16/12/2014
Embora muitos coloquem em dúvida a continuidade dos investimentos em recursos não convencionais diante das sucessivas quedas no preço do petróleo, o presidente da YPF, Miguel Galuccio, mantém o otimismo. Para ele, o potencial impressiona. Basta perseguir a viabilidade econômica, o que passa pelo aumento de escala. Para isso, é preciso atrair investimentos de empresas estrangeiras.
Valor: O senhor busca parcerias para ampliar investimentos em combustíveis não convencionais num momento em que o mundo é afetado pela queda nos preços do petróleo. Esses planos se voltam exclusivamente para o longo prazo?
Miguel Galuccio: A Argentina se converteu em importadora, principalmente de gás. Começamos a importar por volta de 2007 e o ritmo cresceu. O fundamental para nós é começar a produzir mais gás aqui. Conseguimos estancar a queda de produção. Agora precisamos baixar o volume de importação.
Valor: E por que é tão importante atrair outras companhias?
Galuccio: A Argentina precisa de mais escala. O êxito que os Estados Unidos conseguiram foi, em parte, devido à escala. Lá existem duas mil equipes de perfuração em terra. Nós temos 120.
Valor: E como se faz para convencer as empresas?
Galuccio: A Argentina tem vantagens, como água, profissionais, estrutura de serviços, tem 100 anos de história de petróleo. Temos a pegada da Patagônia, que nos permite fazer muitas coisas.
Valor: Mesmo diante da queda de preços do petróleo vale a pena manter projetos em depósitos como Vaca Muerta?
Galuccio: Para a Argentina, antes de tudo, é preciso ter uma visão de longo prazo. O país paga US$ 15 por milhão de BTU de gás importado e US$ 7,50 pelo novo gás produzido aqui. Quanto ao petróleo, primeiro temos que entender se essa queda é de longo prazo. Em Vaca Muerta, cada projeto envolve uma concessão de 35 anos. Nesse tempo os preços vão oscilar muito, não?. O que acontece hoje ou o que venha a acontecer nos próximos seis meses com os preços do petróleo para mim é uma foto. O importante é o filme completo dos 35 anos.
Valor: E o que vai acontecer durante esse filme?
Galuccio: Cada um tem a sua visão. A minha é que primeiro a demanda continuará forte porque sustenta-se basicamente em países em pleno desenvolvimento, sobretudo Índia e China. Para mim, esses países são um trem que saiu e não para mais.
Valor: Mas os países do Oriente Médio aumentaram a oferta…
Galuccio: Acho que pode haver flutuações. Há países como Líbia, por exemplo, onde a situação não é completamente estável para que tenhamos certeza de que essa oferta estará a 100% o tempo todo. Para mim, a mudança mais importante foi nos Estados Unidos. Contra todos os prognósticos, os EUA alcançaram um desenvolvimento importante, estão produzindo e têm a ambição de ser exportadores de combustíveis. Nesse contexto, temos a Opep, no meio, que tomou uma decisão um pouco diferente do que tomava antes e por meio da qual quis dizer: “Bem, vou proteger minha participação de mercado”. Sabemos que com o barril a US$ 70 pode-se fazer menos margem, mas os projetos voam. Muito abaixo disso temos um problema.
Valor: Nesse contexto, o que a YPF pode fazer?
Galuccio: Temos ainda muita capacidade de otimização, seja por tecnologia, conhecimento ou aprendizagem. Depois vem outra etapa que pode nos levar a baixar ainda mais os custos que é a escala. Vai ser a capacidade do país e a nossa capacidade de atrair mais investimentos e mais companhias que vai determinar como alcançar essa escala.
Valor Econômico – SP