02/10/2015 às 05h00 Por Susan Carey | The Wall Street Journal, de Chicago Cinco anos depois da fusão que criou a companhia aérea United Continental Holdings, o recémempossado diretorpresidente Oscar Munoz chegou a uma dura conclusão: o casamento está em perigo. Em sua primeira entrevista desde que assumiu o comando, há três semanas, depois da saída repentina de Jeff Smisek, Munoz reconheceu que a fusão de 2010 foi mal conduzida. Ele não quis falar a respeito do inquérito federal sobre os negócios da United com a Autoridade Portuária de Nova York e New Jersey que levaram à saída de Smisek. “Essa integração foi difícil. Ponto final”, disse ele. “Nós apenas temos que assumir a culpa publicamente […] A experiência de nossos clientes não tem sido o que gostaríamos que fosse”, disse o executivo de 56 anos. Ele disse que seu foco inicial como diretorpresidente tem sido se reunir com os funcionários da United nos Estados Unidos para discussões francas, e às vezes conflituosas, na tentativa de reconquistar a confiança dos 85 mil empregados da empresa, cuja moral foi abalada e que estão se tornando cada vez mais ativos em suas queixas contra a gestão. Segundo ele, os empregados da United não estão se sentindo envolvidos, estão desencantados. “Eu tenho tido que conquistar todos [eles] de volta.” Munoz, que foi diretor da nova United desde o início, disse que o conselho da companhia aérea “podia ter estado mais ciente” do problema moral. Os 12 membros do conselho incluem dois líderes trabalhistas que representam milhares dos funcionários sindicalizados da United. “Nós deveríamos saber mais? Claro”, disse ele. O diretorpresidente da United disse que marcou uma reunião com líderes trabalhistas para 15 de outubro e que uma de suas prioridades é fechar novos acordos de trabalho com os comissários de voo e mecânicos da empresa aérea, que ainda trabalham com contratos separados firmados com os dois predecessores da empresa. Segundo ele, sua outra grande prioridade é atrair de volta os clientes da United através da melhora da confiabilidade da companhia. O executivo não forneceu detalhes, mas disse que seu senso de urgência “deve estar em hipervelocidade” porque a United enfrenta uma concorrência intensa. Ele disse que precisa estudar o que os concorrentes fazem e “o que pode ser superado e o que não pode”. Munoz disse que a United fez algum progresso na melhora do seu desempenho financeiro e manterá o plano de devolver US$ 3 bilhões aos acionistas por meio de recompra de ações. O executivo não discutiu o motivo da saída de Smisek. A empresa informou que a troca de comando foi provocada por uma investigação interna relacionada a um inquérito federal da Autoridade Portuária, que administra o Aeroporto Internacional de Newark, um grande centro de operações da United em New Jersey. Os investigadores estão examinando, entre outras coisas, se David Samson, o expresidente do conselho da Autoridade Portuária, usou sua posição para tentar obter um tratamento favorável ou benefícios próprios da United, segundo pessoas a par do assunto. Os promotores citaram documentos da Autoridade Portuária que incluem correspondência e registros de reuniões relacionados a negociações da United sobre uma extensão da concessão em Newark, dizem as fontes. Uma portavoz de Samson não comentou. A integração da United não foi tão tranquila como a da rival Delta Air Lines, que passou por uma grande fusão há dois anos. A integração com o American Airlines Group, cuja fusão em dezembro de 2013 formou a maior companhia aérea do mundo, parece estar seguindo o mesmo ritmo, mas em duas semanas deve enfrentar a tarefa complicada, que é a de mudar o sistema de reservas da antiga US Airways para o sistema da American Airlines. Os esforços da United para integrar seus próprios sistemas de reservas em 2012 geraram meses de problemas e indignação por parte dos passageiros. E os sistemas continuam repetidamente a apresentar falhas, o que levou Munoz a dizer que a tecnologia “não é nosso ponto forte”. Ontem, no quinto aniversário do encerramento da fusão, a United lançou um novo site chamado UnitedAirtime.com. Por esse endereço, os passageiros e os empregados podem oferecer ideias, retornos e ouvir o que Munoz está fazendo em sua viagem de aprendizagem. A United publicou anúncios em oito jornais em que Munoz se desculpa por não atingir as expectativas e se compromete a melhorar. Um nativo da Califórnia que gosta de surfar, Munoz ocupou cargos financeiros e estratégicos em empresas como AT&T, CocaCola e PepsiCo, antes de entrar para a operadora ferroviária CSX, onde trabalhou por 13 anos, chegando ao cargo de diretorsuperintendente. Quando o conselho da United o convidou para ser o diretorpresidente da empresa, ele inicialmente recusou, em grande parte porque ficou preocupado que sua saída pudesse causar problemas para a CSX, onde o anúncio de sua promoção para diretorpresidente era iminente, disse ele. No fim, aceitou dirigir a United, em parte porque queria retornar a uma empresa voltada para o consumo. O executivo também ressaltou as semelhanças entre os setores ferroviário e aéreo, ambos envolvendo logística, com questões de pontualidade, sindicatos e equipamentos caros. “Eu acho que tenho um senso muito mais profundo sobre questões operacionais do que qualquer um teve nessa empresa recentemente”, disse, referindose à United. O verdadeiro desafio de Munoz será cumprir suas promessas. Smisek, um advogado que entrou na Continental Airlines em 1995 e dirigiu a empresa originária da fusão desde 2010, também se encontrou com empregados da United depois da fusão e se comprometeu na época a se concentrar na cultura e integração da empresa. Ele não foi encontrado para comentar este artigo.
Valor Econômico – SP