05/11/2014
Por Ben Fritz | The Wall Street Journal
A Walt Disney conseguiu algo que muitos em Hollywood – e no Vale do Silício – estão tentando há anos: fazer com que a Apple e o Google atuem juntos.
Em um acordo sem precedentes para compartilhar os direitos de conteúdo digital, as duas gigantes tecnológicas permitirão aos consumidores que comprarem um filme da Disney de qualquer uma das duas lojas on-line assisti-los em smartphones, tablets e outros dispositivos digitais que operem com o sistema operacional da rival.
Desde ontem, todos que se registraram no aplicativo Disney Movies Anywhere e compraram, por exemplo, uma cópia de “Frozen” na loja do Google Play em um tablet Android podem, mais tarde, assistir o filme na Apple TV por meio da sua biblioteca do iTunes.
Até agora, a Apple restringia filmes, shows de TV e outros conteúdos apenas para a família de dispositivos iOS, junto com os computadores Mac ou Windows. O Google possuía restrições similares em sua loja digital e em dispositivos que operam com o Android.
Tal estratégia pode ajudar a deixar os consumidores presos a apenas uma empresa de hardware, mas os estúdios de Hollywood sempre argumentaram que isso faz com que as pessoas fiquem receosas em comprar filmes digitais porque elas temem perder sua coleção se comprarem um dispositivo diferente. Já os DVDs são lidos por qualquer aparelho, independentemente do fabricante.
Tanto a Apple como o Google pagarão a taxa de atacado para a Disney por cada cópia do filme que venderem e tiverem lucro, independentemente do dispositivo em que o consumidor irá assisti-lo.
“Isso é para deixar as pessoas confortáveis em montar sua coleção de filmes digitais”, diz Jamie Voris, diretor de tecnologia do Walt Disney Studios. “A Disney vai protegê-las e assegurar que elas vejam seus filmes onde quiserem.”
O acordo é especialmente notável porque todo grande estúdio de Hollywood, com exceção da Disney, é parte de uma coalizão chamada Ultraviolet que, como o Disney Movies Anywhere, foi criada para que as pessoas construam sua videoteca on-line sem se preocupar com restrições a respeito dos dispositivos que podem usar.
A Ultraviolet foi lançada no fim de 2011, mais de dois anos antes da Disney Movies Anywhere. Mesmo assim, os defensores da Ultraviolet, entre eles a Warner Bros., da Time Warner, e a Sony Pictures, da Sony Corp., foram incapazes de persuadir a Apple a se unir a eles. Embora sua fatia de mercado esteja encolhendo, a Apple ainda controla 61% das vendas de filmes on-line, segundo a empresa de pesquisa IHS.
O Google, que também não faz parte da Ultraviolet, foi responsável por 7% das vendas de filmes on-line nos Estados Unidos no primeiro semestre deste ano.
“A abordagem utilizada pela Ultraviolet é ligeiramente diferente da usada pela Disney Movies Anywhere”, diz Jonathan Zepp, chefe de parcerias do Google Play Movies. Segundo ele, a Disney foi a primeira empresa que o Google Play Movies considerou que estava no caminho certo, por isso decidiu seguir adiante com ela.
Questionado se outros filmes de estúdios [diferentes] devem se tornar disponíveis em formato compartilhado entre os dispositivos do Google e da Apple, Zepp disse que a proposta é “filosoficamente interessante”. Uma porta-voz da Apple não quis comentar.
A Disney e a Apple são intimamente ligadas corporativamente desde que a gigante de mídia comprou, em 2006, a Pixar Animation Studios, que na época era controlada por Steve Jobs, então presidente da Apple. O presidente da Disney, Robert Iger, faz parte do conselho da Apple e o fundo fiduciário controlado pela viúva de Jobs, Laurene Powell Jobs, é o maior acionista da Disney, com uma fatia de 7,5%.
Mark Teitell, gerente- geral da Ultraviolet, ressaltou que os aplicativos das empresas que fazem parte da coalizão, incluindo o Vudu, do Walmart, podem ser utilizados nos dispositivos da Apple e nos que rodam o Android. “Nós costumamos olhar para o que um consumidor pode fazer com filmes de seis grandes estúdios”, diz Teitell.
Com a Apple e o Google, o Disney Movies Anywhere agora trabalha com varejistas que representam cerca de 70% das vendas de filmes digitais. A Ultraviolet trabalha com lojas que representam menos que 12%.
A Amazon.com, que obteve uma fatia de quase 9% das vendas de filmes digitais no primeiro semestre deste ano, está em negociações com vários estudos para se unir à Ultraviolet, revelou no mês passado o ‘The Wall Street Journal’.
Embora lance menos filmes que outros grandes estúdios, a Disney é uma potência no mercado de vídeo doméstico porque seus títulos de entretenimento familiar são comprados com mais frequência para que as crianças pequenas possam assisti-los várias vezes.
A Disney Movies Anywhere foi lançada em fevereiro, mas, no início, trabalhava só com o iTunes da Apple. Uma versão do aplicativo para dispositivos Android foi lançada ontem. Apesar da ampliação dos direitos de uso do acordo da Disney, o resultado econômico das vendas de filmes digitais deve permanecer o mesmo, segundo uma pessoa a par do assunto.
Valor Econômico – SP