17/12/2014 às 05h00
Por Juliana Mariz | Para o Valor, de São Paulo
Uma sorveteria estrangeira inaugurada com piquenique, uma nova praça com “food truck” e Wi-Fi; uma joalheria com fachada pintada pelo artista plástico Eduardo Kobra. Com esse caldeirão de novidades, a Oscar Freire se reposiciona e volta a tomar o posto de uma das ruas mais vibrantes da cidade.
A revitalização ocorre depois de muitos consumidores se questionarem sobre o futuro da via. Entre 2012 e 2013, marcas internacionais importantes, como Cartier, Ferragamo e Christian Dior, fecharam suas portas rumo aos shoppings. Mas muitas outras chegaram, o que acabou por revigorar o perfil da rua.
A Oscar Freire 2.0 se aproxima mais dos consumidores. O novo “mix” de lojas deixa de lado a ostentação e propõe a experiência. É uma rua “normcore”, para citarmos a tendência do momento que nada mais é do que uma volta “ao normal, ao simples”.
Segundo Fernando Fernandes, especialista em varejo e consumo da consultoria Strategy&, a Oscar Freire conseguiu se posicionar com originalidade frente aos novos shoppings de luxo da cidade. “A Oscar Freire se propõe a ser uma situação de compra diferente do que acontece no shopping. Se quer praticidade, vai em shopping. A rua sugere algo mais livre, sem compromisso. E praticidade não pauta, necessariamente, o comércio de luxo. Aproveitar o tempo, se encantar, ter tranquilidade faz mais sentido para os consumidores de luxo”, diz.
Comparável às ruas de luxo ao redor do mundo, como Champs-Élysées e Quinta Avenida, a Oscar Freire ganhou neste ano o prêmio “a melhor experiência de compras do Brasil”, dado no evento BRWEEK 2014, com base em um estudo feito pela consultoria Accenture, organizado pela revista “NoVarejo”.
A vibração vem também dos muitos eventos propostos pelas marcas ali instaladas. Não há um dia que não haja alguma comemoração, festa ou lançamento de coleção. “A rua resgata o prazer de andar ao ar livre, tomar um café, ir a um restaurante. É uma prática comum quando as pessoas viajam, agora querem repetir aqui. Tivemos inúmeros eventos, de exposição de carros antigos a oficinas infantis. Mas a maior repercussão foi o piquenique que fechou parte da rua”, afirma Rosangela Lyra, presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins.
A Chilli Beans ocupa, desde 2013, 700 m2 de um espaço formatado para abrigar festas e exibir a coleção de óculos e relógio, sendo 20% dela exclusiva para a “flagship”. “Uma loja na Oscar Freire, mais do que um ponto comercial, é uma ferramenta de posicionamento da marca, com a qual ela pode se comunicar com um público formador de opinião”, diz Caito Maia, fundador da Chilli Beans.
A intenção do empresário é transformar o endereço em uma “plataforma de conteúdo que vai muito além de um ponto de venda”. Entre as estantes com óculos e relógios, ele já colocou o ator Lima Duarte fazendo um monólogo, levou Peter Hook (ex-New Order) para discotecar e montou uma exposição com acervo pessoal do cantor Cazuza (1958-1990).
Já na altura do número 789 é natural ver aquelas grades que separam o público do palco em um show de rock. A marca John John, focada no público jovem, faz seu burburinho convidando, frequentemente, celebridades para promover lançamentos na loja. No meio da tarde as fãs já formam fila para tirar uma lasquinha do ídolo e acabam mudando a paisagem da rua.
Além dos eventos, a rua está propondo novas parcerias e modelos de varejo. É o caso da confeitaria Pati Piva, instalada dentro da nova loja da Le Lis Blanc. Para comemorar os 25 anos da grife, o endereço foi reinaugurado em agosto. São dois andares em 500 m2 que se tornaram um espaço convidativo para eventos e para as consumidoras viverem experiências. Já houve aula de arranjo floral para comemorar lançamento da coleção Casa e de dança marcando a apresentação da linha “fitness”.
Mesmo quem está na rua há mais tempo tratou de se renovar. Há um mês, a Frattina inaugurou seu novo espaço, projetado pelo arquiteto Roberto Migotto. A joalheria deixou um imóvel menor, na mesma rua, para ocupar um imponente espaço com vitrines internas para as marcas de relógios exclusivas, salas privativas para atendimento, bar e um jardim com “muro verde”, concebido pelo paisagista Gilberto Elkis, para eventos.
Bruno Waisman, terceira geração da família à frente da joalheria, sempre defendeu a permanência da empresa na Oscar Freire e maturou esse processo por dois anos. Inaugurada no centro da cidade, há 70 anos, a joalheria mudou-se para a rua Augusta em meados dos anos 70. No início dos anos 2000, migraram para a Oscar Freire.
O grande atrativo da nova “flagship” é a obra feita por Eduardo Kobra na fachada. Ele pintou a rua Felipe de Oliveira, que era no centro de São Paulo e deu lugar à uma estação de metrô, onde foi inaugurada a primeira Frattina. “Optamos por continuar aqui porque acreditamos na Oscar Freire e na região. A rua será como o SoHo. Há muitas intervenções artísticas começando a acontecer e pessoas vivendo a cidade como cidade”, afirma Waisman.
Valor Econômico – SP