04/11/2014
Por Adriana Meyge | De São Paulo
A venda de água mineral cresce dois dígitos ao ano no Brasil há pelo menos cinco anos. Em 2013, foram produzidos 11,6 bilhões de litros da bebida, 14,5% a mais do que em 2012, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam). Para este ano, a entidade previa um volume 20% maior do que no ano passado, devido ao impacto da Copa do Mundo. No entanto, as temperaturas mais altas e o inverno seco fizeram a projeção subir para 30%.
De acordo com Carlos Alberto Lancia, presidente da Abinam, a crise hídrica no Estado de São Paulo e em cidades de outros Estados teve pouco impacto no aumento da demanda – o calor é o principal impulsionador. A exceção é a cidade de Itu (SP), onde há racionamento de água desde fevereiro, com alta de 50% nas vendas na comparação com o ano passado. Há grande procura por galões de 20 litros no município, já que parte da população está usando a água mineral para outras finalidades, além de beber.
Na capital paulista, os casos de pessoas comprando água mineral para substituir a água da torneira ou para estocar são pontuais, segundo César Dib, diretor da engarrafadora Lindoya Verão. “Tem gente com atitude exagerada, mas esse não é um comportamento padrão, porque ainda não há um racionamento geral”.
As redes de supermercados têm registrado uma procura significativamente maior que a do ano passado. As lojas do Extra e do Pão de Açúcar no país registraram aumento de 37% nas vendas de água mineral na primeira quinzena de outubro, em relação a igual período do ano anterior – a expansão foi puxada pelo Sudeste. Na rede Walmart, o crescimento acumulado de janeiro até a primeira quinzena de outubro foi de 50%.
O movimento faz engarrafadoras como a Bioleve, de Lindóia (SP), elevarem as estimativas de faturamento para 2014. “No início do ano, projetávamos um crescimento 15% a 18%. Agora estimamos um acréscimo de 20% a 25%”, afirma Flávio Aragão, presidente da Bioleve. A Lindoya Verão, com fontes na Serra da Mantiqueira, cresceu 14% no ano passado e este ano a alta está em torno de 20%, segundo Dib.
O grupo cearense Edson Queiroz, dono das marcas Minalba e Indaiá, vendeu 12% mais em outubro, na comparação com igual mês do ano passado. Em novembro, o crescimento deve ser maior. Segundo o superintendente de águas da empresa, Antonio Vidal, o consumo dobra entre novembro e fevereiro em relação a outras épocas do ano. O grupo é o segundo colocado do mercado, após a Coca-Cola, dona da marca Crystal.
Executivos do setor afirmam que há casos em que grandes empresas não conseguem atender a encomendas com a urgência esperada, mas que a demanda é suprida por outras marcas.
O consumo per capita de água mineral vem aumentando ano a ano no Brasil, impulsionado pelo aumento da renda e por mudanças dos hábitos dos consumidores. Atualmente, o brasileiro consome 55 litros ao ano. Cada europeu consome 2,5 vezes mais que isso, por isso o setor vê grande potencial no mercado. A indústria está investindo em novas plantas e equipamentos e na aquisição de fontes, segundo os entrevistados.
Considerando um cenário de desabastecimento em diversas cidades, inclusive a capital paulista, Lancia, da Abinam, diz que não faltaria água mineral se a população decidisse usar o produto para beber e cozinhar. Numa situação como essa, ele estima que a demanda cresceria 50%, de forma semelhante ao que ocorreu em Itu. Lancia, que é geólogo, diz que a água mineral não sofre influência da água superficial da chuva e que não há risco para as fontes.
Os envasadores de água mineral ajustaram o preço do produto em torno de 10% em setembro, segundo a Abinam. O aumento não está relacionado ao aumento das vendas, já que a capacidade instalada do setor é de três vezes a demanda. O aumento de preço foi balizado pelo dissídio coletiva da categoria, além do aumento do custo de energia e de embalagem, esta precificada em dólar. (Colaborou Luciana Marinelli)
Valor Econômico – SP