07/11/2014 às 05h00
Por Vinícius Pinheiro | De São Paulo
O Brasil deve ser o destino de até dois terços dos recursos do novo fundo de private equity da Advent International. A firma americana confirmou ontem a captação de US$ 2,1 bilhões – ou quase R$ 5,4 bilhões pelo câmbio de ontem – para investimentos na compra de participações em empresas na América Latina. A informação sobre o fechamento do sexto fundo da Advent para a região foi antecipada pelo Valor na segunda-feira.
A expectativa de uma maior participação de empresas brasileiras no portfólio representa uma “volta” da Advent, que em 2011, no auge da euforia dos investidores, afirmou que o país estava “caro”. “Aproveitamos esse período para vender empresas no Brasil e comprar em países como a Colômbia”, afirma Patrice Etlin, principal executivo da Advent no Brasil.
A gestora voltou a investir no país no fim do ano passado, ainda com o fundo anterior. Desde dezembro de 2013, adquiriu participações na camisaria Dudalina, na empresa de parques Cataratas do Iguaçu e na farmacêutica United Medical – esta última por meio da empresa colombiana Biotoscana. “Fomos o fundo mais ativo no Brasil neste ano”, diz Etlin. Os aportes no país devem representar metade do fundo captado em 2010, com patrimônio de US$ 1,65 bilhão.
Com presença no país desde 1997, a Advent foi uma das primeiras firmas internacionais de private equity a abrir um escritório local. O processo de captação levou menos de seis meses e contou com uma demanda de aproximadamente o dobro do valor captado, segundo o executivo. Os recursos foram 100% levantados no exterior, sendo quase a metade nos Estados Unidos e 63% de fundos de pensão e fundos soberanos.
Etlin afirma que o investidor de private equity possui um perfil diferente do tradicional, que reagiu mal ao desempenho fraco da economia nos últimos anos. “Eles entendem que o Brasil terá anos bons e ruins e que há deficiências, mas veem a manutenção de questões estruturais como a segurança jurídica e a estabilidade institucional”, diz.
O executivo avalia, porém, que o cenário para captações de fundos de private equity é “desafiador”. “A tendência é que os investidores concentrem os recursos em fundos que contem com histórico de resultados na região”, diz. Com isso, ele avalia que a nova rodada de captação deve ser menor que a anterior, quando mais de US$ 12 bilhões foram destinados a investimentos no Brasil e América Latina.
A Advent não revela dados de retorno. Mas, pelo menos em negócios recentes, pôde mostrar um bom cartão de visitas. Os investimentos na Cetip, vendida em 2011, e na rede de ensino Kroton, da qual o fundo saiu no ano passado após a fusão com a Anhanguera, renderam quase dez vezes o capital investido, segundo cálculos de mercado.
No novo fundo, a Advent pretende adquirir participações em negócios que apresentem crescimento mesmo em um cenário macroeconômico adverso. “Entendemos que hoje existem boas oportunidades de investimento no país”, afirma, ao destacar segmentos como logística, consumo de nicho e serviços financeiros. A gestora tem como estratégia adquirir posições de controle nas empresas em que investe.
Antes de dar início à nova rodada de investimentos, a gestora deve finalizar os aportes do fundo anterior. “Estamos em negociações adiantadas com três empresas, no México, Colômbia e Brasil”, diz Etlin.
Valor Econômico – SP