04/03/2015 às 05h00
Por Sérgio Ruck Bueno | De Sapiranga (RS)
A ampliação das operações de varejo e o reforço do portfólio de marcas próprias são os caminhos da calçadista Paquetá para crescer neste ano. Com sede em Sapiranga (RS) e sete fábricas no Rio Grande do Sul, Bahia, Ceará, Argentina e República Dominicana, o grupo decidiu segurar projetos de expansão industrial e tem como meta aumentar o faturamento “no mínimo” um ponto percentual acima da inflação, diz o diretorpresidente Adalberto Leist. Dona das marcas de sapatos femininos Dumond, Capodarte e Lilly’s e dos tênis infantis Ortopé, a empresa também fabrica calçados para terceiros como Adidas, Puma, Asics, Dillard’s e Dansko e prevê faturar entre R$ 2,5 bilhões e R$ 2,6 bilhões neste ano. Em 2014, foram quase R$ 2,4 bilhões. Para Leist, o quadro econômico adverso, com inflação alta, aumento do desemprego e possibilidade de escassez de energia, não é a maior ameaça para os negócios em 2015. “Já vimos muitas crises e planos de ajuste e o Brasil não vai desaparecer”, diz. O que mais o preocupa é o clima político polarizado e “raivoso” no país, que pode levar a uma crise institucional se as propostas de impeachment da presidente Dilma Rousseff começarem a ganhar corpo. “Não acredito que vá acontecer, mas é um risco”. O aumento dos custos, provocado em boa parte pelo impacto da desvalorização do real sobre insumos como plásticos e borrachas, terá de ser repassado aos preços nas trocas de coleção, inclusive nas exportações. “Lançamos quatro a cinco coleções por ano”, diz Leist. “Infelizmente os reajustes vão chegar aos consumidores. Não tem como evitar”. No divisão de varejo, a Paquetá tem 194 lojas próprias das redes Paquetá, Paquetá Esportes, Gaston e Esposende no Sul, Sudeste, CentroOeste e Nordeste do país vendem produtos do grupo e de outras marcas também. No ano passado elas ganharam 16 novos pontos e em 2015 serão abertos mais 15. Só a Paquetá Esportes, com 32 filiais, terá mais seis. O grupo conta ainda com 216 franquias das marcas Dumond e Capodarte, 19 das quais abertas em 2014 e 38 fora do Brasil, a maior parte na América Latina, África e Oriente Médio. Somados os dois modelos, de lojas próprias e franquias, a meta é aumentar o número de pontos dos atuais 410 para 500 até 2020 a fim de manter a participação do varejo num patamar não inferior a 55% do faturamento do grupo. O portfólio de marcas próprias será ampliado com os tênis Burnett, que começam a ser vendidos neste mês na rede Paquetá Esportes. “Acreditamos muito na nova linha, mas ela é um projeto para o futuro”, diz Leist. A marca foi lançada em 2014 com produtos de vestuário, segmento que no grupo inclui as roupas esportivas Walk Run (femininas) e Polar (masculinas), produzidas por terceiros. Na indústria, a empresa prevê produzir 17 milhões de pares em 2015, ante 16 milhões em 2014. Na Argentina, onde fabrica principalmente tênis Adidas, e na República Dominicana, que produz calçados femininos para terceiros destinados aos Estados Unidos, o volume somou 4,3 milhões de pares. As exportações a partir do Brasil foram de 2,1 milhões de pares, sendo 20% de marcas próprias que alcançaram uma produção total de 5 milhões de pares no ano. Embora seja a maior credora da calçadista gaúcha Via Uno, em recuperação judicial desde 2013, a Paquetá não tem “nenhum interesse” em participar do leilão da marca previsto para os próximos meses. “O mercado brasileiro está saturado de marcas femininas”. O grupo tem quase R$ 58 milhões a receber. Em 2011 chegou a negociar a aquisição da empresa, mas o negócio não evoluiu. A expectativa de um ano duro para o setor calçadista levou a Ortopé, linha de tênis infantis do grupo, a acelerar o lançamento de produtos, diz o gerente de comunicação da marca, Fabio Schmitz. A estratégia já havia sido posta em prática em 2014, com um modelo que pode ser personalizado com figurinhas pelas crianças. O projeto mais robusto, porém, chegou em fevereiro às lojas para aproveitar o período de retorno às aulas e a Ortopé já desenvolve outro modelo para colocar no mercado no segundo semestre, também a tempo das compras após o recesso escolar, adianta o gerente. Os tênis lançados em fevereiro têm sistema de fechamento com borrachas coloridas e palmilha de alta absorção de impacto e foram desenvolvidos em quatro meses, dois a menos do que a média normal, com investimentos de quase R$ 1 milhão, incluindo verbas de propaganda. Conforme Schmitz, a expectativa é que o modelo venda 100 mil pares só no primeiro semestre, pelo menos cinco vezes mais do que o desempenho das linhas convencionais no mesmo intervalo de tempo. O novo produto também deve gerar uma receita de R$ 6,5 milhões até junho e puxar a expansão do faturamento da marca no acumulado de 2015, previsto entre R$ 90 milhões e R$ 100 milhões, ante R$ 80 milhões no ano passado, sendo 20% com exportações, diz o gerente. A produção total da Ortopé deve passar de 1,76 milhão para 2,1 milhões de pares neste ano. “Nosso plano é a 2020 com uma receita bruta de R$ 180 milhões”, afirma Schmitz.
Valor Econômico – SP