31/10/2014 às 05h00
Por Jacilio Saraiva | De São Paulo
Pense grande, comece pequeno e cresça rápido. A orientação serviu como base para a estratégia de Luiz Mattar, CEO da Tivit, da área de tecnologia, e Miguel Krigsner, fundador do Grupo Boticário, do setor de cosméticos. As duas empresas começaram como operações de porte reduzido e ganharam musculatura das grandes corporações. A Tivit deve faturar R$ 2,3 bilhões este ano, enquanto a marca de produtos de beleza, fundada em 1977, já coleciona 3,8 mil pontos de venda em 1,7 mil municípios. Mattar e Krigsner foram palestrantes convidados da Maratona Valor PME 2014-Líderes Inspiradores, realizada este mês, em São Paulo.
“O que é fundamental no esporte pode ser levado para a vida profissional: coragem, convicção e dedicação”, diz o ex-campeão de tênis Luiz Mattar, que levou as lições aprendidas nas quadras para a mesa de trabalho. Antes de trocar o uniforme de esportista pelo terno e gravata, atuou dez anos como tenista profissional. Em 1989, chegou à 29ª posição no ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais, na sigla em inglês), a quinta melhor classificação alcançada por um brasileiro. Para ele, mostrar confiança ajuda nas competições e no empreendedorismo. “Se você não confiar que a sua empresa pode dar certo, os competidores também não acreditarão no seu negócio”, diz.
Quando percebeu que a carreira junto às raquetes estava terminando, Mattar fundou em 1989 uma companhia de call center para o atendimento de lojas virtuais, a Telefutura, que iria se transformar na atual Tivit, de serviços de tecnologia. “Aproveitei uma oportunidade do mercado, que vivia o ‘boom’ da internet e a privatização do setor de telecomunicações”, lembra. Em cinco anos de vida, a empresa atingiu um faturamento de R$ 100 milhões. Em 2014, a Tivit, com 25 mil funcionários, deve faturar R$ 2,3 bilhões.
Segundo o CEO, a escolha dos parceiros e a aquisição de organizações com expertises complementares também ajudaram no crescimento do empreendimento. A Votorantim Novos Negócios, braço do grupo Votorantim, foi sócia do empresário durante dez anos, por meio de compra de participações. “A chegada deles trouxe um ‘carimbo’ de credibilidade”, lembra. Ao mesmo tempo, a Tivit redesenhou sua missão e resolveu ser uma firma essencial para os clientes. “Passamos a atender projetos de missão crítica e funcionar 24×7 (24 horas por dia, sete dias por semana)”.
Depois da fase de crescimento, para consolidar a operação, Mattar adquiriu outras companhias, como a Softway, de soluções de teleatendimento, e a OpenConcept, especializada em sistemas transacionais para bancos. A Tivit estreou na bolsa paulista em setembro de 2009 e, no ano seguinte, o grupo de investimentos Apax Partners fechou um acordo para comprar o controle da companhia por R$ 873,8 milhões – mas com o ex-tenista no comando. “Agora, nosso foco são mercados que crescem mais do que o Brasil e têm baixa penetração de tecnologia, como a região Nordeste e países como o Peru e o Chile.”
Na escalada da empresa, Mattar afirma que não se descuidou da gestão de pessoal. “Gosto de trabalhar com pessoas melhores do que eu e que forneçam soluções rápidas”, diz. “É como no tênis. Quando treinava com jogadores com desempenho baixo, meu nível também caía.” O empresário também apostou na descentralização de decisões e na cultura do “olho do dono”. “É isso que vai fazer com que a organização vença a concorrência e garanta um bom relacionamento com clientes.”
Para Miguel Krigsner, fundador e presidente do conselho de administração do Grupo Boticário, escolher um negócio que desperte paixão pode definir o sucesso de um empresário. A história dele começou com uma farmácia de manipulação no centro de Curitiba (PR), nos anos 1970. “Apesar de ter estudado bioquímica, gostava de perfumes e vidros coloridos”, diz. Aos poucos, o ramo de medicamentos deu espaço à venda de potes de cremes que ele fazia em uma batedeira de bolo, presente que a irmã recebeu quando casou.
Com o aumento da demanda, abriu a primeira fábrica em 1982, em São José dos Pinhais (PR). Oito anos depois do início da operação, a rede O Boticário já contava com 500 lojas no Brasil. “É necessário ter paciência, mas deve-se assumir riscos, com uma visão de negócios”, ensina. Ele lembra que, no início, mesmo sem produção, teve de comprar dois caminhões carregados de frascos de perfume do Grupo Sílvio Santos. “O vendedor disse: ‘ou leva tudo ou não vendo’. Assumi o risco e aproveitei a oportunidade para evoluir.” Atualmente, a planta paranaense tem capacidade instalada de 315 milhões de itens, ao ano.
Em 2010, Krigsner criou o Grupo Boticário, guarda-chuva de três novas marcas – Eudora, quem disse, berenice? e The Beauty Box – além daquela que batiza a empresa. O conglomerado reúne 3,8 mil lojas em 1,7 mil cidades e mais dois canais de venda: catálogo e e-commerce. “Não há ‘canabalização’ de negócios”, diz.
Valor Econômico – SP