Da Best Buy até a B&Q, muitas marcas e modelos de negócios estrangeiros enfrentaram dificuldades na China. Mas talvez o conceito ocidental de varejo menos plausível, dentre todas elas tenha sido o que mais prosperou: as cafeterias estrangeiras. Apesar de uma história de milhares de anos de consumo de chá na China, as redes de cafeterias de Estados Unidos, Reino Unido e Coreia do Sul estão se expandindo aceleradamente e suas vendas estão crescendo mais depressa que quase qualquer outro segmento do varejo da China. Segundo dados da consultoria Euromonitor, as vendas das redes de cafeterias subiram de menos de 10 bilhões de iuans (US$ 1,6 bilhão) em 2008 para mais que o dobro no ano passado, e a previsão é de que voltem a dobrar até 2017.
A rede americana Starbucks praticamente criou a cultura do café na China a partir do zero, dizem analistas do varejo, destacando que o chá não é apenas a bebida mais popular do país ele está também profundamente arraigado à cultura chinesa. Desde que abriu sua primeira loja no continente, em 1999, a Starbucks se tornou uma das mais famosas marcas estrangeiras, ao promover suas lojas como lugares da moda para as pessoas encontrarem amigos e se aproximarem do estilo de vida ocidental. Seu sucesso chegou até a transformar o paladar chinês, uma vez que o consumo de café preparado na hora passou a subir também. O mercado também está se diversificando enquanto se expande. Nos últimos anos, as cafeterias de nicho, ao estilo coreano, brotaram, os cafés independentes se tornaram os lugares de ver e ser visto nas grandes cidades e todas, desde o McDonald’s e o KFC até as marcas de lojas de conveniência japonesas e taiwanesas, começaram a vender café preparado na hora. A Starbucks ficou indiferente a um ataque da emissora estatal CCTV, no ano passado, aos altos preços praticados na China continental, e limitouse a acelerar sua expansão.
A empresa pretende duplicar o atual número de lojas para mais de 3 mil até 2019, segundo informou no início de dezembro. A Costa Coffee, da Whitbread, também pretende dobrar suas lojas na China, para 700 até 2018, segundo o diretorexecutivo da Costa para a Ásia, Esteban Liang. A Maan Coffee, uma bemsucedida rede sulcoreana que combina café com restaurante casual, diz que pretende duplicar suas atuais 100 lojas no continente para 200 até o fim de 2015. “No futuro, a guerra entre as redes de cafeterias coreanas, americanas, britânicas, domésticas e as cafeterias da moda independentes… vai criar muita diversificação no mercado, que vai sustentar um amplo crescimento”, diz a analista de varejo Esther Lau, da empresa de pesquisa de mercado Mintel. Quanto mais cafeterias existirem, mais deverão proliferar no futuro, diz Frank Yin da UBC, a rede de cafeterias taiwanesa que foi uma das primeiras a ingressar no mercado da China continental.
“O surgimento de mais cafeterias está acostumando mais as pessoas com o café”, diz ele. A UBC foi uma das mais prejudicadas, em termos de participação de mercado, pelo avanço da Starbucks. A fatia de mercado da rede americana aumentou de 12% em 2008 para 31% em 2014, enquanto a da UBC caiu de 33% para 22%, segundo dados da Euromonitor. No mesmo período, o domínio do McDonald’s cresceu de quase nada para 6% do mercado, com a abertura de 800 de seus McCafes, instalados no espaço das lojas, enquanto a fatia da Costa aumentou de 1% para 5,5%. A KFC, da Yum Brands, cuja maioria das lojas não servia café na China até recentemente, começou a promover a bebida. “É claro que existe uma concorrência cada vez maior, mas, quando penso no Japão e na Coreia, na densidade de cafeterias que existem lá, nem sequer Xangai tem essa densidade”, diz Torsten Stocker, parceiro de varejo para a Grande China, da consultoria AT Kearney. Com o consumo de café na China continental totalizando apenas quatro xícaras por pessoa ao ano, ainda há muito espaço para crescer, diz Esther, da Mintel. (Tradução de Rachel Warszawski)
Valor Econômico – SP