30/09/2015 às 05h00
Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo
Na hora da compra, os preços da concorrência são pesquisados a partir de um clique, ao escolher o melhor caminho para chegar ao destino, na tela do celular surge uma série de ‘pins’ sinalizando endereços que fazem parte da rotina do usuário e, ao passar por um shopping, a pessoa é avisada de promoções das marcas que mais consome.
Essas são algumas das possibilidades que os novos aplicativos colocam à disposição do varejo. E as possibilidades são múltiplas, desde o alerta de que está na hora de tomar um medicamento até o aviso de que o cupom promocional está perto de perder a validade, tudo, é claro, na palma da mão.
“A tecnologia está cada vez mais acessível a todos e a qualquer hora, migrando do desktop para os smartphones e tablets”, afirma Maren Lau, partner da Internet Media Services (IMS) para a América Latina. “O momento é do varejo plugado em novas tecnologias, conversando com o cliente de forma única e personalizada”. E os números confirmam o que não se pode mais chamar de tendência e, sim, de realidade. O “IMS Mobile em LatAm”, estudo feito pela IMS em parceria com a comScore, em fevereiro deste ano, revelou que nove em cada dez latino-americanos possuem ou usam um dispositivo móvel com regularidade e 99% têm, em média, 18 aplicativos baixados.
O Brasil encabeça a lista, com mais de 100 milhões de usuários mobile e penetração de 36% de smartphones. O levantamento deixa claro, também, que mais de 60% dos usuários de celulares de cada aplicativo específico, como Twitter, Linkedin, Spotify e Waze, consideram que eles são muito importantes no seu dia a dia.
Quem já adotou não tem de o que reclamar. O Boticário foi a primeira marca de cosméticos da América Latina a entrar no Waze, convidando os usuários a se dirigirem a uma de suas mais de 3.700 lojas para fazer as compras de Natal, destacando, ainda, 52 locais de várias cidades do Brasil com atrações natalinas. A ação, realizada de 9 a 25 de dezembro, trabalhou com dois ‘call-to-action’: Dirigir até lá e Salvar Localização, que permitia ir à loja em outro momento. Resultado: mais de 41.400 cliques e mais de 6.584 navegações.
Os consultores são categóricos ao advertir, contudo, que não se trata de adaptar somente as campanhas criadas por agências para o mundo físico e, até mesmo, digital; é preciso se adaptar ao ritmo e à linguagem do mobile.
“As empresas têm de se reinventar para oferecer produtos e serviços rápidos, respeitando a privacidade do cliente e oferecendo conteúdo relevante via aplicativos”, afirma Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor GS&BW. “Ser útil é o que determina se sua marca continua instalada nos dispositivos dos usuários ou será apagada em até uma semana depois da instalação, como acontece com 70% dos apps”.
Foi justamente essa a cartilha que a rede de franquias Salad Creation levou em conta ao criar seu próprio aplicativo, o Guia Salad, disponível tanto para plataformas Android quanto IOS. Lançado há pouco mais de dez meses, o aplicativo deve ser baixado gratuitamente pelo consumidor, oferecendo, entre outras coisas, a edição do informativo Guia Salad, que ensina desde como fazer uma horta em casa até receitas e dicas de bem-estar e equilíbrio ecológico.
“Nosso objetivo não é bombardear o consumidor com descontos ou promoções e, sim, oferecer-lhe conteúdo relevante, de valor, que atenda aos seus interesses”, ressalta Vitor Dottori, gerente de marketing da rede. “Os resultados foram acima do esperado. Já temos cerca de 15 mil usuários ativos e em torno de 20 mil downloads da publicação”.
Para testar se o aplicativo personalizado teria aceitação entre os frequentadores da rede, a Salad Creation investiu inicialmente em uma versão piloto de custo mais baixo. Sinal verde, a rede se prepara para lançar uma segunda versão, com outras funcionalidades, como feed de novidades; programa de fidelização integrado, geolocalização das lojas e a revista com nova interface. Com oito anos de mercado, 29 unidades e faturamento da rede estimado em R$ 30 milhões para este ano, a Salad Creation comemora, ainda, o fato de que 70% dos 15 mil downloads do aplicativo foram feitos via Apple Store.
Segundo Maren, da IMS, o grande desafio é mostrar às pequenas empresas que é possível adotar essas ferramentas. “As pesquisas revelam que 31% não adotam qualquer tipo de app porque não entendem como funciona e tampouco como podem reverter esses aplicativos em ferramentas para alavancagem das vendas”, afirma a especialista. Mas, vale à pena ressaltar que o investimento em um app personalizado só se justifica se a empresa tiver demanda para movimentá-lo e massa crítica a ser atingida. Caso contrário, será mais um dinheiro aplicado sem o retorno esperado.
Valor Econômico – SP