11/11/2014
Por Maria da Paz Trefaut | Para o Valor, de São Paulo
O mercado de alimentos orgânicos no Brasil deve crescer por volta de 35% neste ano e chegar a R$ 2 bilhões. Os dados são do Projeto Organics Brasil, desenvolvido pelo Instituto de Promoção do Desenvolvimento em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). O número ainda é muito pequeno comparado ao faturamento mundial do segmento, que foi de US$ 64 bilhões em 2013, liderado pelos Estados Unidos (US$ 35 bilhões), seguido pela Alemanha (US$ 7 bilhões) e Canadá (US$ 4,4 bilhões). No entanto, o potencial de crescimento tem animado pequenos empreendedores e estimulado as grandes redes a adotar uma política de vendas específica para esses produtos.
Um dos negócios que avança com essa demanda é o Organomix, supermercado on-line de produtos naturais e orgânicos. Após dois anos de operação no Rio, com um crescimento de 160%, o empreendimento estreou em São Paulo em julho deste ano, com a meta de que 75% da receita passa a vir da cidade. “Para viabilizar a ida a São Paulo montamos uma central de distribuição na capital e parcerias com produtores locais”, diz Leandro Dupin, diretor de marketing.
Com cerca de 4 mil itens listados, de diversos produtores, o Organomix vende frutas, verduras, embutidos, laticínios e até vinhos. Só não tem marca própria. A empresa nasceu da percepção do quanto era difícil encontrar um mix razoável de produtos orgânicos num mesmo lugar e de como seria cômodo receber tudo em casa. As entregas demoram 24 horas no Rio e 48 horas em São Paulo. No ano passado, o faturamento foi de R$ 1,2 milhão e a perspectiva é que em 2014 alcance R$ 3,6 milhões.
Com uma pequena loja no Leblon, o Sítio do Moinho é um dos pioneiros na alimentação orgânica e saudável no Rio. A empresa existe há vinte anos e está prestes a abrir uma segunda unidade na Barra da Tijuca até o fim do ano, que será uma mistura de mercado e restaurante. Hoje 70% do movimento está concentrado na entrega em domicílio seja por compras por telefone ou internet.
Fundado por Dick Thompson, aposentado do mercado financeiro, e sua mulher Ângela, o Sítio do Moinho tem produção própria de frutas e legumes. Os produtos são entregues diretamente do sítio em Itaipava, na região serrana de Petrópolis, para residências, restaurantes e para 15 unidades da rede Hortifruti, no Rio. No portfólio de 500 itens há carnes, grãos, sucos e conservas. A empresa conta com 100 funcionários.
A expansão do mercado de orgânicos abriu espaço até para negócios mais segmentados, como o Empório da Papinha, voltado para a alimentação infantil. Criada em São Paulo há cinco anos, a marca está hoje em 40 pontos de venda em 12 Estados, entre hortifrutis, lojas de produtos naturais, unidades próprias ou licenciadas.
O empreendimento foi ideia da ex-professora de educação física Maria Fernanda Rizzo. Adepta da alimentação saudável, ela queria transmitir seus preceitos para a filha pequena – hoje com sete anos -, e percebeu que o mercado não oferecia produtos orgânicos especiais para crianças. Começou a fazer papinhas em casa e, com o tempo, desenvolveu uma técnica de ultracongelamento capaz de garantir o sabor e as características nutricionais das preparações.
O nome infantil pegou, mas hoje a marca tem refeições completas também para adultos, além de 80 produtos para crianças a partir de seis meses de idade. No primeiro semestre, o faturamento do Empório da Papinha foi de R$ 1,1 milhão, e deve totalizar R$ 2 milhões até dezembro. O montante representa um crescimento de 250% em relação ao obtido no ano passado. Com planos de marcar presença em todas as capitais num futuro próximo, Maria Fernanda espera faturar R$ 5 milhões em 2015.
Grandes varejistas também apostam nos orgânicos, abrindo espaços específicos para vendê-lo em suas lojas e desenvolvendo linhas próprias de produtos. No Pão de Açúcar, o crescimento do segmento é de 30% ao ano. “Atualmente todas as lojas têm sortimentos da categoria. Há 650 produtos orgânicos cadastrados, sendo que na linha Taeq [marca própria do grupo] aproximadamente 260 itens são orgânicos”, informa Sandra Saboia, gerente comercial.
Desde 2011, a rede de supemercados Pão de Açúcar tem espaços próprios para a venda dos orgânicos. Os produtos também são vendidos pela internet. Sandra lembra que a venda dos orgânicos começou há 20 anos com poucos itens, na maioria frutas e legumes. “Hoje temos opções para todas as horas do dia: energéticos, macarrão instantâneo, balas e até óleo de soja.”
Na rede Walmart, as vendas do segmento crescem 10% este ano, em relação a 2013. O mesmo índice foi observado nos orgânicos da marca própria Sentir Bem, que incluem chás, biscoitos, granola, azeite e outros itens. Na opinião do diretor comercial do Walmart Brasil, Luciano Nunes, a tendência é ampliar a área de exposição dentro das lojas, mas o grande desafio é a redução de custo na cadeia, o que só acontecerá com o aumento da escala. “Há dez anos, o preço dos orgânicos era três vezes maior do que atualmente. Hoje, eles ainda custam 30% a mais em comparação aos produtos tradicionais”. Segundo Nunes, o número de fornecedores com certificação ainda é reduzido fora do cinturão de grandes metrópoles como São Paulo e Rio.
Já o grupo Carrefour comercializa 200 opções de orgânicos, entre os quais estão 115 itens da linha própria, Viver. Os mais vendidos são tomate, cenoura e alface. As frutas e legumes podem ser rastreados, de forma que o consumidor tenha acesso a detalhes da origem: da fazenda na qual foram produzidos à data da colheita. Essa é uma tendência na Europa, onde os supermercados informam nas gôndolas e de forma visível, a que distância os alimentos foram produzidos.
Valor Econômico – SP