Companhia investe em data center em Campinas (SP) o primeiro na América Latina para aprimorar sua oferta sob o novo modelo aos clientes brasileiros e da região
Moacir Drska
mdrska@brasileconomico.com.br
Um dos maiores ícones do mercado de tecnologia, o sempre polêmico Larry Ellison, cofundador e atual presidente do conselho e executivo-chefe de tecnologia da Oracle, chamou a atenção há alguns anos ao afirmar que a computação em nuvem era uma moda passageira.
Do discurso proferido na abertura de uma edição do Oracle World principal evento da companhia nada restou.
Hoje,o modelo está no centro de uma importante transição estratégica da companhia, ainda em curso.
E o mais novo passo dessa jornada foi divulgado ontem, durante a versão latino-americana do Oracle Open World, que está sendo realizada nesta semana em São Paulo.
A empresa anunciou oficialmente o investimento em um data center no Brasil para apoiar e aprimorar a entrega das suas ofertas de nuvem no país e na América Latina.
O aporte no projeto não foi revelado.
Estamos investindo pesadamente para construir a equipe, a infraestrutura e a rede de parceiros para assumir a liderança no Brasil e na América Latina, disse Mark Hurd, executivo-chefe da Oracle.
Temos visto um grande crescimento na adoção da nuvem na região, de 19,7%, e nossas expectativas são elevadas. Se alguém olhasse apenas nossos resultados no Brasil, não diria que o país está em recessão, completou.
Instalado em Campinas, no interior de São Paulo, o data center entrará em operação em agosto, pormeio de uma parceria com um provedor não divulgado.
A unidade será equipada com tecnologias da Oracle e contará com o suporte do time da companhia.
Há pouco mais de um ano, a empresa havia anunciado o plano de investir em um centro de dados local.
Na época, a Oracle estimou que o projeto seria inaugurado ainda sem local definido no segundo semestre de 2014.
Segundo a empresa, no entanto, os trâmites e a burocracia para a importação dos equipamentos acabaram atrasando esse prazo.
O novo data center passa a integrar uma rede de 19 centros de dados da Oracle ao redor do mundo.
Antes do Brasil, o investimento mais recente nessa direção foi realizado no Japão, em abril, durante uma conferência realizada pela companhia em Tóquio.
Hoje, temos cerca de 60 milhões de usuários na nossa nuvem e essa rede global de data centers suporta mais de 33 bilhões de transações diariamente, disse Hurd.
Inicialmente, afirmou o executivo, a estrutura instalada em Campinas apoiará as ofertas da Oracle na modalidade de software como serviço, em particular, de sistemas de gestão e da área financeira.
O plano da companhia é incorporar gradativamente outros módulos como manufatura e logística e formatos infraestrutura e plataformas como serviço a esse portfólio local.
O data center é apenas um pedaço, mas um pedaço importante dessa estratégia, observou.
Hurd também destacou a contratação de 1,2 mil profissionais na região nos últimos 18 meses e o plano de ampliar essa equipe com mais 500 colaboradores ainda nesse ano, especialmente nas áreas de vendas e de consultoria, com foco na nuvem.
Esse pacote de iniciativas ressalta o plano da Oracle em acirrar a competição na nuvem com uma lista de rivais que inclui desde gigantes tradicionais como Amazon Web Services (AWS), Microsoft e SAP todas elas com data centers no Brasil até companhias que já nasceram sob esse modelo, como a Salesforce.com e a Workday.
Em linha com a estratégia de encorpar sua oferta, a Oracle anunciou nesta semana a incorporação de um leque de novos recursos em sua plataforma de nuvem, com destaque para serviços relacionados a bancos de dados, big data e armazenamento.
Até outubro, nossa meta é oferecer 95% do nosso portfólio nesse modelo, disse Hurd.
O executivo não perdeu a oportunidade de alfinetar os concorrentes.
Estamos crescendo mais rápido que qualquer outra empresa no setor. Onde está, por exemplo, a SAP na nuvem? Nós não a enxergamos, afirmou, para dizer na sequência que a Oracle possui ofertas mais acessíveis na comparação com a AWS.
Hurd destacou alguns números reportados pela Oracle em seu quarto trimestre fiscal, encerrado em 31 de março.
No período, a companhia apurou uma receita total de US$ 576 milhões com as ofertas de computação em nuvem, alta de 28% na comparação com o mesmo intervalo, um ano antes, quando essa cifra foi de US$ 450 milhões.
Em um contraponto a esse entusiasmo, a Oracle como diversas outras empresas que estão migrando para esse modelo tem despertado a atenção de analistas e investidores.
No ano fiscal encerrado em março, a companhia divulgou uma receita global de US$ 38,2 bilhões, o que manteve o desempenho praticamente estável quando comparado ao exercício anterior.
O resultado foi impactado especialmente pela valorização do dólar, outro fator que vem puxando para baixo o desempenho das companhias americanas do setor.
O sétimo trimestre consecutivo de queda nas vendas de novas licenças de software foi mais um elemento que pesou na avaliação da empresa.
Ao mesmo tempo, a receita de US$ 2,1 bilhões na nuvem não foi capaz de compensar esses efeitos.Como base de comparação, a AWS encerrou 2014 com uma receita de US$ 4,6 bilhões.
Após a divulgação do resultado, as ações da companhia fecharam o dia cotadas a US$ 42,74, um recuo de 4,8%, o maior desde junho de 2013.
Esse cenário, no entanto, parece não diminuir o otimismo de Hurd.
Temos uma previsão de crescer em 60% as receitas na nuvem no próximo ano fiscal. Não há ninguém nesse mercado com um índice tão elevado, observou.
Brasil Econômico – SP