilhões, de olho em aumentar a presença em mercados emergentes como o Brasil, mas não prosperou. Ainda em 2012, ofereceu R$ 1 bilhão pela Jequiti, mas a proposta foi recusada pelo empresário Silvio Santos. A saída foi fazer acordos para distribuir seus perfumes nos catálogos da Jequiti e da Avon. Do lado da Hypermarcas, a transação marcará um passo transformador. “O foco estratégico estará voltado para o mercado farmacêutico, que oferece potencial atrativo de crescimento e rentabilidade no longo prazo”, disse a empresa no comunicado. A Hypermarcas iniciou suas atividades também como fabricante de alimentos, mas deixou o negócio em 2011. Agora faz um novo movimento para sair do segmento de higiene pessoal. “O giro do portfólio faz parte dos negócios e vai agregar valor aos acionistas”, afirmou Bergamo por telefone. O anúncio da venda da divisão de cosméticos surpreendeu o mercado, que esperava que a venda da divisão de fraldas fosse anunciada antes. Segundo uma fonte, as negociações com a americana KimberlyClark estão em estágio avançado. Se um acordo for fechado, a Hypermarcas deixa de atuar em consumo e vai se dedicar apenas aos produtos farmacêuticos. Bergamo não quis dar detalhes sobre o andamento da negociação da unidade de fraldas. Para ele, a imprensa se precipitou em noticiar as conversas. A transação com a Coty não inclui as unidades de fraldas, nem de preservativos, adoçantes ou cosméticos para a pele, vendidos no varejo de drogarias. Com uma estrutura de capital melhor, será possível gerar caixa, e o conselho de administração da Hypermarcas vai avaliar possibilidades como investir em crescimento operacional, distribuir dividendos ou recomprar ações de acionistas, e buscar aquisições no setor farmacêutico. Não há uma decisão tomada e o foco é o longo prazo, segundo o presidente. A Hypermarcas é líder no segmento de medicamentos isentos de prescrição (OTC) no Brasil, como Benegrip, Rinosoro e Engov. Além disso, é vicelíder em cosméticos para a pele (Episol, Epidrat, Hydraporin) e está em terceiro lugar em genéricos. No terceiro trimestre, a divisão de consumo cresceu 16,2%, ante expansão de 7,1% em farma. A receita líquida total somou R$ 1,32 bilhão, alta de 11,2% sobre igual período de 2014. O lucro líquido caiu 36,5%, principalmente pelo aumento de despesas financeiras.
Valor Econômico – SP