11/11/2014
NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças, a cada 14 dias, nesta coluna.
Abri uma agencia focada no chamado “middle market”. Não vou dizer o nome aqui para não ser acusado de fazer publicidade. Publicidade? Eu?
Um dos focos da agência são empresas médias que querem ser grandes. Gente que fatura 100 milhões e quer faturar 1 bilhão. Gente que emprega mil e quer empregar 5 mil. Gente que está crescendo e criando empregos, riqueza e caminhos. Gente que tem sonho grande.
Crescer é destino. Fazemos isso antes mesmo de nascer. O ser humano é o paradigma do crescimento. Do óvulo a Steve Jobs. Ninguém deseja ser “Alexandre, o Médio”.
Eu amo meus conterrâneos Jorge Amado e Dorival Caymmi, mas não dá para ser Gabriela na vida, nem na pessoa física nem na jurídica. Nada de eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim. A marca do tempo é a mudança. A marca do sucesso é a mudança. Mudar é crescer.
As empresas, como as pessoas e os países, precisam mudar para crescer. Mas a transição do médio para o grande pode ser amedrontadora num ambiente de negócios tão difícil quanto o brasileiro, com essa carga pesada e caótica de tributos e uma teia burocrática e normativa que podem dar vontade de desistir.
Mas não desista. O sonho gran- de é a saída para esses momentos difíceis. Ele é a causa capaz de mobilizar seu time e derrotar seus pesadelos.
É o sonho do chinês que sustenta o desenvolvimento chinês. É o sonho americano que inspira o sonho dos americanos. A aspiração pessoal do chinês e do americano conectou-se de alguma forma à aspiração nacional desses países, e todos saem ganhando.
O Brasil precisa formular esse sonho grande e essa conexão. As empresas são excelentes formuladoras e conectoras. Há muito a fazer da porteira para fora, mas também da porteira para dentro.
Deus quando criou o Brasil não pensou pequeno. Grandeza é destino. Nosso país já criou algumas das maiores e melhores empre- sas do mundo, que dão orgulho a qualquer país. Ambev, Itaú, Bradesco, Embraer e Natura são exemplos de nossa capacidade de crescer e de criar marcas. São provas do que podemos.
Mas é preciso sonho grande e atitude. Atitude de criar uma causa e também uma marca. O vinho brasileiro melhorou muito, mas, se o consumidor não conhecer marcas fortes de vinhos nacionais, eles terão menos chance de competir e menos fôlego para crescer. As empresas precisam de marcas para ganhar mercado e valor. Construção de marca também significa construção de preço. Preço é receita, e receita é a comida das empresas.
Eu sou otimista com o Brasil desde o tempo em que não havia motivo para ser otimista com o Brasil. E desde então já avançamos muito. Temos hoje um mercado consumidor enorme, um dos maiores do mundo, com dezenas de milhões de novos entrantes a demandar produtos e serviços em mais quantidade e com mais qualidade. Temos esse mercado cativo e reservas e forças produtivas que, juntos, formam base sólida para a retomada da confiança e do crescimento.
O caminho do médio para o grande é o caminho do Brasil –de um país de renda média para um país de renda alta, de um país de desenvolvimento médio para um de alto desenvolvimento.
Para seguir esse crescimento, o Brasil precisa partir das commodities para o valor agregado. E valor agregado é marketing combinado com inovação tecnológica mais tudo aquilo que se encaixa na sua cadeia de valor, com benefícios tangíveis e intangíveis como o marketing.
O que está aparecendo de empresa nova nesse país é uma verdadeira loucura. Elas precisam de culturas e marcas fortes, e me dá enorme prazer e inspiração a esta altura da minha vida profissional construir com elas esse caminho.
O Brasil e boa parte do mundo, desenvolvido e emergente, passam por fase ainda frágil de recuperação econômica. Este é um momento importante diante do qual não se pode fraquejar nem perder de vista as oportunidades que nosso país e o mercado global apresentam.
Quem pensar pequeno vai se apequenar.
Folha de S. Paulo – SP