03/11/2014
Por Marina Falcão | De Fortaleza
Maior empresa de shopping centers do Nordeste, o grupo pernambucano JCPM inaugurou na semana passada seu primeiro empreendimento em Fortaleza e se prepara para, neste mê de novembro, começar a levantar o segundo. Os dois shoppings somam investimentos de R$ 1,3 bilhão.
Para João Carlos Paes Mendonça, presidente do grupo, as grandes capitais já estão “bem servidas”, mas o mercado, mesmo com a economia estagnada, ainda reserva oportunidades.O empresário lembrou que muitas redes varejistas ficaram preocupadas em investir em expansão neste ano. Dos 43 shoppings programados no país para 2014, apenas 24 abriram as portas, o que demonstra certa dificuldade em atrair lojistas, afirma Mendonça. Por outro lado, a economia desaquecida pode representar boas oportunidades de investimento.
“A economia está bem. O [ministro da Fazendo, Guido] Mantega não disse que foi por isso que Dilma venceu as eleições?”, diz, em tom de ironia, e balançando a cabeça em sinal negativo. Ele observa que 2015 será ano de ajuste e é prematuro ser otimista ou pessimista.
Em Fortaleza, de um ano para cá, outros dois shoppings de menor porte foram abertos: o Shopping Parangaba, que tem como sócia a Aliansce, e o North Shopping Jóquei, da Ancar Ivanhoe e SG Participações. A capital cearense abriga hoje 15 shoppings centers.
O novo empreendimento da JCPM abriu as portas na quarta-feira com 201 lojas funcionando e previsão de encerrar o ano com mais 280 em operação. Com investimento de R$ 850 milhões – dos quais R$ 350 financiados pelo BNDES e o restante fruto de recursos próprios – o RioMar Fortaleza inclui 15 lojas-âncora, 10 salas de cinema e teatro para 900 pessoas. Além das 29 operações da praça de alimentação, o shopping conta ainda com mais 11 restaurantes.
O empreendimento traz lojas inéditas a Fortaleza como a Zara Home, da espanhola Inditex, e a primeira loja da rede de moda americana da Gap no Nordeste.
Com perfil mais modesto, o segundo shopping do grupo na cidade, o RioMar Presidente Kennedy vai absorver R$ 480 milhões. Desse total, R$ 260 milhões serão financiados pelo Banco do Nordeste (BNB). A construção começa em cerca de 15 dias, com previsão de ser concluída em dois anos.
Catorze anos após vender o controle da rede de supermercados Bompreço para o Walmart, Paes Mendonça ainda diz que “está shopping center, mas é varejista”. O grupo, que também atua no setor de comunicação e no mercado imobiliário, se beneficiou do acelerado crescimento da economia do Nordeste nos últimos anos. Hoje, o portfólio JCPM inclui hoje 12 empreendimentos, dos quais cinco no Recife, e quase 600 mil metros quadrados de área bruta locável própria. É o quarto maior grupo de shoppings do país.
Pode-se dizer que Paes Mendonça, aos 76 anos, é um entusiasta do Nordeste. “Orgulho de ser nordestino” é o slogan do JCPM desde a época que comandava o Bompreço. Mas é pragmático. “Enquanto o Nordeste não dobrar de tamanho, não vamos para canto nenhum”, diz ele.
O grupo familiar, de capital fechado, não consolida todo os ganhos em um único balanço e é bastante reservado quanto a seus dados financeiros. No entanto, a maior parte dos negócios está refletida nas demonstrações financeiras da JCPM Investimentos e Participações S.A., uma das empresas do grupo.
O balanço aponta um lucro de R$ 162,6 milhões em 2013, alta de 22,3% em relação a 2012. Na mesma comparação, a receita líquida subiu 43,8%, para R$ 407 milhões. “Não está incluído nessa conta os nossos investimentos na pessoa física”, diz o empresário. O balanço da JCPM Participações mostra ainda um dívida líquida (descontando as disponibilidades de caixa) de R$ 655,5 milhões, o equivalente pouco mais de 2 vezes e meia o seu resultado operacional.
Paes Mendonça diz que é possível ganhar mais dinheiro em São Paulo com shoppings. Ele refuta a ideia de que o setor esteja “saturado” na maior capital do país, mas ainda assim pretende priorizar o Nordeste. “O Brasil são cinco países, não dá para operar bem em todas as regiões”, diz.
Em São Paulo, o JCPM atua como investidor minoritário. É dono de um fatia de 20% do shopping Villa-Lobos e de 25% do Granja Viana. Paes Mendonça não descarta a possibilidade de investir mais na cidade. “Não compramos ainda porque não era o momento de comprar”.
Valor Econômico – SP