12/08/2015 às 05h00
Por Assis Moreira | De Salzburgo (Áustria)
A Nestlé vai continuar a investir no Brasil. Mas o que muda é que a companhia será mais agressiva na gestão de custos, mais focada na produtividade e investirá mais em publicidade e em inovação. Esta é a receita que o vicepresidente executivo do grupo para a zona Américas, Laurent Freixe, define para melhor performance no Brasil, em meio à contração econômica e incertezas políticas. Ao Valor, o executivo afirmou que na América Latina em geral o consumidor está menos otimista e mais preocupado com preço e buscando mais promoções. Mas a Nestlé espera ter crescimento de vendas na região em 2015, um pouco através de volume, mas também pela elevação de preços para compensar a inflação. No Brasil, o quarto maior mercado no mundo para Nestlé, a expectativa é de que a crise “vai durar dois, três anos, mas agimos no curto prazo para maximizar as oportunidades no longo prazo”, afirmou Freixe. Nesse cenário, a companhia trabalhará mais com formatos adaptados de produtos para diferentes regiões e varejo. Dará ênfase na competitividade de preço para assegurar que a oferta “tenha a melhor relação preçoqualidade para o consumidor”. Conforme Freixe, um dos comportamentos observados foi de que as pessoas, num ambiente econômico mais moroso, podem preferir comprar pacotes maiores para estocar, por exemplo. “Vamos investir mais em publicidade e na inovação”, afirmou o executivo. Ele cita a fábrica de Nescafé Dolce Gusto em Montes Claros (MG), que vai entrar em operação no fim deste ano. Parte da produção será exportada para a Argentina, por exemplo. O investimento nesta fábrica foi de R$ 186 milhões, segundo documento enviado pela Nestlé ao governo de Minas Gerais. O Brasil é atualmente o mercado que mais contribui no crescimento de vendas das cápsulas de Nescafé Dolce Gusto. O aumento de vendas é de dois dígitos, segundo Freixe. Nos dois a três próximos anos, será maior que o Nescafé solúvel no Brasil. E dentro de cinco a dez anos, poderá ser o primeiro mercado da companhia para essas cápsulas. Atualmente, 20% de Nescafé Dolce Gusto é comprado via internet, no Brasil. A expectativa é de que o comércio eletrônico do produto aumente substancialmente no país. Sobre os escândalos de corrupção, crise política e desaceleração econômica no país, Freixe diz estar “muito calmo com isso, porque não dependemos muito de ciclo econômico e mais da demografia”. Sem detalhar cifras, Freixe reitera que a Nestlé manterá inalterados os planos de investimentos para o Brasil tanto por depender menos do ciclo econômico, como também porque planeja para cinco a dez anos. Segundo ele, mesmo na Grécia, que perdeu 25% do PIB com a crise econômica, a Nestlé continuou aumentando as vendas. Nos Estados Unidos, durante a crise financeira, as pessoas não abriram mão, por exemplo, de continuar comprando alimentos para seus animais de estimação. Ele nota que não é só o Brasil que desacelera, como quase todo o resto dos Brics (China, Rússia, África do Sul), com exceção da Índia. Insistindo que é positivo sobre o Brasil, Freixe estima que o país poderá no médio prazo se tornar o terceiro maior mercado para o faturamento de Nestlé, superando a França. Em dois outros países da América Latina, a situação para Nestlé é bem distinta. Na Venezuela, um problema é como reter talentos, já que cada vez mais executivos abandonam o país em meio à insegurança e a dificuldades econômicas. A companhia enfrenta dificuldades para operar suas cinco fábricas no país também por causa da dificuldade de acesso a dólar para importar matériasprimas, em meio a controle cambial imposto pelo governo. “Vender não é problema. Como há penúria de muita coisa, desde que produzimos vendemos logo. O problema é poder manter a continuidade das operações”, conta Freixe. Já Cuba, com o restabelecimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos, volta a atrair multinacionais. Nestlé tem duas joint ventures com o governo cubano, uma para água engarrafada e outra para sorvete. O plano é ampliar a categoria de produtos para produzir e vender no mercado cubano.
Valor Econômico – SP