28/11/2014 às 05h00
Por Agências internacionais
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu não agir para conter o excesso de oferta mundial de petróleo, resistindo aos pedidos da Venezuela de que o grupo precisava impedir a derrocada dos preços. Com isso, a cotação da commodity teve a sua maior queda em mais de três anos.
O grupo manteve o teto para sua produção coletiva em 30 milhões de barris por dia (b/d), segundo anunciou ontem o ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali Al-Naimi, depois de reunião dos 12 países da Opep em Viena. O barril de petróleo chegou a cair 8,4% em Londres, estendendo a desvalorização neste ano para 35%.
O mercado de petróleo passou a operar com tendência de queda depois de os EUA terem extraído este ano o maior volume do produto em mais de 30 anos e pelo fato de os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia não terem interrompido a produção. Embora o teto de produção da Opep seja o mesmo desde 2012, o grupo na verdade produziu quase 1 milhão de barris a mais em outubro, de acordo com dados reunidos pela Bloomberg.
“A Opep escolheu abdicar de seu papel de controlador [dos preços], deixando para o mercado decidir qual deve ser o preço do petróleo”, disse Harry Tchilinguirian, chefe de mercados de commodities do BNP Paribas, em Londres, por telefone. “Não será surpresa se o Brent começasse a testar os US$ 70.”
O tipo de petróleo Brent, referencial mundial, está a caminho de ter seu maior declínio anual desde 2008 na bolsa ICE Futures Europe, em Londres. Os contratos futuros de petróleo tiveram ontem a maior queda desde maio de 2011, negociados em baixa de US$ 4,85, a US$ 72,99, ontem.
A coroa norueguesa, moeda do maior produtor de petróleo da Europa Ocidental, caiu para a menor cotação em cinco anos em relação ao dólar. O dólar canadense desvalorizou-se pela primeira vez em três dias, e o rublo russo teve forte declínio. As ações das empresas de petróleo e gás tiveram as maiores baixas do dia nos mercados acionários mundiais. Os papéis da BP caíram 2,7% em Londres, e os da Royal Dutch Shell, 3,7%.
“A mudança é que a Arábia Saudita e a Opep não vão mais administrar o lado da oferta no mercado”, disse Michael Wittner, chefe de análises do mercado de petróleo do Société Générale, por e-mail. “Isso é tão importante que é difícil de destacar o quanto”.
A Opep cogitou cortar as cotas em 5%, de acordo com o ministro do Petróleo da Iraque, Adel Abdul Mahdi. Isso representaria cerca de 1,5 milhão de barris diários, com base no atual teto das cotas.
“Se você corta 5 milhões, isso naturalmente vai aumentar os preços”, disse Mahdi. “Ninguém discutiu um grande corte, talvez 5% tenha sido o máximo que algumas pessoas defenderam.”
A Opep se reune de novo em 5 de junho em Viena. A decisão de não mudar o teto havia sido antecipada por 58% dos analistas consultados em pesquisa da Bloomberg Intelligence nesta semana.
Ainda assim, a forte queda do petróleo mostrou que a decisão da Opep não havia sido totalmente precificada pelos mercados.
Tariq Zahir, analista da Tyche Capital Advisors, de Nova York, disse que a queda do petróleo pode continuar até abaixo de US$ 65 o barril nas próximas semanas, o que pode começar a prejudicar a produção de óleo de xisto nos EUA. “Acho que começamos a ter uma guerra de preços”, disse Zahir. “Seria meio louco tentar adivinhar um fundo do poço aqui.”
Outros analistas concordam que a decisão da Opep deixa o petróleo vulnerável a quedas muito maiores, à medida que uma oferta abundante de petróleo leve, de alta qualidade, chega ao mercado, boa parte vindo do xisto dos EUA. “No curto prazo, devido ao ceticismo dos mercados de que os níveis de preços recentes são baixos o bastante para frear substancialmente o crescimento da produção nos EUA, esperamos que os preços caiam abaixo de US$ 70 para o Brent o barril e menos ainda para o WTI [referência de preço nos EUA], diz uma análise do banco Barclays.
“Não estamos enviando nenhum sinal a ninguém, apenas tentamos ter um preço justo”, disse o secretário-geral da Opep, Abdalla El-Badri, em entrevista coletiva. El-Badri, que manterá o cargo até o fim de 2015, disse que o grupo vai cumprir o limite de produção.
O ministro do Petróleo do Irã, Bijan Namdar Zanganeh, disse a repórteres não estar “bravo” com a decisão. “[Mas] não estava dentro do que nós queríamos”.
A Venezuela, cujas reservas internacionais estão no nível mais baixo em 11 anos, pressionou por cortes na produção, segundo Rafael Ramírez, ministro do Petróleo da Venezuela. “Todos precisam fazer algum sacrifício”, disse Ramírez, que estima o excesso de oferta em 2 milhões de b/d. O Kuait calcula o excesso em 1,8 milhão de b/d.
Os ministros do Kuait, Emirados Árabes Unidos e Angola se disseram preocupados com o excesso de oferta. A Opep extraiu 30,97 milhões de b/d em outubro, superando o limite de produção pelo quinto mês seguido. O grupo estima a demanda mundial em 29,2 milhões de b/d em 2015.
O petróleo WTI, referencial nos EUA, chegou a cair 8,1%, estendendo a queda no ano para 30%.
Valor Econômico – SP