17/10/2014 às 05h00
Por Ana Conceição | De São Paulo
A percepção do consumidor a respeito de sua situação financeira melhorou no terceiro trimestre, de acordo com levantamento realizado pela Boa Vista SCPC. A pesquisa “Perfil do Inadimplente” mostra que para 93% dos entrevistados, a situação financeira vai melhorar nos próximos meses.
O levantamento mostra que caiu, de 22% para 16%, a fatia daquelas que dizem que a situação financeira piorou, enquanto a parcela dos que acreditam que melhorou teve ligeira alta de 40% para 41%, na comparação com o segundo trimestre. No mesmo período, aqueles que têm mais de 50% da renda comprometida com dívidas cedeu de 26% para 19%. Quem tem menos de 25% da renda comprometida aumentou de 41% para 48%.
Um dado interessante da pesquisa é que, apesar da desaceleração do mercado de trabalho notada nos últimos meses, a parcela daqueles que atribuem a inadimplência ao desemprego está menor do que no ano passado, apesar de ter se mantido estável em 29% entre o segundo e o terceiro trimestres e de ser a principal causa do atraso no pagamento das dívidas, seguida pelo descontrole financeiro (20%). O desemprego foi citado por 38% no segundo trimestre de 2012 (pico recente), por exemplo, e por 34% no mesmo período do ano passado.
Entre as formas de pagamento que lideram a inadimplência seguem cartão de crédito e boleto bancário, somando 60% das respostas.
Para Dorival Dourado, presidente da Boa Vista, o cenário mostrado pela pesquisa é positivo. “Há certa estabilidade nos indicadores de inadimplência. O mercado está mais seletivo na concessão de crédito, mas o consumidor também está mais consciente de sua capacidade de contrair novas dívidas”, afirma. Ele ressalta a queda no endividamento das famílias, cujos orçamentos estão ficando mais saudáveis.
Flavio Calife, economista-chefe da Boa Vista, chama atenção para a melhora do perfil do devedor. “A qualidade do crédito ainda é boa, porque há mais consignado, mais imobiliário. Isso tem contribuído para conter a inadimplência”, diz.
Apesar da expectativa de desaceleração ainda maior no mercado de trabalho, com aumentos reais menores de salários e uma ligeira alta da taxa de desemprego, Calife não vê um cenário de aumento expressivo da inadimplência nos meses à frente e em 2015. “A seletividade na concessão de crédito vai continuar, embora esperemos uma expansão maior”.
Nas contas da Boa Vista, a inadimplência do consumidor aumentou 2,4% até setembro, enquanto no mesmo período do ano passado havia queda de 0,9%. No último dado divulgado pelo Banco Central, até agosto, a inadimplência das pessoas físicas estava em 4,4%. O indicador de risco de crédito da Boa Vista, que procura antecipar o dado do BC, está estável e deve se manter assim até o resto de 2014, de acordo com Calife.
A pesquisa sobre o perfil do inadimplente da Boa Vista também constatou que 100% dos consumidores pretendem pagar suas dívidas atrasadas, 78% totalmente, 22% em parte. No mesmo período de 2013, esses percentuais eram de 75% e 25%. Além disso, 66% dos consumidores querem quitá-las em até 30 dias. “Melhorou percepção de pagamento. Ninguém declarou não ter condições de pagar”, afirmou Calife.
Valor Econômico – SP