03/11/2014
Por Ana Paula Ragazzi | Do Rio
As diferenças dos resultados dos negócios de Lojas Americanas e de sua controlada B2W fazem o mercado debater a possibilidade de Americanas realizar uma operação para permitir que os investidores apliquem apenas no seu negócio. Hoje isso não é possível, uma vez que quem compra uma ação das Lojas Americanas necessariamente está exposto à B2W, braço de comércio eletrônico. O Valor apurou que a Americanas já conversa sobre a possibilidade de fazer essa operação com alguns agentes de mercado.
A tese é que a Americanas poderia fazer uma operação semelhante à que levou à bolsa, em 2006, São Carlos Empreendimentos, que concentrava inicialmente os ativos imobiliários da Lojas Americanas e hoje já diversificou seus negócios. Procuradas, Americanas e B2W não se pronunciaram.
Como a B2W já é listada, o que pode ser feito é um cálculo de quanto a B2W representa da ação da controladora. Os acionistas de Americanas então receberiam os papéis da B2W e se não desejarem mais exposição a essa empresa podem vendê-los na bolsa.
O analista Tobias Stingelin, do Credit Suisse, escreveu sobre essa ideia em relatório na semana passada. Ele avalia que a B2W permanece sendo um ativo estratégico para a Americanas, no entanto, no momento, ela também “trava” o valor da operação da controladora no mercado.
Stingelin ressalta que não está exatamente defendendo uma separação dos ativos, mas avalia que se isso ocorrer, as duas companhias terão condições de manter as mesmas sinergias.
O ponto destacado por Stingelin é que, nos últimos anos, os resultados de ambas têm sido distintos. Em particular, o que preocupa no negócio virtual é a geração de caixa da B2W, mais fraca do que a da Americanas, além da diferença dos perfis de crescimento esperado para ambas. Por essa razão, muitos investidores prefeririam investir apenas em Americanas, ou seja, no varejo de lojas físicas.
Uma forma muito usada pelo mercado para reduzir a exposição ao negócio virtual era comprar a ação da Americanas e ficar vendido (“apostando na queda”) de B2W. Porém essa estratégia sempre foi sujeita a fortes oscilações e, neste ano, ficou inviável, porque, graças à chegada de um novo sócio, e a aumento de capital, as ações da B2W acumulam alta de 105% no ano.
Stingelin fez um exercício sobre a precificação das empresas. Ele utilizou o preço de mercado atual de B2W e considerou que a Americanas tivesse apenas ações preferenciais; as ordinárias, concentradas pelo controlador, têm liquidez muito baixa.
Conforme as estimativas do analista, Lojas Americanas hoje é negociada, a múltiplo que relaciona preço e lucro, em 33,2 vezes para 2014 e 27,1 vezes para 2015, o “que claramente não parece barato”. Ao retirar a operação eletrônica da conta, o analista do Credit Suisse chega a 22,5 vezes para este ano e 21,4 vezes para 2015. “Embora não se possa dizer que o papel seria uma barganha, continuamos a acreditar que não há nenhuma outra varejista com uma perspectiva de crescimento tão forte no Brasil nos próximos anos”, disse em relatório.
Stingelin observa que a B2W é um ativo estratégico para a Americanas e contribuiu para rejuvenescer sua marca. Apesar de acreditar que a B2W pode até mesmo tornar-se maior do que a Americanas no futuro, e do fato de algumas categorias de produtos estarem claramente crescendo mais rápido nas vendas virtuais, o analista acredita que o negócio da Americanas é um dos menos ameaçados pela canibalização do e-commerce dentro varejo. Atualmente, por exemplo, a sobreposição nas vendas entre as diferentes empresas é de apenas 15%. “Não acreditamos que isso vai mudar tão drasticamente”, diz o relatório. O texto cita também que a gestão da empresa já afirmou que o controle das duas empresas é importante na obtenção de informações estratégicas.
Valor Econômico – SP